O PSDB protocolou na Procuradoria da República uma representação de 470
páginas. Endereçada ao procurador-geral Roberto Gurgel, a petição pede
que o Ministério Público realize a investigação que a CPI do Cachoeira
decidiu não fazer. A encrenca envolve repasses milionários feitos pela
construtora Delta a empresas de fachada. ...
“A coisa é gravíssima, um escândalo monumental”, diz o líder do PSDB no
Senado Alvaro Dias (PR). “Se o Ministério Público investigar, vai
revelar a maior corrupção já registrada na história do país”. Além de
Alvaro, assinam a peça o líder tucano na Câmara, Bruno Araújo (PE), e os
representantes do partido na CPI.
Constam da representação os dados bancários das seis empresas de
fachada que tiveram os sigilos quebrados pela comissão, todas vinculadas
à quadrilha de Carlinhos Cachoeira e localizadas no Centro-Oeste.
Segundo Alvaro, receberam da Delta notáveis R$ 421 milhões. O dinheiro
teve origem no setor público –União, Estados e municípios. O grosso
“veio do governo federal, principalmente do Dnit”, afirma o líder
tucano.
De resto, o documento do PSDB informa à Procuradoria os nomes das
empresas que, embora já identificadas, a CPI decidiu que não terão os
sigilos bancário e fiscal quebrados. São 29 logomarcas. A maioria
registrada no eixo Rio-São Paulo. Extratos da Delta e um relatório do
Coaf (órgão que fiscaliza movimentações bancárias atípicas) indicam que
também essas empresas receberam repasses malcheirosos da construtora.
“Não há dúvida quanto à natureza das transações. As empresas jamais
produziram coisa nenhuma, não realizaram obras. São laranjas”, declara
Alvaro Dias. “Estamos recorrendo ao Ministério Público porque os
procuradores que estiveram na CPI, quando indagados se tinham
investigado a Delta, disseram taxativamente que não investigaram. foram
taxativos. Portanto, alguém precisa realizar esse trabalho.”
A apuração não será simples. Sabe-se que o dinheiro migrou de arcas
públicas para a caixa registradora da Delta. Sabe-se também que, depois,
foi transferido para a rede de laranjas. A partir daí, adensa-se o
mistério. Os milhões deixaram o sistema bancário por meio de saques
feitos na boca do caixa. “Nesse ponto, o esquema é parecido com o
mensalão”, compara Alvaro, dando asas à suspeita de que há políticos
entre os beneficiários.
Álvaro Dias requereu à Mesa diretora do Senado a transcrição da íntegra
da representação do PSDB nos anais do Senado. Ao fazê-lo, reproduziu os
versos da canção ‘Vai Passar’, de Chico Buarque, que o procurador-geral
Gurgel recitara ao ler suas alegações finais na abertura do julgamento
do mensalão, em agosto: “Dormia nossa Pátria mãe tão distraída, sem
perceber que era subtraída em tenebrosas transações”.
Fonte: Blog do Josias de Souza
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