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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Cachê derruba administrador

Valor alto pago ao cantor Amado Batista no aniversário do Itapoã, mostrado pelo Correio, causou a exoneração de Donizete dos Santos. O artista foi contratado por R$ 400 mil, ou quase três vezes mais do que ele ganha em apresentações pelo país afora 

Centro do Itapoã: a cidade que fez aniversário em março é uma das mais carentes do Distrito Federal
O gasto milionário com a festa de aniversário do Itapoã, denunciado pelo Correio, levou à demissão do administrador regional da cidade. A exoneração de Donizete dos Santos, que estava no cargo desde agosto do ano passado, foi publicada na edição de ontem do Diário Oficial do DF. O governador Agnelo Queiroz ainda não nomeou o substituto. Donizete havia sido indicado para o posto pelo deputado federal Ronaldo Fonseca (PR-DF). Mas até mesmo o padrinho político de Donizete criticou em público o gasto exorbitante com o evento.

O aniversário do Itapoã custou R$ 1.050.000, dos quais R$ 400 mil foram reservados para a contratação do cantor romântico Amado Batista. O Ministério Público de Contas investiga suspeita de superfaturamento no cachê do artista e de outros músicos que se apresentaram durante a festa. O Correio revelou o caso no último dia 29. A reportagem fez um levantamento em diários oficiais de 15 prefeituras que contrataram Amado Batista para apresentações públicas.
 
Levantamento feito em 15 prefeituras mostra que o cachê médio de Amado Batista é R$ 150 mil

O cachê médio do cantor nesses casos foi de R$ 150 mil, quase três vezes menos do que o valor pago pela Administração Regional do Itapoã. Outras quantias chamaram a atenção do Ministério Público. O administrador pagou R$ 250 mil para a dupla sertaneja João Lucas e Marcelo se apresentar na festa, realizada em março.

No ano passado, os cantores receberam quatro vezes menos para um show pago pela Prefeitura de Palmas (TO), justamente na época em que estavam no auge com o hit Eu quero tchu, eu quero tcha. Os recursos destinados à festa de aniversário do Itapoã vieram de uma emenda apresentada pelo deputado Aylton Gomes (PR), do mesmo partido do padrinho político de Donizete dos Santos.

A empresa Mundo Tour Agência de Viagens , com sede no Hotel Nacional, foi a responsável pela contratação de Amado Batista, João Lucas e Marcelo e também da dupla Bruno e Marlow. Os donos declararam ser os representantes exclusivos desses artistas e, com isso, receberam R$ 784 mil pelas contratações. A Mundo Tour tem um histórico de contratações rentáveis com a Administração do Itapoã desde que Donizete assumiu o posto.

A empresa promoveu o Rodeio Show, circuito de Barretos (SP), evento que custou R$ 340 mil aos cofres públicos. No GDF, a empresa Mundo Tour embolsou R$ 1,2 milhão nos últimos dois anos e 90% vieram de gastos executados pela administração da região. Donizete dos Santos assumiu o cargo em agosto do ano passado. O administrador exonerado do Itapoã trabalhou na campanha do deputado Ronaldo Fonseca, que depois o indicou para o posto. Mas os gastos altos com o evento geraram críticas do próprio padrinho.

O deputado explicou ontem ao Correio que Donizete deixou o cargo porque causou constrangimento ao GDF com a decisão de contratar os shows. “Ele mesmo entendeu que não ficou bem, embora esteja disposto a justificar com transparência os gastos”, disse Fonseca. “O PR não alisa não. Mas quero ver os outros partidos. O Donizete está dando um exemplo. Os gastos com shows e festas ocorrem em todo o governo. O PR vai esperar quem são os outros que vão sair”, desafiou. 

Discrepância 

Ao tentar justificar a discrepância entre os cachês pagos a Amado Batista pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e o definido por prefeituras municipais, o administrador do Itapoã alegou que a apresentação realizada em uma das cidades mais pobres do DF custou mais caro por conta da duração. De acordo com a assessoria de imprensa da administração, foram três horas e meia de apresentação. Outra justificativa chama atenção. Segundo a assessoria do Itapoã, Batista ganhou R$ 400 mil para se apresentar na região porque, ao contrário do que ocorre em outras cidades, o artista não recorreu ao playback. A empresa Mundo Tour afirmou que o show foi mais longo que os contratados no mercado e que o valor inclui a diária de integrantes da banda.

Memória 

Gibi milionário 

Em Águas Claras, gastos milionários motivaram a demissão do administrador regional no ano passado. Manoel Carneiro acabou exonerado do posto em setembro, depois que o Correio mostrou que ele destinou R$ 1 milhão para a confecção de 250 mil gibis e CDs infantis. O recurso inicialmente estava reservado para investimentos em melhorias de infraestrutura na cidade, um pleito constante da comunidade da região. O material foi produzido pela editora Middle Way, cujo vice-presidente, Marcus Catharino, era amigo de Manoel Carneiro. A escolha da empresa para produzir o material ocorreu sem licitação. No ano passado, a Administração Regional de Águas Claras foi a campeã de gastos com shows e eventos culturais. Desembolsou mais de R$ 3 milhões para festas sem concorrência pública.

Fonte: Correio Braziliense - Por Helena Mader e Ana Maria Campos

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