Imagens divulgadas pelo jornalista da Band, Fabio
Pannunzio, revelam que o ex-delegado e hoje deputado mudou trama que
envolve o contrabandista; assista
Claudio Julio Tognolli _247 - O âncora da TV Bandeirantes e repórter investigativo Fabio Pannunzio postou nesta quarta-feira mais um dissuasivo nuclear em seu blog.
Trata-se de mais um trecho do vídeo produzido pelos advogados de Law
Kin Chong, na tentativa de demonstrar que ele foi vítima de extorsão
pelo então deputado Luiz Antônio Medeiros.
A pergunta que não quer calar é: por que o delegado que prendeu Law, o
hoje deputado Protógenes Queiroz, mudou a trama da história? Por que
Medeiros, que na verdade era corruptor, foi vendido por Protógenes como
corrompido?
Confira abaixo o novo vídeo:
Nm outro vídeo divulgado há dois dias,
Pannunzio trouxe trechos inéditos de um encontro entre Medeiros e Chong
em 2007, em que o ex-parlamentar negocia valores e datas de pagamento
livremente com o empresário, em uma postura mais ativa do que foi
publicado até então.
Os trechos conhecidos à época mostravam apenas Chong "pechinchando" e
pedindo para pagar em maior número de parcelas. O material foi gravado
por uma equipe da Polícia Federal, que utilizou a primeira versão
editada como prova de que o chinês havia tentado atrapalhar as
investigações da CPI. As informações e o vídeo também foram divulgados
pelo blog do Fábio Pannunzio.
Para o jornalista, as cenas divulgadas mostram que o delegado da
Polícia Federal que conduzia a investigação, o agora deputado Protógenes
Queiroz (PC do B-SP), deixou de utilizar as provas que poderiam ter
colocado Medeiros na cadeia. "Pelo que se pode depreender da cena, é o
deputado quem pede dinheiro ao contrabandista, e não o contrário",
escreveu Pannunzio.
"Até hoje não está claro por que Protógenes Queiroz preferiu
transformar uma vítima de extorsão em corruptor ativo sem molestar o
verdadeiro criminoso — deputado que o extorquia", completa.
Sabe-se que foi a história distorcida, de Law ter corrompido
Medeiros, a divulgada pela TV Globo com exclusividade. A mesma equipe
que divulgou esse flagrante, ao que tudo indica fojado, divulgou trechos
da Operação Satiagraha, ora posta em xeque pelo STF. A pergiunta não
respondida ainda é: era Protógenes que editava esses videos de Law, e da
Operação Satiagraha, ou a TV Globo fazia-lhe o service sujo em troca do
furo jornalístico?
Sobre o video postado nesta quarta-feira, Pannunzio teceu novas considerações. Confira o que escreveu Fabio Pannunzio:
"Aí pode-se ver que é muito difícil saber exatamente quais foram
as motivações dos protagonistas das cenas. Medeiros presida a CPI da
Pirataria, que investigava os negócios tortos do comerciante
sino-Brasileiro.Mas há uma afirmação que é possível fazer com base
nessas imagens — sem medo de errar: elas registram algo muito, muito
errado mesmo.
Aceitei a sugestão do professor Flávio F. Farias, que é um dos
comentaristas mais ativos (e críticos) do Blog do Pannunzio, e fui ler a
entrevista que o deputado Protégenes Queiroz concedeu à revista Caros
Amigos em 2008. Já conhecia a versão. Mas, ao cotejar as declarações do
deputado com a cena que se desenrola no vídeo, fiquei ainda mais
atônito.
O ex-delegado afirmou nessa entrevista que , após cinco anos
investigando suas atividades ilegais, havia finalmente encontrado o
Calcanhar de Aquiles do contrabandista: "Qual seria a espinha dorsal
dele? Contrabando e pirataria, talvez atividades municipais. Aqui, vou
bater nele e voltar. Passo cinco anos investigando e busquei a via mais
frágil, a corrupção", disse Protógenes à revista.
A estratégia ganhou forma quando o delegado foi procurado pelo
deputado: "O Law quer me dar dois milhões de dólares para deixá-lo fora
da CPI", teria dito Luiz Antônio Medeiros.
Esse valor, diga-se de passagem, não é mencionado em nenhum
momento das várias conversas mantidas entre os estrategistas da fraude.
Fala-se o tempo todo em três milhões, três milhões e meio de reais,
valor arbitrado em conjunto pelos lobistas dos dois lados. Ao final,
ajustou-se a propina em R$ 1,5 milhão.
O preposto de Medeiros na negociação foi o policial rodoviário
Antônio Fernando Miranda, assessor de seu gabinete. É notória a
ascendência que exerce sobre ele o preposto do contrabandista, o
despachante Pedro Lindolfo, que se apresentava como advogado de Law.
É notório também que Pedro Lindolfo está trapaceando seu cliente.
É ele quem alerta para o fato de que as pretensões de Medeiros — "500
mil, 600 mil reais" — eram pequenas para o que poderia amealhar de Law
King Chong. Estava roubando o patrão em conluio com o estafeta do
extorsionário.
