Aqui no Distrito Federal não é preciso muitas explicações acerca do que
significa e do que significou a conhecida ação policial chamada de
“Caixa de Pandora”. Está vivo na memória da população o mega esquema de
corrupção que abateu diversos políticosno DF.
Alguns deles, flagrados em áudio e vídeo pilhando os cofres públicos e
abarrotando cuecas, meias, bolsos e foram cassados, outros caíram no
ostracismo, mas, para vergonha de toda gente de bem, alguns continuam
ativos e influentes nos meandros do poder local.
Alguns, pasmem, ainda ostentam mandatos eletivos e muita influência no
atual governo local, que, na campanha, se intitulou como sendo o “novo
caminho”. Três tapas na cara da população respondem pelos nomes Aylton
Gomes, Benedito Domingos e Roney Nemer. Foram acusados pelo delator. A
CLDF não fez nada. Foram denunciados criminalmente pelo Procurador-Geral
da República, a CLDF não fez nada. Foram acusados de improbidade pelo
Núcleo de Combate ao Crime Organizado do MPDFT, a CLDF não fez nada. A
denúncia da ação penal foi recebida pelo Superior Tribunal de Justiça, a
CLDF não fez nada. A ação de improbidade foi recebida pelo TJDFT, a
CLDF não fez nada. Os políticos foram CONDENADOS, em primeiro grau, na
ação de improbidade, a CLDF, insuflada a agir pela ONG Adote um
Distrital, fez uma grande lambança, afrontou a população e o direito,
como explicaremos a seguir.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal, em um deplorável show de
horrores, resolveu acatar a representação da ONG Adote um Distrital, e
instaurar processo contra os políticos acima mencionados, todavia,
subvertendo as regras de moralidade e decência que deveriam nortear o
parlamento, suspenderam, por tempo indeterminado, a remessa do Processo
Administrativo Disciplinar à Corregedoria.
A desculpa para o ignominioso ato de travar a investigação, de
engavetá-la em alguma gaveta da CLDF, teve por fundamento o FALSO
pretexto de que a condenação fora suspensa pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal. O pretexto é falso e os deputados, muitos deles
formados em direito, sabem disso.
O Código de Processo Civil prevê, em seu artigo 520, que “a apelação
será recebida em seu duplo efeito devolutivo e suspensivo”. É uma
questão técnica e que não anula os fundamentos e conclusões da sentença.
Efeito devolutivo significa que toda a questão, tal qual posta nos
autos, será reavaliada pela instância de segundo grau, no caso, o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O efeito suspensivo significa
que não se pode, ainda, proceder a execução, ou seja, buscar o
ressarcimento ao erário, aos cofres públicos, dos enormes prejuízos
causados pelos influentes políticos.
Receber a apelação nos efeitos devolutivo e suspensivo não significa,
nunca significou, - e até os estudantes recém-ingressos nos bancos das
faculdades de direito sabem disso - que os fundamentos da sentença
estavam suspensos, infirmados ou enfraquecidos. A interpretação da
Câmara Legislativa do Distrito Federal é absurda, draconiana e afronta
todas as pessoas de bem que existem no Brasil. É uma mostra eloquente de
que na “ilha da fantasia” a voz das ruas não chegou e, se chegou, não
foi ouvida, e, se foi ouvida, não foi respeitada.
Os deputados, que tiveram os bens bloqueados, continuam não podendo
movimentar livremente os bens que amealharam. Por quê? Simples, porque o
mesmo artigo 520, nos incisos IV e VII prevê que a apelação NÃO será
recebida no efeito suspensivo quanto à decisão que decidir o processo
cautelar e confirmar a antecipação de tutela. Pois bem, aplicando tais
institutos jurídicos, os bens dos Deputados que são acusados de
participar do esquema da “Caixa de Pandora” continuam bloqueados.
Veja a incongruência e o absurdo. Os deputados não podem vender um
lote, um veículo, mas, na condição de deputados decidem o futuro da
cidade, como o dinheiro dos nossos impostos serão aplicados. Eles que
não podem cuidar do próprio dinheiro, podem cuidar do nosso. É o que
afirma, contra toda a lógica e bom senso, a Câmara Legislativa do
Distrito Federal.
Se, como afirmam o Ministério Público do Distrito Federal, o Ministério
Público Federal, o Superior Tribunal de Justiça, a Polícia Federal, o
juiz que os condenou na ação de improbidade e que lhes bloqueou os bens,
e os Desembargadores que mantiveram o bloqueio de tais bens, os três
deputados citados tiveram forte envolvimento com a quadrilha que pilhou
os cofres públicos, não é possível compreender como mesmo assim, a
Câmara Legislativa, apegando-se a uma interpretação absurda, entende que
não é o caso de investigá-los.
As explicações para a absurda atitude dos deputados distritais fica no
campo da conjectura, mas é impossível não pensar em conivência ou em
sentimento de proteção mútua. Será que os parlamentares estão sendo,
vergonhosamente, protegidos por guardarem segredos que podem comprometer
os demais deputados ou autoridades do Poder Executivo? Do Poder
Executivo? Sim, do Poder Executivo, porque o governo local, chefiado por
Agnelo Queiroz agiu com força nos bastidores para proteger os deputados
recém-condenados em primeiro grau por improbidade administrativa
consistente no recebimento de propinas, pagas pelo Executivo de então,
aos parlamentares, para que eles votassem com o governo. Aliás, hoje, os
deputados citados continuam votando com o governo e integrando o núcleo
principal da base aliada ao governador.
É muito intrigante o fato de o Partido dos Trabalhadores, que liderou
as vozes contra os envolvidos na Caixa de Pandora, que logo o Partido
dos Trabalhadores, hoje, esteja protegendo pessoas acusadas e condenadas
por envolvimento no esquema da Caixa de Pandora. No mínimo, dois pesos e
duas medidas. Para o ex-governador Arruda, bastou o vídeo. Não foi
preciso esperar condenação transitada em julgada, como defende, agora, o
PT para os deputados condenados. Nem se diga que contra Arruda existia
vídeo e que contra os deputados não existe gravação divulgada pela
mídia. Contra o ex-vice governador, Paulo Octávio, também não existia
vídeo e o Partido dos Trabalhadores foi implacável. Não é possível
entender a complacência do “novo caminho” com os deputados Roney Nemer,
Benedito Domingos e Aylton Gomes.
O que causa ainda maior estranheza é o fato de que a complacência venha
justificada em uma interpretação canhestra e divorciada da boa doutrina
jurídica. As vozes da rua, definitivamente, parecem não ter
sensibilizado os deputados distritais e o governo do Distrito Federal.
Bom senso e respeito à população não é uma marca da Câmara Legislativa e
dos políticos brasilienses, que, infelizmente, tornam mais real a
máxima do grande Barão de Itararé: “de onde menos se espera, daí é que
não sai nada mesmo”. Apenas a mobilização popular poderá mudar o
lastimável estado das coisas na política local. Definitivamente, a
Câmara Legislativa do DF não ouviu o clamor que vem das ruas e protege
políticos envolvidos na Caixa de Pandora.
Fonte: Colaboradores
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