Com votação menor que a esperada, oposição aguardará decisão do STF
O
bloco de oposição que se formou no Senado para se opor à candidatura de
Renan Calheiros (PMDB/AL) não deu os 25 votos esperados para Pedro
Taques (PDT/MT) - ele obteve 18 votos - e manteve postura comedida na
sessão. Os discursos mais críticos ao favorito ficaram restritos àqueles
que tradicionalmente se opõem ao grupo Renan-Sarney, como Pedro Simon
(PMDB/RS) e João Capiberibe (PSB/AP). Parlamentares de PSDB, PSB, PSOL e
PDT, partidos que lançaram a candidatura de Taques, evitaram ataques
mais pesados. O discurso de Taques, antes da votação, foi entendido por
alguns como carta branca para traição no seu próprio grupo, quando
sugeriu que a eleição de Renan se daria em meio ao "silêncio dos
covardes".
Com discurso pela ética, Taques se colocou como a candidatura da
esperança, mas já admitindo a derrota, e por vezes citou nominalmente
vários colegas ao afirmar que era a opção daqueles que não aceitam a
continuidade e que defendem a Ficha Limpa:
- Sou o titular da perda anunciada, do que não acontecerá. Pois existem
vitórias que elevam o gênero humano e outras que o rebaixam. Vitórias
da esperança e vitórias do desalento. E, tantas vezes, é entre os
derrotados, os que perderam, os que não conseguiram, que o espírito
humano mais se mostra elevado, que a política renasce - discursou. -
Peço o voto de cada senador. Ouçam esse silêncio. É o silêncio do
covarde, de quem tem medo. Sintam esse silêncio. Esse é o silêncio de
quem aceita, de quem não resiste. Expresso a vossa excelência, senador
Renan, meus respeitos pessoais.
Simon relembra renúncia
Simon relembra renúncia
Taques questionou se seu oponente teria a mesma postura, de "impugnar exageros" do Executivo no Congresso:
- O passado não precisa necessariamente voltar, há modos novos e
melhores de fazer política. Esta Casa não é um apêndice, um puxadinho do
Executivo. Chega do Senado-perdigueiro, do Senado-sabujo, somos
senadores, não leva e traz do Executivo! - exclamou: - Posso ser um
perdedor, mas para mim, a lisura, a transparência são predicados
inegociáveis de um presidente do Senado. Será que os vencedores também
poderão dizê-lo?
Antes de Taques, Simon relembrou a renúncia de Renan em 2007, e o
aconselhou a desistir da disputa para não trazer de volta os fatos
negativos. O senador gaúcho alegou que Renan sofrerá, inevitavelmente,
novo processo na Comissão de Ética da Casa, caso o Supremo decida
receber a denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel:
- Ele se elege hoje, e quarta ou quinta-feira o Supremo aceita a
representação, e inicia-se um processo lá. E, iniciando um processo lá,
vai iniciar um aqui. É evidente que se vai mandar para a Comissão de
Ética um debate sobre essa matéria. Vão repetir o filme que já
aconteceu.
O senador João Capiberibe (PSB/AP), inimigo político de José Sarney
(PMDB/AP), padrinho da candidatura de Renan, também disparou:
- A decisão está em nossas mãos. Reflitam companheiros. Temos dois
candidatos: um velho, desgastado e com telhado de vidro, e outro que
representa o novo, a oxigenação do Senado.
Outros senadores que costumam fazer oposição mais ferrenha, como Álvaro
Dias (PSDB/PR) e Randolfe Rodrigues (PSOL/AP), preferiram discursos
contidos. Ambos optaram por uma defesa do candidato de oposição, Pedro
Taques (PDT/MT), em vez de críticas a Renan.
- O PSDB confia na capacidade e sobretudo na postura ética do senador
Taques, para verbalizar nossas aspirações, que queremos sejam também as
do povo na direção de um novo tempo, com a postura republicana que se
exige de quem preside esta Casa - afirmou Dias.
- A candidatura que apresentei, há alguns dias, foi como forma de
reagir, para dizer que não concordamos com este falso consenso. A
candidatura a que renunciei, ontem (anteontem), foi também como forma de
reação, porque tenho muito orgulho de ter renunciado à candidatura para
um dos melhores homens, que tem valores republicanos, neste plenário,
que é o senador Taques - pontuou Randolfe.
Logo após o anúncio da derrota, Taques afirmou que aguarda decisão do
STF para avaliar se o grupo independente vai apresentar denúncia contra
Renan no Conselho de Ética.
- Isso será analisado pelos senadores depois do carnaval, e vai
depender do recebimento ou não da denúncia pelo STF. Isso (processo no
Supremo) é o Judiciário que vai decidir, o Judiciário tem que dar uma
resposta à sociedade brasileira. Confio no Judiciário do Brasil, o
exemplo é o mensalão. Temos quadrilheiros e corruptos que este ano
dormirão em um local que não seja sua casa - afirmou Taques, destacando
que o PGR ofertou denúncia "seríssima" contra Renan.
Em tom combativo, Taques também classificou como "covardes" os
senadores que votaram nulo ou em branco. Ao todo, dois votaram em branco
e outros dois anularam seus votos.
Fonte: O Globo - Por Júnia Gama, Maria Lima e Fernanda Krakovics
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