A crise de liderança e popularidade em que está imersa a presidente
Dilma Rousseff é de conhecimento, no mínimo, das parcelas mais bem
informadas da sociedade. Faltava apenas ter uma noção da gravidade da
enrascada. Já não falta. Ninguém menos do que o seu patrono Luiz Inácio
Lula de Silva se incumbiu de deixar escancarada - a seu modo, bem
entendido - a medida do desgaste de sua protegida, o que hoje parece
ameaçar a própria continuidade do projeto petista de poder. E ele o fez
de caso pensado.

Nesse cenário, reapareceu o velho palanqueiro que em tudo alega
enxergar uma conspiração das elites. Foi a última linha de defesa em que
se entrincheirou quando achou que o mensalão poderia apeá-lo do
Planalto. Deu certo, à época, porque as oposições vacilaram. E deu certo
nas eleições de 2006 porque a massa dos brasileiros, tendo subido na
vida, entendeu que, corrupção por corrupção, antes aquela de que se
acusa quem a beneficiou. Agora, recorre ao mesmo estratagema para
defender Dilma - com veemência e agressividade claramente proporcionais
ao definhamento de seu prestígio.

Nem, ainda, reprisaria o já sabido: que não precisa "ser governo para
fazer as coisas neste país". Afinal, como afirmou, usando o plural
majestático e pouco se importando com uma dose de desrespeito pela
sucessora, implícita nas suas palavras, "Dilma não é mais do que uma
extensão da gente lá". E a gente, que não pode sair de lá - só faltou
dizer -, vai continuar "ajudando a presidente" diante da suposta
ofensiva dos conservadores e dos políticos aliados.

Lula decerto associa a crescente animosidade do PMDB em relação a Dilma
à erosão dos seus índices de aprovação e do seu franco favoritismo na
disputa pela Presidência. (As mais recentes pesquisas apontam, em um
hipotético segundo turno, um empate técnico entre a candidata a um
segundo mandato e a ex-ministra Marina Silva, cuja popularidade deu um
salto sem precedentes na esteira das jornadas de junho.) E, de fato, a
cúpula peemedebista deu início a uma sondagem informal junto às bancadas
federais do partido e aos seus diretórios nos Estados sobre o rumo a
tomar em 2014. É improvável que a maioria vote pelo fim da aliança, mas a
mera consulta é um inequívoco agravo ao Planalto.

Fonte: Jornal Estado de São Paulo
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