A pesquisa não inclui leis complementares distritais, decretos legislativos, nem leis distritais sugeridas pelo Poder Executivo
Levantamento feito pelo G1, com base
em informações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF),
mostra que, em média, quatro leis criadas por deputados do DF são
anuladas por ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em cinco anos, 20
normas sugeridas exclusivamente por parlamentares do DF foram
invalidadas pela mais alta corte do país.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara
Legislativa do DF, Chico Leite (PT), diz que o colegiado tem cumprido de
maneira efetiva o seu papel de exercer o controle preventivo de
constitucionalidade. Segundo o parlamentar, o colegiado não só reduziu a
quantidade de ações de inconstitucionalidade contra leis distritais nos
últimos anos como também elevou "o nível das discussões jurídicas
quantos às leis questionadas".
O STF declarou que as 20 normas distritais derrubadas não poderiam ser
aplicadas, pois violavam artigos da Constituição Federal ou geravam
aumento nas despesas públicas do DF. Por lei, somente quem pode sugerir
normas que aumentem gastos públicos é o Poder Executivo.
As 20 leis distritais foram derrubadas em julgamentos do STF realizados
entre 2006 e 2011. Os resultados das sessões foram divulgados pelo TJDF
no início de janeiro. O TJ diz que o balanço é preliminar e não leva em
conta o volume de leis aprovadas pela Câmara Legislativa, mas aquelas
que foram questionadas pelo Ministério Público.

No rol das normas distritais invalidadas pelos ministros do Supremo há
leis aprovadas na Câmara Legislativa do DF entre 1994 e 2008, durante a
gestão dos ex-governadores Joaquim Roriz, Cristovam Buarque e José
Roberto Arruda.
Uma lei distrital aprovada em 1997 concedia a policiais militares e
bombeiros uma gratificação por risco de vida. Outra lei, de 1998,
obrigava motoristas a permanecerem com a luz interna do carro acesa
entre 18h e 6h ao se aproximarem de blitze ou barreiras.
Em 2003, a Câmara Legislativa aprovou uma lei que disciplinava a
atividade de transporte de bagagens nos terminais rodoviários do DF. A
norma foi anulada pelo STF. Em 2004, foi aprovada uma lei que proibia a
cobrança da tarifa de assinatura básica pelas concessionárias
prestadoras de serviços de água, luz, gás, TV a cabo e telefonia no DF. A
legislação também foi derrubada.
E não só o STF tem vetado normas criadas no DF. Outras 11 leis
distritais que haviam sido aprovadas entre 2007 e 2013 não passaram pelo
crivo do Conselho Especial do TJDF, em sessões realizadas no ano
passado.
Uma das normas invalidadas pelo colegiado assegurava a idosos e
portadores de necessidades especiais a gratuidade em estacionamentos
pagos pelo período de duas horas, até o limite de vagas especiais
disponíveis. Outra isentava pessoas com 60 anos de idade ou mais do
pagamento pelas refeições nos restaurantes comunitários do DF.
Em 2012, 22 leis de autoria de distritais foram derrubadas pelo
Conselho Especial. A mais antiga havia sido aprovada na Câmara
Legislativa em 1992 e assegurava a renovação de permissões de uso de
área pública para o exercício da atividade de banca de jornal e
revistas. Outra, de 1997, previa a destinação de recursos públicos para a
Marcha para Jesus, no centro de Brasília.
O promotor de Justiça e assessor da Procuradoria-Geral de Justiça do
DF, Antonio Suxberger, defende uma interação maior entre os Poderes
Judiciário e Legislativo com forma de melhorar o processo legislativo.
"É claro que o Legislativo, independente, não se vincula ao que
determina o Poder Judiciário, mas é preciso, em favor da segurança
jurídica, que as proposições oriundas do Legislativo guardem um mínimo
de aptidão para validade e vigência", diz o promotor.
Para Suxberger, não há como medir os prejuízos de uma lei
inconstitucional. "Vão desde as expectativas frustradas daqueles
imediatamente atingidos pela lei, até situações de fato incontornáveis. O
mais importante reside na própria credibilidade das instituições. O
vício de um ato normativo coloca em xeque todo o processo de discussão,
aprovação e expectativas que giram em torno dos direitos e deveres
afetados", afirma o promotor.
O presidente da Câmara Legislativa do DF, Wasny de Roure (PT), afirma
que tem promovido a parceria sugerida pelo promotor Suxberger. Diz que
frequentemente realiza discussões com representantes do Poder Judiciário
e MP. O objetivo desses encontros, diz o parlamentar, é elaborar
mecanismos que possam ajudar a diminuir o número de ações contra leis do
DF.
A CCJ da Câmara Legislativa é composta por cinco integrantes titulares e
outros cinco suplentes. O colegiado é sempre o último a se manifestar
sobre as proposições elaboradas na casa, antes de elas serem votadas em
plenário.
O presidente da comissão, Chico Leite (PT), diz que, ao assumir o cargo
em 2011, determinou que todas as proposições recebidas pelo colegiado
fossem distribuídas por sorteio aos deputados, com o objetivo de evitar
"barganhas políticas".
O parlamentar escolhido para analisar a matéria exerce a partir daí a
função de relator. O voto dele sobre o texto deve ser apresentado aos
demais integrantes no prazo estipulado pela comissão.
Quando alguma irregularidade é identificada no projeto, os
parlamentares ainda podem corrigi-la na CCJ. Se o problema não tiver
solução, o texto é arquivado.
Fonte: Portal G1/DF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário