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terça-feira, 18 de junho de 2013

"Inverno Brasileiro": Do vinagre ao Congresso

O movimento começou tímido, no início da tarde, mas, em pouco tempo, pelo menos 10 mil pessoas tomaram a Esplanada a partir da Rodoviária. Muitos servidores públicos, de terno e gravata, participaram do protesto 


Por volta das 15h, havia apenas cerca de 50 jovens e uma caixa de papelão deixada sob um dos bancos de concreto da praça do Complexo Cultural da República. Nela, um cartaz simples oferecia vinagre de graça. Dentro, havia seis garrafas do líquido. Uma hora depois, já eram mais de 200 pessoas, a maioria estudantes do ensino médio e universitários. Muitos adolescentes, com espinhas no rosto, andando de skate pelo enorme piso de concreto.

O grupo tomou a rua, pontualmente, às 17h, horário marcado para o início da passeata, quando somavam cerca de 2 mil manifestantes. No caminho, a eles foram se juntando amigos, colegas, usuários de ônibus que tomariam a condução na Rodoviária do Plano Piloto e servidores públicos, além de gente que estava em casa e saiu para protestar, tocada pela mobilização. À noite, em frente ao Congresso Nacional, eles já eram mais de 10 mil.

Primeiro, conforme o combinado com a Polícia Militar, os manifestantes ocuparam três das seis pistas do Eixo Monumental, no sentido Congresso. Mas logo os PMs cederam e os deixaram ficar em quatro faixas. Um grupo de cerca de 20 punks invadiu as outras duas. Houve um início de confusão, mas os demais ativistas rechaçaram a atitude e todos voltaram a caminhar pelas quatro pistas. Mesmo com provocações, os policiais não usaram a força ao longo da passeata. Não havia integrantes do Bope, da Tropa de Choque nem da cavalaria.

Ao anoitecer, após o expediente nos ministérios, juntaram-se aos manifestantes homens de terno e gravata e mulheres com crachás no pescoço. A servidora pública Maria de Castro, 35 anos, trabalha na Esplanada e disse que, quando viu as pessoas passando, decidiu descer do prédio. “Li sobre o movimento no Facebook e me solidarizei com eles, que sofreram tanta violência na porta do estádio no sábado”, contou, referindo-se ao confronto entre manifestantes e policiais na abertura da Copa das Confederações.

Como ela, outros servidores federais aderiram à marcha depois de bater o ponto. De terno e gravata, um funcionário endossou a movimentação, mas fez ressalvas. “Vim para ver e acho que as pessoas têm mesmo que se manifestar. Só acho que deveriam ter uma bandeira única. Ficaria mais organizado”, opinou ele, que preferiu não se identificar.

A chegada progressiva de apoiadores acabou registrada em uma grande rede social, inclusive na página do evento Marcha do Vinagre. Por meio dela, internautas trocaram informações e fotos sobre o protesto. Os jovens ressaltaram a importância de manter a manifestação pacífica e criticaram as ações de vandalismo e a violência no Rio de Janeiro. Por volta das 20h30, um deles deixou o depoimento: “Acabei de chegar da manifestação na Esplanada. Até o momento que saí (umas sete e pouco), ela estava muito tranquila. Foi uma visão muito bonita, a Esplanada anoitecendo e o povo cantando: ‘Eu sou brasileiro’. Um grupo isolado começou a jogar água na polícia, mas todo mundo os vaiou (sic)”.

História

Moradora de Taguatinga, Renata Macedo, 25 anos, estava em casa assistindo à televisão quando viu imagens da manifestação em Brasília. “Virei para o meu marido e disse: ‘Não podemos ficar em casa. Tem gente se manifestando até nos Estados Unidos’”, contou. Ela pegou o filho Juan, de 4 anos, e seguiu para a Esplanada dos Ministérios, onde se juntou aos ativistas com o menino no colo. “É um absurdo, pois 80% das pessoas aqui são jovens. Os adultos, que tanto reclamam, não saem de casa. O meu filho vai crescer com consciência e, um dia, vai poder dizer que participou de um movimento democrático”, ressaltou a mãe.

Professor de história, Leornado Pinelli, 20 anos, saiu de casa para fazer história. “É a primeira vez que fazemos isso, tomar o Congresso Nacional”, vibrava, ao ver o monumento tomado por cidadãos comuns. “É o primeiro passo contra um grande gigante, que é a corrupção”, bradou o educador.

Reforço policial

Em reunião com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, o presidente em exercício da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), afirmou ser legítima a manifestação. O deputado chegou a Brasília depois do início da passeata. Os dois se encontraram no gabinete do governador, no Palácio do Buriti. Vargas pediu a Agnelo o aumento do efetivo policial, preocupado com a segurança dos manifestantes e dos servidores, além da preservação do patrimônio público. Segundo nota divulgada ontem à noite, o governador atendeu a solicitação para evitar a depredação do Congresso. “Ainda que não se tenha identificado qualquer líder ou interlocutor, bem como as suas reivindicações, o presidente acredita no bom senso dos manifestantes para manter a manifestação de forma pacífica”, informou o texto.

Fonte: Correio Braziliense - Participaram da cobertura Almiro Marcos, Ana Pompeu, Ariadne Sakkis, Clara Campoli, Gabriella Furquim, Kelly Almeida, Maryna Lacerda e Renato Alves.

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