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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A responsabilidade de tirar Brasília do “coma induzido”


Em entrevista exclusiva ao blog, a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB) comenta sobre sua atuação na Câmara Legislativa, desabafa sobre questões polêmicas, coloca-se a favor da unidade dentro da oposição ao fazer duras críticas ao governo do DF: e justifica: “Quem é filha de quem eu sou tem o dobro de responsabilidade”, resume.

Blog do Sombra:  Praticamente na reta final do seu mandato, o que mudou desde que a senhora tomou posse como deputada distrital até os dias de hoje?

Liliane Roriz: Mudou muita coisa. Entrei na Câmara sem saber direito o que encontraria pela frente. Sabia que muitos colegas mantinham um pré-conceito contra mim, por eu ser filha de Joaquim Roriz. Eu era também uma das únicas, se não a única, opositora declarada ao governo. Veja só: eu já era novata, mulher, relativamente nova e só por isso tinha receio da forma com que os petistas me tratariam. Morria de medo do deputado Chico Vigilante, pela imagem que ele sempre passou. Hoje eu dou boas risadas disso tudo, mesmo porque mantenho uma ótima relação com todos os deputados, até mesmo com os petistas. O deputado Chico Vigilante sempre me respeitou e construímos uma boa relação de consideração entre nós. Aprendi a separar bem as coisas. 

Blog do Sombra: Muitos comentam sobre sua postura independente com relação ao seu pai. Isso ajuda ou dificulta o seu trabalho?

Liliane Roriz: Vivi e convivi com a política desde que nasci, graças ao meu pai. Acho que foi dele que puxei essa vontade de querer trabalhar pelas cidades e ajudar a quem mais precisa. Como eram muitos candidatos proporcionais e fiz uma campanha simples, assim que fui eleita ele me chamou e me disse que agora eu tinha que arregaçar as mangas e mostrar quem era a Liliane, e não a filha do Roriz. No início, não entendi. Mas hoje vejo como essa atitude me ajudou para que eu focasse no que eu realmente acredito. Mas é claro que com o privilégio de ter o pai que eu tenho, vira e mexe eu tento consulta-lo sobre algumas questões. Ele sempre reluta e se faz de difícil, mas no fim das contas acaba me aconselhando. 

Blog do Sombra: A senhora está satisfeita com a Câmara Legislativa e com sua atuação parlamentar?

Liliane Roriz: Sou empresária e por isso tenho a chata mania de cobrar muito de mim e de quem está comigo. Nunca estou satisfeita. Se está bom, podemos melhorar. Às vezes isso incomoda, mas não ligo. Sei que é para o melhor resultado do trabalho. Hoje ouço coisas que não consigo acreditar se fosse tempos atrás. Dizem que eu estou sendo uma boa surpresa na Câmara Distrital. Isso me deixa muito feliz, mas não me envaidece. Costumo sempre dizer que quem é filha de quem eu sou tem o dobro de responsabilidade. E levo esse lema a ferro e fogo para o meu mandato. Sei que não posso e não tenho o direito de fazer feio. Minha filha, que deveria reclamar, e as pessoas mais próximas, me apoiam muito. Quando você está em paz em casa, fica com a cabeça livre para focar no trabalho.

Blog do Sombra: Qual é a maior vitória e a maior derrota de seu mandato?

Liliane Roriz: Tivemos grandes vitórias, como a lei que fiz para conceder o desconto do IPTU, a lei também de minha autoria que manteve a homenagem a Mané Garrincha no estádio... Recentemente, foi a lei que aprovamos e que já está em vigor que escancara a caixa preta da saúde pública e obriga o governo a divulgar na internet tudo sobre a rede, como remédios em estoque, a fila das cirurgias, os médicos de plantão por especialidade em cada unidade, enfim... A maior derrota, sem dúvida, foi a aprovação da transferência do museu da república para a área federal. Acho que nossos artistas, nossa cultura e nossa cidade perderão muito com essa mudança. 

