Diretor
do DFTrans é presidente do PPL no DF; assessor indicava nomes. Marco
Antonio Campanella diz que bilhetes a filiados é 'mera coincidência'.
O
DFTrans, responsável por fiscalizar e regular o transporte público no
Distrito Federal, cobrava de empresas concessionárias passagens de
ônibus e bilhetes aéreos em nome de pessoas ligadas ao PPL, partido
presidido no Distrito Federal pelo diretor-geral do órgão, Marco Antonio
Campanella. O diretor disse ao G1 que não tinha conhecimento dos
pedidos por passagens.
"A chefia de gabinete sempre centralizou os pedidos que vêm de sindicatos, igrejas e entidades. A gente centraliza e envia para as empresas, mas nunca para as concessionárias", afirmou Campanella. Ele disse que "nenhuma passagem era para atender interesses individuais". "Se são filiados do PPL, é mera coincidência", afirmou.
"A chefia de gabinete sempre centralizou os pedidos que vêm de sindicatos, igrejas e entidades. A gente centraliza e envia para as empresas, mas nunca para as concessionárias", afirmou Campanella. Ele disse que "nenhuma passagem era para atender interesses individuais". "Se são filiados do PPL, é mera coincidência", afirmou.
Notas fiscais e e-mails obtidos pelo G1 mostram que os pedidos eram
feitos por Vitor de Abreu Corrêa, ex-chefe de gabinete de Campanella. A
prática teve início em 2011 e continuou na gestão de Daniel de Abreu
Corrêa, irmão de Vítor, que assumiu a chefia de gabinete em 26 de
janeiro de 2012. Daniel Corrêa foi exonerado no último dia 16.
A reportagem chegou a falar com Vítor pela manhã, mas ele desligou o
telefone logo após saber o motivo do contato. O G1 não conseguiu falar
com o irmão dele.
Os pedidos do DFTrans – de passagens aéreas e cessão de ônibus – eram
feitos a Carolina Pereira, diretora de quatro empresas do Grupo Amaral –
Rápido Girassol, Jat Taxi Aéreo, Esave Collection e Esave Mídia.
Segundo ela, a ordem dada pelo presidente das empresas, Dalmo Amaral,
era atender a todas as solicitações do DFTrans "sem questionamentos".
Nenhuma passagem era para atender interesses individuais. (...) Se são filiados do PPL, é mera coincidência" Marco Antonio Campanella, diretor-geral do DFTrans e presidente regional do PPL
“Seu Dalmo dizia: ´Tem que atender aos pedidos do Campanella e do
pessoal do DFTrans. Eu nunca questionei'. (...) Já tivemos que cancelar
contratos para atender a pedidos por ônibus interestadual”, afirmou.
E-mails enviados por Vitor a Carolina revelam que as empresas de ônibus
atenderam a um pedido para comprar de uma vez 14 passagens aéreas para
políticos do PPL e sindicalistas, em julho de 2011. O custo total dos
bilhetes foi de R$ 10,1 mil, conforme dados da conversa por e-mail entre
a executiva e o ex-chefe de gabinete do DFTrans.
O PPL foi fundado em 2009 por integrantes do antigo Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que combateu a ditadura militar. A
legenda tem 17,2 mil filiados e integra a base de apoio do governador
Agnelo Queiroz no Distrito Federal.
Entre os beneficiados está Zivan Roque Tavares, ex-presidente do PPL no
Espírito Santo. Ele confirmou ao G1 o recebimento dos bilhetes. Segundo
Tavares, “um tal de Campanella” providenciou as passagens de Vitória
para São Paulo, onde haveria um congresso da Central Geral dos
Trabalhadores do Brasil (CGTB).
“A CGTB informou que mandariam a passagem para a gente. Quem mandou era
ligado ao governo do Distrito Federal e à Presidência da República. Foi
esse tal de Campanella. Nós estávamos indo para um evento da CGBT”,
disse.
De acordo com Carolina, os pedidos por passagens começaram em 2011 e
duraram até o segundo semestre de 2012. Ela afirma que os prejuízos com a
compra de bilhetes e reserva de ônibus a pedido do DFTrans chegam a R$
200 mil. “O prejuízo foi grande, afetava o caixa. A gente já teve que
deixar ônibus à disposição por uma semana”, disse.
O filho de Dalmo Amaral, o ex-senador Valmir Amaral (PP), que
administra as empresas do grupo, confirmou que o pai pagava passagens a
pedido de Campanella. Ele afirmou que Dalmo não falaria com a reportagem
porque é idoso e está “debilitado”. “Foi uma extorsão. Quando fiquei
sabendo pedi que ele que denunciasse”, disse.
