TJDFT confirma condenação da ex-distrital por improbidade administrativa em decorrência de envolvimento no escândalo político
No ano passado, a ex-parlamentar foi sentenciada a devolver dinheiro: valores serão reduzidos
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Mais de um ano depois de ser condenada em primeira instância por
envolvimento com a Caixa de Pandora, a ex-distrital Eurides Brito (PMDB)
teve a condenação por improbidade administrativa confirmada pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Com
isso, ela está inelegível por oito anos, conforme a Lei da Ficha Limpa.
Eurides teve, no entanto, uma conquista. A apelação da defesa da
ex-deputada, interposta à decisão anterior, foi parcialmente provida
pela 3ª Turma Cível do tribunal. Os termos do acórdão só serão
divulgados ao longo da próxima semana, mas o Correio apurou que o
provimento parcial do recurso está relacionado à redução dos valores que
ela terá de devolver.
No início de junho do ano passado, a 2ª Vara da Fazenda Pública, em
sentença do juiz Álvaro Ciarlini, mandou a política restituir um total
de quase R$ 3,5 milhões. Os valores eram relativos à soma da suposta
mesada de R$ 20 mil que teria recebido durante 31 meses — R$ 620 mil —; a
uma multa de três vezes esse valor — que totalizaria R$ 1,860 milhão —;
e, ainda, mais R$ 1 milhão por danos morais à população do DF. Com a
condenação de Júnior Brunelli pelo TJDFT, em maio deste ano, Eurides se
tornou a segunda ex-parlamentar a ter a sentença de primeira instância
mantida pelos desembargadores.
O julgamento dela no TJ começou no início da tarde da última
quarta-feira e foi marcado por intensos debates. O Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios (MPDFT), como acusador, pedia a
condenação da ex-distrital por improbidade administrativa, e ainda
cobrava o pagamento de indenização por danos morais aos brasilienses.
Durante a sessão, a relatoria foi alterada. Saiu a desembargadora Nídia
Corrêa Lima e foi designado o desembargador Getúlio de Moraes Oliveira,
então revisor, para ser o novo relator. Ele será o responsável por
redigir o acórdão da decisão por maioria, que será divulgado na semana
que vem.
Reveses
Esse é o terceiro revés de Eurides nos poderes Legislativo e
Judiciário. Além de ter perdido recentemente nas duas instâncias da
Justiça do DF, ela se tornou, em junho de 2010, a primeira deputada
distrital cassada pelos colegas por motivos políticos — antes dela, em
agosto de 2004, Carlos Xavier foi cassado por estar envolvido na morte
de um adolescente. A ex-distrital foi filmada pelo delator da Caixa de
Pandora, o ex-delegado Durval Barbosa, colocando maços de dinheiro em
uma bolsa, supostamente fruto de pagamento de mensalão por parte do
governo em busca de apoio político de parlamentares. Na época, Durval
era o presidente da Companhia de Desenvolvimento e Planejamento do DF
(Codeplan) e estaria à frente da distribuição de dinheiro a
parlamentares.
Além de distrital, Eurides Brito já foi deputada federal constituinte e
secretária de Educação do DF. É a primeira sentenciada das ações de
improbidade administrativa entre todos os deputados acusados de
envolvimento com o escândalo da Caixa de Pandora (veja a situação de
cada no Entenda o caso). Na época da operação, no fim de 2009, a Polícia
Federal encontrou, na residência da então deputada, US$ 9 mil e R$ 244
mil em espécie. O Correio tentou contato com o advogado da
ex-parlamentar, José Eduardo Alckmin. Ela, assim como Júnior Brunelli,
agora só podem recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Criminal
Além das ações cíveis por improbidade administrativa contra vários
réus, que correm no âmbito local, a Operação Caixa de Pandora levou à
denúncia, por parte do Ministério Público Federal (MPF), de 37 pessoas
acusadas de envolvimento no esquema. Eles foram denunciados no fim de
junho de 2012. No início do mês passado, o STJ decidiu desmembrar a
ação, mantendo na Corte Superior apenas o caso do conselheiro afastado
do Tribunal de Contas do DF (TCDF), Domingos Lamoglia. Os outros 36
denunciados ficarão no âmbito do TJDFT.
Entenda o caso
Crise na administração
Em 27 de novembro de 2009, a Polícia Federal deflagrou, em parceria com
o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a
Operação Caixa de Pandora, quando cumpriu 19 mandados de busca e
apreensão em residências e escritórios de integrantes do governo e de
deputados distritais. A investigação surgiu a partir de vários
depoimentos prestados pelo ex-delegado Durval Barbosa, que ocupou cargos
de primeiro escalão em mais de uma administração no DF. Ele foi
beneficiado com a delação premiada, instrumento segundo o qual o réu
fornece informações importantes para desvendar crimes em troca de ter a
pena atenuada nos processos a que responde. No caso dele, são dezenas de
ações.
Com autorização judicial, a PF gravou conversas entre agentes públicos,
conteúdo que ajudou as autoridades a saber quais eram os personagens
envolvidos e a compreender a extensão dos supostos crimes. As escutas,
no entanto, foram apenas um dos recursos multimídia que chamaram a
atenção na Caixa de Pandora. Responsáveis por agregar repercussão ao
escândalo, os vídeos gravados por Durval Barbosa e entregues à Polícia
Federal mostraram desde o então governador José Roberto Arruda a
distritais recebendo dinheiro das mãos do delator. Em um encontro com
Durval ainda em 2005, no governo Roriz, Arruda recebeu do então
presidente da Codeplan um pacote com R$ 50 mil.
A partir da divulgação do vídeo gravado por Durval, abriu-se severa
crise política no Distrito Federal, atingindo o primeiro escalão do
governo e membros do Legislativo e do Tribunal de Contas do DF (TCDF).
Arruda acabou com o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral
(TRE) por infidelidade partidária, já que havia se desfiliado do DEM.
Então presidente da Câmara, Leonardo Prudente renunciou para escapar da
cassação, mesma medida tomada por Júnior Brunelli. Eurides Brito acabou
cassada.
Os três aparecem em cenas que se tornaram a marca da Caixa de Pandora.
Brunelli entoou a oração da propina; Eurides usou a bolsa para guardar
dinheiro entregue por Durval; e Prudente enfiou os maços nas meias.
Ao todo, oito distritais foram denunciados. A partir dos desdobramentos
da Pandora, o DF teve quatro governadores em apenas um ano. As
denúncias chegaram também a dois membros do MPDFT, os promotores
Leonardo Bandarra e Deborah Guerner.
A situação de cada um - Ações por improbidade administrativa:
Condenados em primeira instância
» Aylton Gomes - (deputado distrital do PR)
» Rôney Nemer - (deputado distrital do PMDB)
» Benedito Domingos - (deputado distrital do PP)
» Rogério Ulysses - (ex-distrital)
» Rôney Nemer - (deputado distrital do PMDB)
» Benedito Domingos - (deputado distrital do PP)
» Rogério Ulysses - (ex-distrital)
Condenados em segunda instância (inelegíveis pela Lei da Ficha Limpa)
» Júnior Brunelli (ex-distrital)
» Eurides Brito (ex-distrital)
» Eurides Brito (ex-distrital)
Observação: além das ações por improbidade descritas acima, existem
denúncias criminais do MPF com relação a 37 envolvidos na Caixa de
Pandora.
Fonte: Correio Braziliense - Por Almiro Marcos
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