Blog do Sombra: O atual governo possui uma das maiores bases de sustentação da história do DF. Para a democracia, isso é saudável?

Liliane Roriz: Olha, democracia é o poder do povo. Se o povo quis eleger um governo do PT e deputados que mantém afinidade com essa proposta, temos que respeitar. O que não acho correto é que, mesmo com a população reclamando, criticando e as pesquisas apontando o Agnelo como o segundo pior governador do país, a base permaneça intacta. A deputada Eliana Pedrosa declarou publicamente que votou no Agnelo, mas depois viu que tinha algo de errado com essa gestão e pulou fora. De lá pra cá, até que partidos desacreditaram nesse governo, quando achávamos que mais gente sairia da base, mas na prática tudo ficou como era. Em vez de deixar a base, os deputados deixavam os partidos. Isso sim eu acho lamentável, porque um deputado tem que dar voz à vontade da população e não garantir palanque para governantes. Agradeço a cada dia por ser uma das únicas opositoras do governo Agnelo e de não fazer isso da boca pra fora, mas por acreditar. Tenho muito orgulho de não fazer parte desta base e de não ter amarras com esta gestão. 

Blog do Sombra: Por falar nisso, a senhora foi a deputada distrital que mais se destacou na luta contra a aprovação do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) e a Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) na CLDF. Por que resolveu comprar essas brigas?

Liliane Roriz: Sou nascida em Luziânia, que faz parte da região metropolitana do DF, mas mudei para Brasília com apenas um ano de vida e escrevi toda a minha história aqui, brincando nas superquadras, no Parque da Cidade... Não sou uma forasteira. Quando comecei a ouvir rumores sobre o PPCUB e a LUOS, fiquei revoltada. Lembra-se daquele papo de construir a 901 Norte e encher de prédios uma área que hoje é limpa e ampla? Pois é, desde lá eu já comprei essa briga na Câmara. Achava aquilo um absurdo, um desrespeito ao plano de Lúcio Costa. Achava que minhas críticas tivessem surtido efeito, porque o governo recuou. Depois de um tempo, vi que a intenção do governo era ainda pior: o GDF incluiu outras propostas absurdas nesse PPCUB. Imagina só um Eixo Monumental todo loteado, cheio de construções? E a margem do lago toda cheia de hotéis? O Setor Hospitalar, que já não tem onde parar o carro, com prédios mais altos e mais salas comerciais... Ele queria vender a cidade a troco do caos. Por isso eu digo, não é que eu tenha comprado a briga: é o GDF que mais uma vez trabalha sem ouvir a população. Eu só aproveitei o meu mandato para dar voz ao coro que estava nas ruas e reclamava assim como eu dessas propostas absurdas. Isso não é mérito da deputada Liliane, é mérito de quem arregaçou as mangas e lutou contra o PPCUB. Graças a tanta gente, onde incluo estudiosos, especialistas, lideranças, anônimos, muitas pessoas que até tinham receio de se aproximar de mim, a revolta gerou um movimento que assustou o governo e os deputados. Vencemos a batalha por enquanto, mas só podemos sossegar quando esses dois projetos forem retirados de vez da pauta. 

Blog do Sombra: A senhora será candidata a quê?

Liliane Roriz: Eu quero ser candidata à reeleição como distrital. Mas sei que a minha vontade é o que menos vale nesse jogo político. Faço parte de um grupo político que quer o melhor para o DF. Precisamos livrar Brasília desse caos. Por isso, desde o início, tenho procurado me preparar para qualquer cenário que venha a surgir. Temos conversado com várias lideranças e acredito que só venceremos se estivermos todos juntos. Eu estou disposta a isso. Quero me colocar de forma com que eu seja útil. Mas a possibilidade de continuar trabalhando por nossas cidades, aqui na Câmara Distrital, é o que mais me atrai. 