Vamos voltar ao que disse Protógenes a Caros Amigos. "O deputado
passa a fazer uma ação controlada. Fernando fica com medo. Falei
"deputado, não vou perder esse trabalho, haverá um prejuízo grande para a
sociedade", "qual a saída?", "precisa arrumar outro", "quem?", "o
senhor", "eu?","sim, você não foi do Partido Comunista? Não foi exilado
na Rússia? Tem todos os requisitos pra uma operação de infiltração", "eu
topo". Firmeza. Falei "o Law não confia em ninguém, chega um momento
que tem que estar presente com o dono do negócio, e o senhor é o dono".
Desta forma, o delegado se ufana de ter transformado um
parlamentar federal em uma espécie de X-9 da PF. Medeiros topou o papel
de isca . Teria se saído bem, na versão sustentada por Protógenes.
"Esse vídeo é fantástico. Um diálogo sugestionado por nós", gaba-se o
presidente da investigação.
O restante da história está contido nas imagens que publico
agora. Apesar de editado, de ter sido produzido por uma fonte
interessada (os advogados de Law), há no vídeo uma riqueza de detalhes
sobre a preparação do flagrante.
O tempo todo, é Medeiros quem induz o contrabandista ao
cometimento do crime. É ele quem pede, é ele quem estabelece as
condições de pagamento, é ele quem pergunta o que Law Kin Chong quer do
relatório da CPI.
A performanece do deputado é digna de um ganster. Se estava
nervoso como relata o delegado, nem de longe deixou transparecer. E aí
vem a pergunta que abre este post: se não era para achacar o
comerciante, por que Medeiro se comportou como um extorsionário? Que
papel é esse, deputados ?
A resposta é óbvia: se não estava ali para achacar o
contrabandista, o presidente da CPI da Pirataria estava funcionando como
elemento auxiliar de uma aberração jurídica. Para prender Law,
Protógenes necessitava de uma prova robusta, não dos indícios dos
problemas "municipais". Precisava preparar um flagrante. E flagrante
preparado é absolutamente ilegal, de acordo com a jurispurdência
condensada na Súmula 145 do STJ. Ela prescreve que " não há crime,
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação."
Aceitar sem questionar a versão de que a cena não registra
flagrante de uma extorsão, e sim a preparação do flagrante de corrupção,
não melhora as coisas para o ex-deputado — e piora para o então
delegado. Protógenes Queiroz, que ilustra sua biografia com prisões
espetaculares, sempre testemunhadas de muito perto por uma rede de
televisão, produz uma prova contaminada, um factóide jurídico que
poderia facilmente contaminar todo o processo, como aconterceu em outro
caso rumoroso protagonizado pelo ex-delegado.
Foi por agir muito além dos limites legais de sua atuação que
Protógenes Queiroz conseguiu o feito de anular sua maior conquista como
policial: a prisão do banqueiro Daniel Dantas. Se deve a alguém o mérito
pelo fim dos problemas judiciais decorrentes da Operação Satiagraha, é a
Protógenes que o banqueiro precisa agradecer. Foi ele quem provocou a
anulação do inquérito ao infiltrar indevidamente agentes da ABIN na
investigação e até cooptar jornalistas para trabalhar na materialização
de provas que, mais tarde, o STJ iria desqualificar por estarem
contaminadas.
Eivada de vícios análogos aos do caso Law, a conduta do delegado
na Operação Satiagraha valeu a Protógenes uma acusação de fraude
processual que aguarda julgamento no STF. Ele é acusado de ter
manipulado as imagens em que um emissário de Dantas foi filmado
supostamente oferecendo um milhão de reais de propina para livrar a cara
do banqueiro. Às cenas, captadas pelas câmeras da Rede Globo, foi
sobreposta uma trilha de áudio gravado em um telefone celular.
A repetição desse tipo de comportamento define uma espécie de um
método (ou modus operandi, ou know-how) heterodoxo de investigação
reiteradamente utilizado por Protógenes Queiroz ao longo de sua atuação
como delegado da Polícia Federal. Foi assim que ele conseguiu o
prestígio que acabou contribuindo para elegê-lo deputado federal. A fama
de durão, portanto, decorre não apenas de sua aparente obstinação em
combater a corrupção — mas também de uma atuação deliberada na
preparação dos flagrantes que ilustraram sua reputação.
A entrevista sugerida pelo leitor Flávio Farias traz outros
elementos definidores do método de investigação do delegado Protógenes: a
utilização da mentira como arma de ataque. Na matéria, sem nenhum
elemento de prova que sustentasse a afirmação, ele injuriou Reinhold
Stephanes ao dizer que o ex-ministro da Agricultura participava de um
esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas ao tempo em que
presidiu o Banestado. Stephanes o processou e Protógenes teve que se
retratar, reconhecendo que fizera as afirmações infamantes a despeito de
ter "conhecimento parcial" de que elas eram inverídicas.
Fonte: Brasília 247 - 23 de Maio de 2012 às 13:41
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