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REINALDO AZEVEDO |
Essa é a novidade (já nem tão nova assim) que as esquerdas no poder trouxeram no que diz respeito à opinião pública. Quando elas estavam na oposição, a imprensa era sua aliada incondicional. Ao menor sinal de irregularidade — e olhem que eles aparelharam e aparelham as redações —, protestavam, iam às ruas, mobilizavam pessoas.
Fui editor adjunto de política da Folha durante o collorgate e coordenador de política da Sucursal de Brasília do jornal durante a revisão constitucional, isso entre 1992 e 1996. Eram tempos especialmente quentes. Ah, como os esquerdistas gostavam de nós, os jornalistas! Eram amigões de fé mesmo, sabem?, irmãos, camaradas… A proximidade, sempre achei, era até excessiva — e isso valia para todos os veículos! Fui ao Congresso algumas vezes, o que detestava fazer. A “amizade” entre parlamentares de esquerda e “companheiros” da imprensa me incomodava. Era visível a diferença no trato com a “turma da direita”.
Naqueles tempos, criou-se NA IMPRENSA DO PAÍS um eixo, sobre o qual já falei aqui, que juntava os esquerdistas do Ministério Público — existiam e existem—, os parlamentares da oposição e a imprensa. A rotina era a seguinte: um promotor vazava alguma coisa para um deputado, este passava para o repórter, o repórter redigia a matéria, e o promotor fazia a denúncia, fechando o ciclo. O desgraçado que fosse pego na rede que se danasse!
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REINALDO AZEVEDO |
Comprovadamente inocente.
Mas aí as esquerdas chegaram ao poder. O sujornalismo, que só sobrevive mamando nas tetas oficiais, logo passou a reverenciá-las. À sabujice financeiramente interessada, juntaram-se os crentes na causa, e juntos passaram a celebrar o governo “como nunca antes na história destepaiz“. Mas restaram aqueles que não abrem mão de fazer o seu trabalho; que acreditam que governos de direita, de centro ou de esquerda têm de ser pautados pela moralidade, pela eficiência e pela transparência.
Aí o tempo fechou! Os jornalistas antes “companheiros”, “aliados” na causa contra o “governo neoliberal”, passaram a ser vistos como inimigos. E tiveram início, então, as ações deliberadas para cercear a imprensa — Conselho Federal de Jornalismo e propostas de controle de conteúdo nas muitas “conferências” — e, pasmem!, até o Ministério Público, antes considerado um aliado intocável.
Por quê? Ora, porque eles são eles! Porque, já expliquei aqui, mesmo o bem, se praticado por seus adversários, tem de ser vendido como um mal; mesmo o mal, se praticado por eles próprios, tem de ser oferecido como um bem. Afinal, eles são os donos da história; eles sabem para onde caminha a humanidade; eles conhecem a forma do futuro; eles estão na vanguarda do humanismo. Qualquer um que não compactue mesmo de suas canalhices — e eles sabem ser canalhas como ninguém porque se consideram donos de uma moral particular! — participa de algum complô contra o povo.
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REINALDO AZEVEDO |
Lá vou eu citar um baiano, que não é Orlando Silva: os urubus podem continuar passeando a tarde inteira entre os girassóis que não vão conseguir impedir a imprensa de fazer o seu trabalho.
O jornalismo que ilumina os porões do Ministério do Esporte é o mesmo que se interessou por Erenice Guerra, por Antônio Palocci, por Wagner Rossi, por Pedro Novais, pelos aloprados, por falsos dossiês. E, antes deles, no passado, por Jader Barbalho, Orestes Quércia, anões do Orçamento, Fernando Collor…
Muitos acreditavam que petistas e comunistas do Brasil fossem contra o crime. Não! Esquerdistas que são, eles eram apenas adversários de alguns criminosos (ou de inocentes que eles acusavam).
Atacam agora a imprensa porque acreditam que ela persegue os “criminosos errados”.
Não passarão!
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: Veja.com
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