Em fevereiro deste ano, o governo do Distrito Federal interveio em três
empresas de ônibus de Dalmo Amaral – Rápido Veneza, Viação Valmir
Amaral e Rápido Brasília Transportes e Turismo. O empresário foi
afastado e a gestão foi assumida pelo GDF. De acordo com o GDF, as
empresas descumpriram acordos feitos com o Ministério Público para
melhorar o transporte no DF.
Segundo Valmir Amaral, a intervenção ocorreu depois que o grupo parou
de atender às exigências da direção do DFTrans. “Eu tenho certeza que
houve retaliação. A tomada das empresas do meu pai pelo GDF foi uma
resposta ao fim dos pagamentos”, afirmou.
PPL
Dos beneficiados por passagens aéreas, pelo menos oito integram a
direção nacional da CGTB – três do Espírito Santo, um de Mato Grosso do
Sul, um de Pernambuco, um de Brasília e dois do Rio de Janeiro.
"A CGTB informou que mandariam a passagem para a gente. Quem
mandou era ligado ao governo do Distrito Federal e à Presidência da
República. Foi esse tal de Campanella. Nós estávamos indo para um evento
da CGBT" Zivan Roque Tavares, ex-presidente do PPL no Espírito Santo e
um dos beneficiados com passagem aérea paga por empresa do Grupo Amaral a
pedido do DFTrans
Vantuir Sabino, que foi candidato a vereador em Serra (ES) pelo PPL em
2012, e integra a direção nacional da CGTB, foi um dos beneficiados
pelas passagens pagas pelo Grupo Amaral a pedido do DFTrans em 2011,
para participar do congresso da central sindical em São Paulo.
Ele afirmou ao G1 não saber quem pagou as passagens e hospedagem em São
Paulo. Sabino disse que foi convocado a participar do congresso para
ajudar a eleger Ubiraci Dantas como presidente da central sindical.
Dantas é secretário regional do PPL, representando o partido na Bahia,
Espírito Santo e Sergipe.
“Eu desconhecia quem pagou a passagem e a hospedagem, de coração.
Disseram que seriam pagas pelo congresso da CGTB. Eu fui convocado
dizendo que teria que estar embarcando de tarde para a Executiva em São
Paulo. Minha missão era estar na CGTB para eleger o representante da
central, que nos representaria perante a presidente Dilma Rousseff”,
afirmou.
Outro beneficiado pelas passagens é Marilton José Viana Cavalcanti, que
foi candidato em 2012 a vice-prefeito em Recife pelo PPL. Ele não
venceu as eleições. O G1 não conseguiu contato com Cavalcanti.
Além das passagens aéreas, havia pedido para cessão de ônibus. De
acordo com notas fiscais obtidas pelo G1, a Rápido Girassol, do grupo
Amaral, cedeu cinco veículos para transporte de filiados do partido e
sindicalistas ligados à CGTB para São Paulo em julho de 2011.
Ônibus do Grupo Amaral, que sofreu intervenção do GDF, em garagem da empresa, em Brasília |
Por ser viagem interestadual, o trajeto e os nomes dos passageiros têm
de ser registrados na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e
a empresa tem de emitir nota fiscal. De acordo com os documentos, a
locação de cada ônibus entre os dias 6 e 10 de julho custou R$ 10. Todas
as notas foram emitidas em nome da central sindical.
Investigação
O promotor Roberto Carlos Silva, da 1ª Promotoria de Justiça da Fazenda
Pública do DF, disse à reportagem que o pagamento de passagens a pedido
do DFTrans pode virar investigação criminal.
“De imediato esse caso mereceria, pelo menos, uma investigação nossa
para verificar se configura algum tipo de favorecimento. Em se tratando
de empresa de ônibus, teríamos que ver a influência disso no processo
licitatório das linhas”, afirmou.
Para ele, o DFTrans poderia estar exigindo vantagens das empresas do
Grupo Amaral em troca de favorecimentos na exploração de linhas de
ônibus.
“Há possibilidade de configuração de crimes, mais de um, e possível
improbidade administrativa. Se as irregularidades ficarem só no campo do
DFTrans, poderia configurar improbidade administrativa e crimes de
corrupção ou concussão, quando um funcionário público exige um
benefício”, disse.
Fonte: Nathalia Passarinho Do G1/DF
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