Exoneração
 foi decidida ontem pelo Ministério do Planejamento, após a ex-distrital
 ser indiciada pela PF por suposta participação em fraude de demarcação 
de terras na região de Vicente Pires. Advogado rechaça qualquer 
irregularidade 
Lúcia Carvalho chefiava a unidade da Secretaria de Patrimônio da União no Distrito Federal desde 2007 
    ![]()  | 
Acusada de fraudes na demarcação de terras públicas, a superintendente 
de Patrimônio da União no DF, Lúcia Carvalho, foi exonerada ontem à 
noite do cargo. O Ministério do Planejamento decidiu demiti-la depois 
que a ex-deputada distrital petista foi indiciada pela Polícia Federal. 
Segundo investigações da PF, ela teria referendado demarcações 
fraudulentas de terrenos na região de Vicente Pires, com o objetivo de 
favorecer uma grande construtora. Os lucros com o esquema poderiam 
alcançar R$ 300 milhões. A defesa de Lúcia nega irregularidades e alega 
que não houve fraude, mas apenas divergências técnicas quanto à forma de
 realizar a demarcação. O chefe da Divisão de Identificação e 
Fiscalização da SPU no DF, João Macedo Prado, também foi exonerado.
Na semana passada, a Polícia Federal havia pedido à Justiça o 
afastamento de Lúcia Carvalho do posto. Mas, sem decisões até a tarde de
 ontem, ela se recusava a deixar o cargo. Em curta nota oficial, o 
Ministério do Planejamento informou que recebeu o relatório do inquérito
 policial relativo ao caso às 16h42 de ontem e que decidiu pela 
exoneração de ambos. Ex-presidente da Câmara Legislativa e integrante da
 primeira legislatura da Casa, Lúcia Carvalho estava no posto desde 
2007.
A polêmica que levou à demissão da dupla está ligada à criação de 
Brasília. A área de Vicente Pires era uma fazenda de propriedade de 
Eduardo Dutra Vaz. Para a construção da capital, a União desapropriou 
milhares de hectares de terrenos, entre eles o de Dutra Vaz. O governo 
pagou ao antigo dono para transformar uma área de 1.807 hectares em 
terra pública. Mas, em 2007, a partir do georreferenciamento feito por 
satélites, constatou-se que o terreno tinha na verdade 2.151 hectares, 
entre áreas vazias e os lotes transformados nos condomínios de Vicente 
Pires.
Dessa forma, a União teria que devolver 344 hectares aos herdeiros de 
Dutra Vaz ou então pagar por essa área. O governo optou pela primeira 
opção. Segundo a Polícia Federal, a suposta fraude teria ocorrido na 
demarcação desse terreno — que os herdeiros já negociaram com uma grande
 construtora de São Paulo. Pela localização nobre, às margens da Via 
Estrutural, os conjuntos habitacionais previstos para os lotes podem ter
 alta rentabilidade. A Polícia Federal indiciou seis servidores 
públicos, além de Lúcia Carvalho. Eles são acusados de crimes como 
formação de quadrilha, fraude e falsidade ideológica. O Ministério 
Público Federal investiga o caso. De acordo com a assessoria de imprensa
 da Procuradoria da República no DF, o caso está no 1º Ofício Criminal, 
mas sob segredo de Justiça.
Defesa
O advogado de Lúcia Carvalho, Pedro Ivo Velloso, classifica como 
“devaneio” as denúncias de que haveria fraudes na demarcação. “O que 
existe é apenas a opinião de uma delegada da Polícia Federal, mas não há
 nenhum indício da participação dela (Lúcia Carvalho) em qualquer ato 
fraudulento. O pedido de afastamento foi açodado. Se a investigação 
fosse correta, teriam visto que se trata apenas de uma divergência 
técnica sobre a forma de demarcação. Ela foi respaldada por parecer 
técnico da Advocacia-Geral da União”, diz o advogado. “Se existe uma 
área maior do que a que foi efetivamente desapropriada, por direito, ela
 cabe a quem era dono antes da desapropriação”, acrescenta Pedro Ivo. 
Ele afirma que Lúcia Carvalho não tinha conhecimento a respeito das 
negociações entre os herdeiros e uma grande construtora.
As investigações que levaram à demissão de Lúcia Carvalho fazem parte 
da Operação Perímetro, deflagrada pela PF em dezembro do ano passado. Á 
época, a chefe da Delegacia de Inquéritos Especiais, Fernanda Costa de 
Oliveira, afirmou que os ganhos do grupo poderiam ser ainda maiores do 
que os inicialmente previstos. “Com a projeção imobiliária, o valor do 
terreno da União vai para mais de R$ 1 bilhão”, disse a delegada, na 
época da operação.
A reportagem procurou ontem a assessoria de imprensa da Polícia Federal
 mas, até o fechamento desta edição, não houve retorno. A PF chegou a 
pedir à Justiça a prisão temporária de um dos indiciados, mas não obteve
 autorização. Em dezembro, policiais realizaram operações de busca e 
apreensão em quatro endereços — dois em residências e dois em órgãos 
públicos.
Fonte: Correio Braziliense - Por Helena Mader

Nenhum comentário:
Postar um comentário