Já
escrevemos aqui sobre o Rodrigo, um bebê que nasceu no dia 03 de
novembro de 2013, com síndrome de Down e com seríssimas complicações
cardíacas. Ele nasceu no Hospital Regional da Asa Norte – HRAN. Depois
de uma luta gigantesca, ele foi transferido para o Instituto do Coração
do Distrito Federal. A transferência apenas foi viabilizada depois de
vários veículos de comunicação terem noticiado o caso. Quando a história
do Rodrigo se tornou pública, o Secretário de Saúde do Distrito
Federal, Rafael Barbosa, foi a um programa de televisão da Rede Globo e
prometeu que resolveria o caso. No dia seguinte houve a transferência
para uma UTI com suporte cardiológico. É uma vergonha, porque somente
após o caso se tornar público é que as autoridades resolveram levantar
os traseiros de suas confortáveis cadeiras e agir.
Rodrigo nasceu em 03 de novembro de 2013 às 18 horas e 21 minutos. Os
médicos perceberam os sinais físicos característicos da síndrome de Down
e explicaram para a mãe de Rodrigo, Sheila, acerca da síndrome de Down.
Ele apresentava dificuldade de sucção do leite materno, mas aceitou
complemento alimentar em um copo. Os recém nascidos com síndrome de
Down, por causa da hipotonia, costumam apresentar dificuldade para sugar
o leite no seio materno.
No dia 05 de novembro, os profissionais do HRAN perceberam que Rodrigo ficava muito cansado ao mamar.
Foi marcado a realização de um ecocardiograma para o dia 06 de
novembro, a ser realizado no INCOR/DF e parecer cardiológico para o dia
12 de novembro de 2013, porque no exame foi identificado “defeito do
septo atrioventricular total tipo A de Rastelli balanceado”.
Ainda no dia 07 de novembro, uma das enfermeiras identificou a possibilidade de hipertensão pulmonar.
Os profissionais do HRAN – muito competentes – deram sequência a uma
série de procedimentos e passaram a ministrar medicamentos fortes para
preservar a vida do Rodrigo. Os médicos lutavam contra a doença e contra
a falta de recursos.
No dia 08 de novembro Rodrigo deveria ter sido encaminhado à genética
do HUB, mas, nas últimas 24 horas sofreu uma piora clínica significativa
e não pôde ir.
Vale mencionar que a mãe do Rodrigo, a Sheila, testemunhava o drama do
filho e que vivia um período de luto. Haviam só três meses que a sua mãe
havia falecido.
Por quatro dias os médicos do HRAN fizeram de tudo para controlar os
problemas cardíacos, até que no dia 12 de novembro de 2013, de posse do
parecer da cardiologia, informaram que era preciso que ele se submetesse
a uma cirurgia de urgência no Instituto de Cardiologia do Distrito
Federal.
Se a família de Rodrigo tivesse recursos financeiros ou plano de saúde,
a avaliação cardiológica teria acontecido de forma mais rápida. A
cirurgia seria realizada de forma imediata. Mas Rodrigo é pobre, filho
de uma diarista e reside em Luziânia. Precisava de vaga em UTI neonatal
com suporte cardiológico. A resposta dada pelo SUS é de que “não havia
leito com o suporte necessário no momento”. Rodrigo era, no dia 12 de
novembro, prioridade 2. Durante o transcurso do dia 12, a busca por vaga
de UTI se deu de forma frenética.
No dia 13 de novembro de 2013 a busca persistiu. A dosagem das
medicações era sistematicamente aumentada para mantê-lo em condições de
ser submetido ao procedimento cirúrgico. O dia chegou ao fim, mas sem a
presença de vaga. Se ele tivesse um plano de saúde já teria sido operado
há uns 03 ou 04 dias.
Dia 14 de novembro...e o drama persistiu. No dia 15 de novembro, nada
de vaga. O fígado começou a apresentar alterações, estava aumentado. A
imunidade caindo, surgiu uma conjuntivite bacteriana. Ainda estava sem
febre, tinha condições de ser operado, mas não haviam vagas. No início
da noite a informação era a mesma, sem vagas em leito que atendam as
necessidades da criança.
