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quinta-feira, 24 de maio de 2012

JAIRO E DADÁ, OS "HERÓIS" DO JORNALISMO INVESTIGATIVO

Jairo e Dadá, os “heróis” do jornalismo investigativo 
Depoentes desta quinta na CPI do Cachoeira, os arapongas Jairo Martins e Idalberto Matias redefiniram, de forma abjeta, o conceito de escândalo no Brasil; mais do que ninguém compreenderam que uma imagem vale mais do que mil palavras e, assim, construíram o braço midiático da quadrilha

247 – Uma imagem vale mais do que mil palavras. Nos últimos anos, esta frase redefiniu o conceito de escândalo político no Brasil. E deu a duas figuras que trafegam há anos pelo submundo de Brasília um papel de destaque na imprensa brasileira. O policial Jairo Martins e o sargento Idalberto Matias, depoentes desta quinta-feira na CPI do Cachoeira, na prática, são responsáveis por alguns prêmios de jornalismo obtidos por repórteres ditos investigativos.

A relação mais forte se deu com Policarpo Júnior, da revista Veja, mas não apenas com ele. E foi essa influência midiática que deu ao bicheiro Carlos Cachoeira condições para se tornar uma das figuras mais perigosas da República.

A cena filmada de um escândalo foi a forma encontrada para resumir uma denúncia, sem necessidade de título, olho, legenda ou de maiores explicações. Era a imagem-símbolo, o chamado “batom na cueca”. Em 2002, um dos primeiros exemplos disso foi a foto do dinheiro apreendido na empresa Lunus, em São Luís, que ajudou a implodir a pré-candidatura de Roseana Sarney à presidência da República. Atribui-se a José Serra a produção do escândalo, divulgado em Época, mas hoje se sabe que um dos responsáveis pela montagem da cena foi o promotor José Roberto Santoro, parceiro de Dadá em outras empreitadas. Dois anos depois, Época também divulgou a fita do caso Waldomiro Diniz, produzida por Dadá e Cachoeira, que representou o primeiro escândalo do governo Lula.

Em 2005, Policarpo Júnior publicou reportagem sobre Maurício Marinho, dos Correios, que aparecia recebendo uma propina de R$ 3 mil. A técnica da filmagem, que utilizou uma mala-câmera 007, foi ensinada por Jairo Martins a um interlocutor de Marinho. Meses depois, quando depôs na CPI dos Correios, Jairo já havia insinuado que, na prática, era um dos melhores repórteres de Veja. No mesmo ano, o policial se infiltrou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e produziu supostas evidências de que deputados fluminenses pretendiam extorquir Carlos Cachoeira – a reportagem, também publicada em Veja, por Policarpo, impediu a prisão de Cachoeira, sete anos atrás.

Ao longo do tempo, a parceria entre o maior contraventor e a maior revista semanal do País foi se consolidando. Em seu código de ética, recentemente publicado na internet, Veja defende a tese de que o relacionamento de jornalistas com fontes criminosas é válido quando atende ao interesse público e permite reduzir o raio de ação de corruptos – inclusive das fontes. 

Evidentemente, no caso Veja-Cachoeira, a coabitação com uma revista de grande circulação fez do bicheiro uma figura muito mais poderosa do que ele seria sem um braço midiático. E Veja tinha pleno conhecimento de quais eram as atividades do “empresário de jogos”. Tanto que, num grampo, Dadá foi alertado por um repórter da revista para que não se preocupasse, pois o alvo de uma reportagem era o ex-ministro José Dirceu – e não a construtora Delta.

Não se sabe se, nesta quinta, Dadá e Jairo irão falar alguma coisa ou se irão seguir o exemplo do chefe Cachoeira. Mas é impossível compreender a lógica da quadrilha sem desvendar, a fundo, quais eram todos os tentáculos do seu braço midiático. É também por isso que o Brasil sairia ganhando se jornalistas se dispusessem a falar sobre suas relações com suas fontes.

Nem sempre, no entanto, os filmes de Dadá e Jairo produziram grandes resultados. A última produção cinematográfica dos “estúdios Cachoeira”, dirigida pela dupla de arapongas, foi a filmagem de autoridades públicas no Hotel Naoum, em Brasília. O que Veja pretendia vender como grande escândalo se voltou contra a própria revista, revelando o grau de associação entre a publicação e um bicheiro.

Fonte: Brasília 247 - 24 de Maio de 2012 às 07:43

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