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sábado, 18 de outubro de 2014

Fundação Petros: O doleiro e o tesoureiro do PT

Dono do cofre petista, João Vaccari Neto intermediou operações para Alberto Youssef que desviaram R$ 500 milhões do fundo de pensão da Petrobras 

Na semana passada, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi identificado na engrenagem da corrupção que desviou bilhões da Petrobras. Agora surge o elo do comandante das finanças petistas com o doleiro Alberto Youssef na Fundação Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. A Polícia Federal concluiu, nos últimos dias, a investigação sobre uma operação que causou prejuízo de R$ 13,9 milhões ao fundo. Mas o valor desviado nesta e em outras operações pode chegar a R$ 500 milhões, segundo os investigadores.

No computador de Youssef, a PF encontrou uma pasta com 12 arquivos referentes a negócios do doleiro com a Petros. Quem teria intermediado a operação com ajuda de dois diretores indicados pelo PT para o fundo foi Vaccari. Um deles seria Luiz Carlos Fernandes Afonso, que chegou a presidir a entidade entre 2011 e 2014.

PARCERIA

Segundo a PF, João Vaccari contou com a ajuda de diretores indicados pelo PT para operar para o doleiro Youssef (acima)

Além deles, a PF registra a participação de um político “de grande influência” no governo. Ele teria conseguido no Ministério da Fazenda a liberação de um seguro necessário ao investimento. Segundo o advogado Carlos Alberto Costa, espécie de testa de ferro de Youssef, o recurso foi desviado para “pagamento de propina” aos funcionários da Petros. Costa já havia denunciado o caso à PF em agosto e depois detalhou o caso em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro. Agora, os investigadores cruzaram as declarações com documentos do computador do doleiro e relatórios de movimentação financeira das empresas usadas pelo grupo. Confirmaram, por exemplo, que a Petros foi induzida a investir num negócio que se sabia irregular.

Os quase R$ 14 milhões foram usados na compra de uma cédula bancária emitida pelo Banco Banif Primus como antecipação de recebíveis de um contrato de venda de ferro-gusa, firmado entre a Indústria Metais do Vale (IMV) e a siderúrgica Barra Mansa. Ocorre que a IMV era uma empresa falida. Para habilitá-la como investimento seguro ao segundo maior fundo de pensão do País, Youssef e o deputado José Janene (morto em 2010) iniciaram um plano de recuperação judicial, injetaram nela R$ 4 milhões por meio da CSA Project Finance e entregaram o projeto na mão de Claudio Mente, empresário muito amigo de Vaccari.

O tesoureiro do PT acionou o então diretor financeiro da Petros Luis Carlos Fernandes Afonso e o gerente de novos projetos Humberto Pires Grault. “Emitiram nota através de outras empresas e o recurso foi desviado para pagamento de propina para os funcionários da Petros”, disse Costa à Justiça. Afonso foi nomeado diretor em 2003 por indicação de Wilson Santarosa, ligado a José Dirceu e que presidia o conselho deliberativo da Petros na ocasião. Afonso tem longa ficha de serviços prestados ao PT, tendo sido secretário de Finanças do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002.


Grault, apadrinhado pela cúpula partidária, já passou por vários fundos de pensão e conselhos de empresas controladas. Da Petros, ele foi para a Funcef, nomeado como gerente na diretoria de participações, chefiada por Carlos Borges. Foi Borges quem recebeu Youssef em março deste ano, numa reunião privada, a pedido do deputado André Vargas, para apresentar uma “proposta de investimento”. Tanto Afonso como Grault respondem por denúncias de improbidade.

No depoimento à Justiça, Carlos Costa alerta que a negociata com a IMV em 2006 foi apenas “a primeira operação”. Muitas outras vieram. A próxima suspeita na lista da PF é a barragem de Apertadinho, na qual a Petros colocou R$ 62,4 milhões em troca de cédulas de crédito bancário. Como se sabe, a barragem – construída pela empreiteira Schain e EIT – desmoronou e o dinheiro virou pó.

Fonte: Revista ISTOÉ por Claudio Dantas Siqueira.

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