Blog do Sombra: Sua irmã Jaqueline Roriz e seu cunhado Manoel Neto acabaram de ser condenados em primeira instância no escândalo que ficou conhecido como a Caixa de Pandora. Isso pode atrapalhar o seu projeto?

Liliane Roriz: Desde que minha irmã passou por essa situação, foi um sofrimento grande lá em casa. Quando eu passava na rua e alguém me hostilizava por me confundir com a Jaqueline, eu imaginava o tanto que deveria estar sendo difícil para ela. Vi pessoas que eram grudadas com ela simplesmente desaparecerem, falarem mal, virarem as costas, isso sem nem ter dado tempo de ela se defender na Justiça. Isso dói muito. Mesmo assim, desde o início, como deputada, decidi subir na tribuna e exigir publicamente explicações dela. Esse era o meu dever como parlamentar, e ela entendeu. Acredito que quando decidimos ingressar na vida pública, decidimos também que nossas vidas seriam públicas e teríamos que passar pelo crivo da opinião pública. E isso implica em tudo e, por mais difícil que seja, tem que se cumprir. Mas, como irmã, que tem sido um grande sofrimento, isso eu não vou negar.

Blog do Sombra: Nessa mesma linha, depois que deixou o PSD, a senhora retornou ao seu partido de origem, o PRTB, que hoje é comandado no DF por uma figura conhecida no Brasil, que é o ex-senador Luiz Estevão. A senhora não teme ter a imagem vinculada a do primeiro senador cassado da história do Brasil?

Liliane Roriz: Poucos como Luiz Estevão estiveram sempre ao lado de minha família, não só na vitória, mas principalmente nas turbulências, que é quando todos somem. Na hora do poder, é fácil ter amigos. Esse tipo de postura de lealdade a gente não esquece nunca. Além do que, quem o conhece sabe como o Luiz pode contribuir para a cidade. Se ele deve algo para a Justiça, está pagando de acordo com que os magistrados determinaram. Eu sei separar as coisas e os problemas jurídicos dele independem da grande capacidade de atuação política. Só para você ter ideia, mesmo após 20 anos fora da Câmara Legislativa, quando ele foi eleito o distrital mais votado da história do DF, Luiz ainda é lembrado como o opositor mais combativo do antigo governo do PT, que acabou sendo derrotado na tentativa de reeleição. Podem falar o que for, mas isso ninguém tira dele. 

Blog do Sombra: A atuação do STF com relação ao Mensalão repercutiu de maneira muito emblemática na sociedade. A senhora acredita que isso pode resultar nas urnas em 2014?

Liliane Roriz: O processo do Mensalão serviu para mostrar que o PT não é esse reduto de santos, como eles vendiam. Tinham um sucessor preparado para substituir o Lula, que era o José Dirceu, que está preso hoje acusado de chefiar uma quadrilha. Não posso e não vou tripudiar, porque sei bem como é complicado você colocar tudo num mesmo caldeirão. Mas também não dá para dizer que no PT só tem santo, o que não é verdade. Conheço muitos petistas que merecem respeito, outros nem tanto. É assim em todo lugar. Com a esperada aprovação da reforma política, acredito que o processo eleitoral vai sofrer mudanças radicais, que vai, se não acabar, intimidar a força do poder econômico, como foi no caso do mensalão. Espero que nas próximas eleições as pessoas concentrem-se em propostas, no trabalho de cada um. Se for assim, pela nossa experiência aqui no DF, o PT sairá derrotado, já que temos a certeza de como é péssima a gestão petista. O PT sabe ser oposição, mas não se dá bem como gestor. Esse sentimento está refletido nas pesquisas de opinião, onde Agnelo aparece na lanterninha em quase todos os cenários, além da grande rejeição que possui.  Espero que a oposição esteja unida e essa revolta da população contra o atual governo tire nossa cidade desse coma induzido que ela está.

Fonte: Edson Sombra.

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