Depoentes desta quinta na CPI do Cachoeira, os arapongas
Jairo Martins e Idalberto Matias redefiniram, de forma abjeta, o
conceito de escândalo no Brasil; mais do que ninguém compreenderam que
uma imagem vale mais do que mil palavras e, assim, construíram o braço
midiático da quadrilha
247 – Uma imagem vale mais do que mil
palavras. Nos últimos anos, esta frase redefiniu o conceito de escândalo
político no Brasil. E deu a duas figuras que trafegam há anos pelo
submundo de Brasília um papel de destaque na imprensa brasileira. O
policial Jairo Martins e o sargento Idalberto Matias, depoentes desta
quinta-feira na CPI do Cachoeira, na prática, são responsáveis por
alguns prêmios de jornalismo obtidos por repórteres ditos
investigativos.
A relação mais forte se deu com Policarpo Júnior, da
revista Veja, mas não apenas com ele. E foi essa influência midiática
que deu ao bicheiro Carlos Cachoeira condições para se tornar uma das
figuras mais perigosas da República.
A cena filmada de um escândalo foi a forma encontrada para resumir
uma denúncia, sem necessidade de título, olho, legenda ou de maiores
explicações. Era a imagem-símbolo, o chamado “batom na cueca”. Em 2002,
um dos primeiros exemplos disso foi a foto do dinheiro apreendido na
empresa Lunus, em São Luís, que ajudou a implodir a pré-candidatura de
Roseana Sarney à presidência da República. Atribui-se a José Serra a
produção do escândalo, divulgado em Época, mas hoje se sabe que um dos
responsáveis pela montagem da cena foi o promotor José Roberto Santoro,
parceiro de Dadá em outras empreitadas. Dois anos depois, Época também
divulgou a fita do caso Waldomiro Diniz, produzida por Dadá e Cachoeira,
que representou o primeiro escândalo do governo Lula.
Em 2005, Policarpo Júnior publicou reportagem sobre Maurício Marinho,
dos Correios, que aparecia recebendo uma propina de R$ 3 mil. A técnica
da filmagem, que utilizou uma mala-câmera 007, foi ensinada por Jairo
Martins a um interlocutor de Marinho. Meses depois, quando depôs na CPI
dos Correios, Jairo já havia insinuado que, na prática, era um dos
melhores repórteres de Veja. No mesmo ano, o policial se infiltrou na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e produziu supostas evidências
de que deputados fluminenses pretendiam extorquir Carlos Cachoeira – a
reportagem, também publicada em Veja, por Policarpo, impediu a prisão de
Cachoeira, sete anos atrás.
Ao longo do tempo, a parceria entre o maior contraventor e a maior
revista semanal do País foi se consolidando. Em seu código de ética,
recentemente publicado na internet, Veja defende a tese de que o
relacionamento de jornalistas com fontes criminosas é válido quando
atende ao interesse público e permite reduzir o raio de ação de
corruptos – inclusive das fontes.
Evidentemente, no caso Veja-Cachoeira,
a coabitação com uma revista de grande circulação fez do bicheiro uma
figura muito mais poderosa do que ele seria sem um braço midiático. E
Veja tinha pleno conhecimento de quais eram as atividades do “empresário
de jogos”. Tanto que, num grampo, Dadá foi alertado por um repórter da
revista para que não se preocupasse, pois o alvo de uma reportagem era o
ex-ministro José Dirceu – e não a construtora Delta.
Não se sabe se, nesta quinta, Dadá e Jairo irão falar alguma coisa ou
se irão seguir o exemplo do chefe Cachoeira. Mas é impossível
compreender a lógica da quadrilha sem desvendar, a fundo, quais eram
todos os tentáculos do seu braço midiático. É também por isso que o
Brasil sairia ganhando se jornalistas se dispusessem a falar sobre suas
relações com suas fontes.
Nem sempre, no entanto, os filmes de Dadá e Jairo produziram grandes
resultados. A última produção cinematográfica dos “estúdios Cachoeira”,
dirigida pela dupla de arapongas, foi a filmagem de autoridades públicas
no Hotel Naoum, em Brasília. O que Veja pretendia vender como grande
escândalo se voltou contra a própria revista, revelando o grau de
associação entre a publicação e um bicheiro.
Fonte: Brasília 247 - 24 de Maio de 2012 às 07:43
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