Dia 16 de novembro, por volta de meio-dia, e ainda sem leitos de UTI.
Rodrigo lutava pela vida e era auxiliados pelos médicos, mas ele
precisava de suportes mais adequados. Os médicos preocupados,
conversavam com a mãe. Cuidavam do Rodrigo e da Sheila com um carinho
que dignifica a profissão dos médicos. Mas o carinho e a dedicação dos
médicos e demais profissionais do HRAN não era o suficiente. Enquanto
Rodrigo lutava, o Brasil assistia a prisão dos “mensaleiros” e uma
romaria de políticos em favor dos que foram condenados por terem
achacado os cofres públicos, por terem lesado a pátria mãe gentil,
gentil para os corruptos e cruel para os necessitados.
Dia 17 de novembro e a busca por leitos de UTI com suporte necessário à
preservação da vida de Rodrigo persistia, sem, contudo, nenhum
resultado positivo.
No dia 18 de novembro, a pobre Sheila, ainda não havia conseguido
assimilar a real gravidade do estado de saúde do seu filho. Pessoa
simples, honesta, mas sem muito estudo, não conseguia dimensionar a
gravidade. A única coisa que conseguia fazer era se postar ao lado do
filho e dedicar-lhe amor.
Dia 19 de novembro, a espera por vaga de UTI persistia. O Governador
Agnelo Queiroz visitava um dos políticos presos na PAPUDA e se dizia
preocupado com o estado de saúde do presidiário. Vários políticos,
inclusive a Presidente da República, Dilma Roussef, se mostrava
preocupada com a situação cardiológico do sujeito que foi preso acusado
de uma plêiade de crimes contra a nossa pátria mãe gentil para os ricos e
cruel para os pobres. Nenhuma autoridade estava (ou está) preocupada
com o Rodrigo.
Ainda no dia 19 de novembro Rodrigo começou a ficar subfebril. Era o
pior sinal possível, poderia estar desenvolvendo alguma espécie de
infecção que iria impedir a cirurgia. Às 18 horas apresentou pico
febril. A luta estava ficando mais difícil, as forças do pequeno Rodrigo
estavam indo embora. O estado era grave, mas nada de vaga.
Dia 20 de novembro de 2013, ainda sem vaga, a febre, prenúncio de
alguma infecção, se instalou. O sofrimento físico de Rodrigo começou a
ficar evidente.
No dia 21 de novembro a febre foi controlada, mas a situação era cada
vez pior. Com exceção dos profissionais do HRAN, ninguém demonstrava
preocupação humanitária com Rodrigo.
O caso se tornou público, graças à mídia. O Secretário de Saúde disse
que resolveria o problema no mesmo dia. Não resolveu, mas no dia
seguinte Rodrigo foi transferido ao Instituto do Coração do Distrito
Federal.
Não pode ser operado, porque a infecção encontra-se vigente. Os médicos
do Instituto do Coração estão tentando de tudo, mas, por causa da
demora em transferi-lo para o ambiente adequado, os danos foram muito
graves.
Dia 29 de novembro de 2013, Rodrigo precisou de hemodiálise, por não
conseguir urina. Segundo a mãe, ele está muito inchado. Ela, tem
permanecido sentada ao lado dele na incubadora. Já percebeu que a
situação é difícil, mas não perde as esperanças. Pede orações, porque é a
única coisa que podemos fazer.
Hoje, 30 de novembro, ele será batizado pelo Padre Lucas, da Paróquia São Pio de Pietrelcina. Será batizado na UTI.
A história é muito triste, pois conta a realidade de muitos Rodrigo’s
que nascem Brasil à fora. Pessoas para quem a nossa pátria mãe não é
nada gentil. Uma pátria que faz com que pensemos que existam dois tipos
de seres humanos: os ricos e os pobres. Esperamos que o Rodrigo vença
está batalha, que sobreviva. Rodrigo, independentemente do que
acontecer, já deve suscitar em todos nós o sentimento do inconformismo, o
desejo de que todos, independente de qualquer coisa, sejam tratados com
dignidade.
Fonte: Blog Saber Melhor / Blog do Edson Sombra.
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