Já
não é a primeira vez que se ouve falar de compras de votos em eleições.
No entanto, os personagens envolvidos nesse episodio construíram sua
trajetória combatendo ardentemente práticas políticas que remontam o
coronelismo e o famigerado voto de cabresto. Nesse caso, um assentamento
de sem terras em Unaí/MG, tornou-se um verdadeiro curral eleitoral para
parte de uma tropa de elite do Partido dos Trabalhadores, acostumada a
imprimir a máxima de Maquiavel, de que os fins justificam os meios.
Numa ação digna
dos antigos tropeiros, a missão delegada ao Sr.Francisco Manoel foi de
transportar no dia 03/10/2010 o “gado eleitoral” do distante
assentamento em terras mineiras até as urnas da capital federal. Lanche
garantido e “busão” na porta, o dono do título de eleitor só precisava
copiar o número estampado nos santinhos distribuídos na entrada do
coletivo e mandar ver para dentro da urna eleitoral. Pela condução da
tropa, Sr. Francisco Manoel, meteu nos bolsos R$ 600,00 e ficou sonhando
com os empregos prometidos no governo do “Novo Caminho”. Perdeu
tropeiro! O busão foi apreendido com 41 “decididos” eleitores e Seu
Francisco Manoel ficou vendo o sol nascer quadrado por alguns dias.
Condenado
por crime eleitoral e abandonado por seus contratantes, Francisco
Manoel resolveu dar o nome aos bois. No entanto, até hoje, esses bois
continuam livres e soltos pastando no salão verde da Câmara dos
Deputados e à sombra do Buriti.
Homem simples, pobre, abandonado,
condenado e enganado, seu Francisco Manoel não perdeu a serenidade
frente a uma câmera para singelamente apontar os supostos mandantes de
sua aventura ilegal, que por fim se transformou no maior pesadelo para
ele e sua família. Policarpo e Dona Socorro são os personagens ocultos
dessa jornada, que muito bem poderia ter se passado em meados do século
passado.
Para melhor entender essa história,
não se pode deixar de ouvir o Sr. Edmilson Almeida Lopes, militante do
PT e líder comunitário da Estrutural. Edmilson cumpria a tarefa de
coordenador da campanha de Roberto Policarpo a deputado federal na
cidade da Estrutural nas eleições de 2010. Pau para toda obra, a
Edmilson foi confiada à missão de contratar seu Francisco Manoel para
transportar os eleitores do assentamento no dia da eleição. Bem mais
articulado que Francisco Manoel, Edmilson conta detalhes da empreitada, e
ainda revela sua intimidade com os protagonistas dessa história.
Edimilson afirma ter recebido ligação do próprio governador Agnelo
Queiroz, que diante de sua reconhecida liderança na cidade da
Estrutural, lhe pediu que aparasse todas as arestas na comunidade em
relação à nomeação de Dona Maria do Socorro para exercer o cargo de
Administradora da Estrutural, no qual permanece até hoje. Assista o
vídeo aqui.
Depois
de passar sete dias preso e aguardar por quase um ano um emprego público
que não veio, o motorista de ônibus, Francisco Manoel do Carmo,
resolveu revelar a parte mais importante da história: ele confessou que
recebeu R$4.000 do deputado Policarpo.
Outro
personagem que também teve seu acordo político quebrado foi o lavador de
carros Edmilson Almeida Lopes. De acordo com revelações feitas por ele,
outros nomes da política local também estiveram envolvidos no esquema
de compra de votos nas eleições de 2010.
Para
o desfecho dessa história, ele destaca pelo menos duas novas pessoas
que estariam envolvidas no esquema. O ex-administrador do Vicente Pires,
Disomar Chaves, que concorreu às eleições a deputado distrital em 2010,
e o atual administrador da região, Glênio José.
Segundo
Edmilson, os dois contrataram seus serviços para arregimentar eleitores
de um assentamento chamado “Barreirinha”. “O Glênio simplesmente me
passou o dinheiro e pediu para articular a campanha. No acordo de
compras de votos, estava previsto distribuição dos santinhos com o
número do deputado em quem o eleitor deveria votar, e o transporte deles
para as zonas eleitorais. O meu erro foi não ter gravado o episódio”,
relatou Edmilson Lopes.
Todavia,
por não possuir provas suficientes que comprovasse a ação, por diversas
vezes, segundo Edmilson, chegou ser ameaçado pelo administrador de
Vicente Pires, Glênio José, que afirmava que a “corda só arrebenta por
lado mais fraco”. E, era bom, ele não ir adiante com as acusações.
No
entanto, a falta de fidelidade levou Edmilson revelar todo o esquema. Na
época, o deputado Federal (PT) Roberto Policarpo, havia prometido
indicar o Sr. Edimilson Lopes, a vaga de presidente do PT da cidade
Estrutural, além de passar para ele a autoridade de indicar o
administrador da cidade. No pacote de benefícios, Edmilson também teria a
sua disposição 12 cargos no governo, podendo recomendar quem ele
quisesse, inclusive a vaga Francisco Manoel como motorista, o que não
ocorreu.
No
entanto, o que parecia ser um conto de fadas terminou em pesadelo. Tudo
quando o ônibus que Francisco Manoel dirigia, foi interceptado pela
polícia no dia 3 de outubro de 2010. Na ocasião, com intuito de
despistar a polícia, interrogado, Francisco contou que o ônibus fora
emprestado por um empresário e todos ali eram fiéis da igreja Assembleia
União da Fé.
Quanto
ao motorista Francisco Manoel, pesa sobre ele, uma condenação por crime
eleitoral. Por falta de informação sobre a situação econômica de
Francisco, a justiça determinou que ele pagasse 200 dias de multa.
Toda
ação foi comprovada após a Polícia Federal interrogar Francisco Manoel.
Em um dos trechos da sentença do acusado, ele confirma que saiu da
fazenda Barreirinha transportando 39 eleitores. “Eu fui incumbido de
convencer essas pessoas a votarem no pré-candidato Roberto Policarpo.
Fazendo isso, eu iria receber o R$ 1.500 pelo aluguel do ônibus, além de
receber um salário de R$ 600.00”, afirmou o motorista. No trecho da
sentença emitido pelo Tribunal Regional Eleitoral, consta que Socorro,
esposa de Policarpo, pagou em espécie a quantia de R$ 3. 000 mil para o
lavador de carro Edmilson Almeida, que repassou o dinheiro para o
motorista Francisco Manoel.
O que
mais intriga os envolvidos nessa história, no entanto, é que os acusados
do esquema citados na reportagem, não recorreram à justiça para
processar os acusadores. “Quando uma pessoa difama ou calunia outra, o
que é feito? A pessoa que se sente ofendida vai até a justiça e processa
o caluniador. Agora eu pergunto, porque Roberto Policarpo,
administrador de Vicente Pires, Glênio José, e a administradora do
Varjão, Maria do Socorro, não fizeram isso?”, Francisco levanta a
pergunta e deixa no ar.
Em
outubro de 2011 uma reportagem da revista Veja revelou que a polícia
Legislativa da Câmara Federal, estava sendo usada como uma espécie de
milícia do PT. Sem nenhum amparo legal, o lavador de carro Edmilson
Almeida e o motorista Francisco Manoel, foram interrogados nas
dependências da Câmara dos Deputados como suspeitos de uma suposta
tentativa de chantagem contra o deputado petista Roberto Policarpo. Os
“suspeitos” na verdade, são testemunhas de acusação contra o deputado em
uma investigação da Polícia Federal.
Procurado
pelo Guardian Notícias tanto o deputado federal Roberto Policarpo (PT) e
o administrador de Vicentes Pires, Glênio José, não quiseram responder
as denuncias quanto à contratação do serviço de Edmilson Almeida Lopes,
para cooptar eleitores do assentamento barreiro município de Unaí-Mg
para votar em Roberto Policarpo.
Já
Maria do Socorro, esposa do deputado Roberto Policarpo, afirmou que sabe
da história, porém, desmente a versão de Edmilson. “Não ouve entrega de
nenhum dinheiro para esse fim. Essa história é mentira. O deputado
Roberto Policarpo é um homem sério, e jamais participaria de um negócio
como esse”, afirmou Socorro.
Fonte: Guardian Noticias - Por Jean Marcio Soares.
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