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sábado, 1 de dezembro de 2012

Operação Porto Seguro: Rosemary pediu aos irmãos Vieira obras para construtora do marido

New Talent tentou atuar em aeroportos e fechou contrato com empresa do BB 


A pedido da ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Novoa de Noronha, os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas, e Rubens Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Avião Civil, atuaram para tentar obter contratos de obras em vários empreendimentos para a construtora New Talent, comandada pelo marido de Rosemary, João Batista de Oliveira, segundo o inquérito da PF.

A New Talent teria tentado obter contratos de obras em aeroportos. Nos relatórios do inquérito da Operação Porto Seguro, a PF diz acreditar que Paulo Vieira estava tentando ajudar a construtora a ganhar obras nos aeroportos de Viracopos, em Campinas (SP), e de Guarulhos (SP).

Além disso, a empresa conseguiu fechar um acordo com a Cobra, empresa de tecnologia gerenciada pelo Banco do Brasil, depois que Paulo Vieira obteve um documento supostamente falso para beneficiá-la.

Para a PF, apesar de João Batista de Oliveira não constar como sócio da New Talent, era ele quem comandava a construtora, que foi registrada em nome de parentes do casal.

Reclamação por e-mail

Em e-mail de 17 de maio de 2012, Rosemary cobra de Paulo Vieira que ajude a construtora, e reclama que a situação “está complicada”. “Ele é meu marido, quero o melhor para ele, até para que eu possa trabalhar sossegada”, escreve ela.

No texto, Rosemary afirma que a construtora já tem uma obra garantida, com empresa identificada apenas como “O”, mas reclama que o lucro é muito pequeno para responsabilidade demais. E diz: “A questão com Rubens é a que mais interessa realmente”.

No mesmo dia, Paulo Vieira responde a Rosemary: “Acho que há boas chances de conseguirmos em Campinas”. Em 18 de maio, ele diz que fará “das tripas coração” para tentar ajudar Rosemary. “Com relação a tempo, só temos como encaminhar após os contratos de concessão, que ainda não foram assinados, tudo isso deve rolar no 2º semestre”, referindo-se à concessão de Viracopos à iniciativa privada.

Mas a ex-chefe de gabinete diz, então, que Campinas é longe e que prefere que Paulo Vieira consiga alguma obra em São Paulo. O ex-diretor da ANA diz que é mais fácil conseguir em Campinas, pois ele “tem amizade com o pessoal” da cidade. Mas Rosemary insiste: “O Rubens disse que em Guarulhos dava...”

A Infraero, que até novembro administrava os aeroportos de Guarulhos e Viracopos, informou que não há registro de pagamentos para a New Talent. As empresas que passaram a gerenciar os terminais quando eles foram privatizados informaram que não contrataram a New Talent.

Em 2010, a New Talent assinou contrato de R$ 1,12 milhão com a Cobra, empresa de tecnologia do Banco do Brasil. Para obter o contrato, a construtora se valeu de um atestado de capacidade técnica supostamente falso emitido pela Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro (Facic), comandada pela mulher de Paulo Vieira.

Atestado “conforme combinado”

O atestado diz que a New Talent fez uma obra de R$ 2,8 milhões para a Associação Cultural Nossa Senhora Aparecida, mantenedora da Facic. Relatório anexo ao inquérito da PF mostra a troca de e-mails em que Rosemary pediu a Paulo Vieira que providenciasse o atestado. Ela enviou um arquivo anexo com o texto já redigido. “Conforme combinado, por gentileza, coloque no papel timbrado da Facic e me devolva, não precisa se preocupar”, escreveu ela, no e-mail.

Apesar de o pedido ter sido feito em 28 de abril de 2010, o atestado foi emitido com data de 17 de dezembro de 2009. Em 11 de maio de 2010, Oliveira mandou um e-mail com o contrato entre a New Talent e a Cobra. Paulo Vieira encaminhou o e-mail para Rubens, que fez algumas observações, como a necessidade de uso de crachá pelos funcionários da construtora. O contrato é para reforma e adequação do centro de impressão da Cobra, em Barueri (SP).

O Banco do Brasil informou que não se pronunciará sobre o contrato.

Paulo Vieira desconfiava da qualidade dos serviços prestados pela New Talent. Ele temia que seu apartamento, que foi reformado pela empresa do marido de Rosemary, desabasse. Com o engenheiro Carlos César Floriano, Paulo desabafou: “Eu deixei a Rose tomar conta disso aí, sem entender, e colocar aquele doido dela”.

O registro da New Talent na Junta Comercial de SP mostra que o capital é de R$ 120 mil e que a empresa foi criada em julho de 2009.

Fonte: O Globo

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