O
movimento começou tímido, no início da tarde, mas, em pouco tempo, pelo
menos 10 mil pessoas tomaram a Esplanada a partir da Rodoviária. Muitos
servidores públicos, de terno e gravata, participaram do protesto
Por volta das 15h, havia apenas cerca de 50 jovens e uma caixa de
papelão deixada sob um dos bancos de concreto da praça do Complexo
Cultural da República. Nela, um cartaz simples oferecia vinagre de
graça. Dentro, havia seis garrafas do líquido. Uma hora depois, já eram
mais de 200 pessoas, a maioria estudantes do ensino médio e
universitários. Muitos adolescentes, com espinhas no rosto, andando de
skate pelo enorme piso de concreto.
O grupo tomou a rua, pontualmente, às 17h, horário marcado para o
início da passeata, quando somavam cerca de 2 mil manifestantes. No
caminho, a eles foram se juntando amigos, colegas, usuários de ônibus
que tomariam a condução na Rodoviária do Plano Piloto e servidores
públicos, além de gente que estava em casa e saiu para protestar, tocada
pela mobilização. À noite, em frente ao Congresso Nacional, eles já
eram mais de 10 mil.
Primeiro, conforme o combinado com a Polícia Militar, os manifestantes
ocuparam três das seis pistas do Eixo Monumental, no sentido Congresso.
Mas logo os PMs cederam e os deixaram ficar em quatro faixas. Um grupo
de cerca de 20 punks invadiu as outras duas. Houve um início de
confusão, mas os demais ativistas rechaçaram a atitude e todos voltaram a
caminhar pelas quatro pistas. Mesmo com provocações, os policiais não
usaram a força ao longo da passeata. Não havia integrantes do Bope, da
Tropa de Choque nem da cavalaria.
Ao anoitecer, após o expediente nos ministérios, juntaram-se aos
manifestantes homens de terno e gravata e mulheres com crachás no
pescoço. A servidora pública Maria de Castro, 35 anos, trabalha na
Esplanada e disse que, quando viu as pessoas passando, decidiu descer do
prédio. “Li sobre o movimento no Facebook e me solidarizei com eles,
que sofreram tanta violência na porta do estádio no sábado”, contou,
referindo-se ao confronto entre manifestantes e policiais na abertura da
Copa das Confederações.
Como ela, outros servidores federais aderiram à marcha depois de bater o
ponto. De terno e gravata, um funcionário endossou a movimentação, mas
fez ressalvas. “Vim para ver e acho que as pessoas têm mesmo que se
manifestar. Só acho que deveriam ter uma bandeira única. Ficaria mais
organizado”, opinou ele, que preferiu não se identificar.
A chegada progressiva de apoiadores acabou registrada em uma grande
rede social, inclusive na página do evento Marcha do Vinagre. Por meio
dela, internautas trocaram informações e fotos sobre o protesto. Os
jovens ressaltaram a importância de manter a manifestação pacífica e
criticaram as ações de vandalismo e a violência no Rio de Janeiro. Por
volta das 20h30, um deles deixou o depoimento: “Acabei de chegar da
manifestação na Esplanada. Até o momento que saí (umas sete e pouco),
ela estava muito tranquila. Foi uma visão muito bonita, a Esplanada
anoitecendo e o povo cantando: ‘Eu sou brasileiro’. Um grupo isolado
começou a jogar água na polícia, mas todo mundo os vaiou (sic)”.
História
Moradora de Taguatinga, Renata Macedo, 25 anos, estava em casa
assistindo à televisão quando viu imagens da manifestação em Brasília.
“Virei para o meu marido e disse: ‘Não podemos ficar em casa. Tem gente
se manifestando até nos Estados Unidos’”, contou. Ela pegou o filho
Juan, de 4 anos, e seguiu para a Esplanada dos Ministérios, onde se
juntou aos ativistas com o menino no colo. “É um absurdo, pois 80% das
pessoas aqui são jovens. Os adultos, que tanto reclamam, não saem de
casa. O meu filho vai crescer com consciência e, um dia, vai poder dizer
que participou de um movimento democrático”, ressaltou a mãe.
Professor de história, Leornado Pinelli, 20 anos, saiu de casa para
fazer história. “É a primeira vez que fazemos isso, tomar o Congresso
Nacional”, vibrava, ao ver o monumento tomado por cidadãos comuns. “É o
primeiro passo contra um grande gigante, que é a corrupção”, bradou o
educador.
Reforço policial
Em reunião com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, o
presidente em exercício da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR),
afirmou ser legítima a manifestação. O deputado chegou a Brasília depois
do início da passeata. Os dois se encontraram no gabinete do
governador, no Palácio do Buriti. Vargas pediu a Agnelo o aumento do
efetivo policial, preocupado com a segurança dos manifestantes e dos
servidores, além da preservação do patrimônio público. Segundo nota
divulgada ontem à noite, o governador atendeu a solicitação para evitar a
depredação do Congresso. “Ainda que não se tenha identificado qualquer
líder ou interlocutor, bem como as suas reivindicações, o presidente
acredita no bom senso dos manifestantes para manter a manifestação de
forma pacífica”, informou o texto.
Fonte: Correio Braziliense - Participaram da cobertura Almiro Marcos, Ana Pompeu, Ariadne Sakkis,
Clara Campoli, Gabriella Furquim, Kelly Almeida, Maryna Lacerda e Renato
Alves.
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