Quem são os dois candidatos que disputam a cadeira de governador e como eles pretendem lidar com grandes problemas da capital
Em um dia da primavera de 2013, Rodrigo Rollemberg (PSB) tomava um pingado e comia pão com manteiga enquanto conversava com o marqueteiro Hélio Doyle dentro da Praliné, na 205 Sul. Numa época em que poucos enxergavam o potencial do socialista para o governo, os dois traçavam estratégias em cima de pesquisas que indicavam a baixa rejeição ao nome do senador. Uma primavera depois, eles continuam mergulhados nas táticas de campanha. Agora, discutindo as filigranas de uma corrida que aponta o favoritismo de Rollemberg. Na noite do dia 14, Doyle quis saber por que o candidato não tinha usado o terno novo na entrevista que dera à Rede Globo. O paletó da ocasião parecia dois números acima do seu porte. Na base da brincadeira, ficou acertado que a beca nova pode ser a da posse. Segundo a última pesquisa do Ibope, Rollemberg tem 60% dos votos válidos, contra 40% de seu adversário, Jofran Frejat, do PR (confira no final da matéria ideias e propostas de ambos para algumas grandes questões de Brasília).
Diferentemente do socialista, Frejat não teve um ano para lidar com a
perspectiva de se tornar governador. Aos 77 anos, sem mandato
parlamentar e praticamente aposentado, vivia a rotina mais tranquila da
posição de candidato a vice. Foi o impedimento jurídico do cabeça de sua
chapa, José Roberto Arruda, que o alçou a protagonista 22 dias antes do
primeiro turno. As mesmas pesquisas que serviram de subsídio para
apontar as chances de Rollemberg também mostraram que Frejat era um bom
nome para herdar o espólio do grupo arrudista.
Embora mais de duas décadas separem a trajetória dos dois postulantes
ao Buriti, ambos exibem cabelos brancos e uma considerável vivência
política no DF. Rollemberg iniciou a carreira no Legislativo como
funcionário público pela influência do pai, Armando Leite Rollemberg,
então deputado federal por Sergipe. Viria a ser eleito distrital pela
primeira vez na condição de suplente, em 1994. Nas brechas abertas pelo
titular Wasny de Roure (PT), o substituto se destacou à frente da CPI da
Grilagem. Durante o mandato seguinte, já como deputado eleito, investiu
na oposição a Gim Argello e sobressaiu mais uma vez. Em 2002, deu um
passo político maior que a perna. Mesmo contra a vontade de alguns
aliados, candidatou-se ao governo e perdeu. “Dizem que ele é meio
teimoso, mas sou testemunha da sua capacidade de ouvir e debater”, diz o
amigo e correligionário Marcelo Dourado, que, naquela ocasião, tinha
sido contra a decisão do parceiro de três décadas. Além da temporada
como distrital, Rollemberg soma certa experiência no Executivo. Foi
secretário de Turismo no governo de Cristovam Buarque e de Inclusão
Social no Ministério de Ciência e Tecnologia, então comandado por
Eduardo Campos. Em 2010, o socialista emendou um mandato de deputado
federal com o de senador. Pouco depois da vitória, na esteira da
coligação com o PT, Rollemberg teve mais um rompante. De novo, vozes de
aliados bradaram contra a decisão. “Conquistamos o governo com Agnelo,
não era justo sair naquele momento”, considera Luís Otávio Neves. Atual
secretário de Turismo, ele coordenou quatro campanhas de Rollemberg, mas
hoje é politicamente rompido com ele.
Assim como seu adversário, Frejat pode ostentar experiência no
Legislativo e no Executivo. Além de cinco mandatos na Câmara Federal,
assumiu a Secretaria de Saúde em quatro momentos. Na primeira
oportunidade, o governador ainda era o coronel Aimé Lamaison. Depois,
fez uma longa parceria com o governo de Joaquim Roriz, que agora
respalda sua candidatura. A vitrine da campanha de Frejat é a construção
do sistema da rede pública de saúde no DF, que um dia já foi menos
ruim. “Tudo estava por fazer, qualquer um teria se destacado”, diz a
médica e ex-deputada Maninha. Presidente do sindicato dos médicos nos
doze anos da gestão de Frejat, Maninha afirma que o ex-secretário
enfrentou o maior número de greves na saúde por não saber dialogar. Quem
trabalhou ao lado de Frejat considera a avaliação carregada de ranço.
“Ele ouve a equipe, mas não foge à sua responsabilidade, algo típico na
vida de um cirurgião, que precisa ser rápido nas decisões”, elogia seu
ex-chefe de gabinete Esmaragdo Ramos. No fim do dia 26, saberemos se tem
mais força o ímpeto do senador que abandonou o mandato pela metade ou a
coragem do aposentado disposto a falar em nome de Arruda.
Rodrigo Rollemberg
Qual será a sua primeira medida tão logo se sente na cadeira de governador?
Vamos radicalizar na transparência. No segundo dia de gestão, vou criar
um conselho de transparência, como o Contas Abertas. Abrirei a senha do
orçamento para que todos os cidadãos acessem essas informações. Além
disso, colocarei painéis na rodoviária para divulgar todos os contratos
feitos pelo meu governo.
Como salvar o Estádio Nacional Mané Garrincha, que tem reunido público
pouco expressivo em partidas de futebol e recebido shows apenas na área
de estacionamento?
Vamos propor uma concessão de direito de uso do estádio, acompanhada
por um conselho que garanta transparência das ações. Além do retorno
financeiro, estaremos focados em viabilizar um conjunto de atividades
culturais e esportivas que contribuam para o fomento do turismo na
capital.
Basta chover uma vez para que diversos pontos da cidade fiquem
intransitáveis. As inundações nas tesourinhas são um exemplo. O senhor se compromete a resolver esse problema?
Sim. Temos de fortalecer as empresas públicas, nesse caso a Novacap,
para garantir que se façam manutenção e ampliação das galerias pluviais.
Vamos garantir investimentos para reduzir esse desconforto.
Houve crescimento de 21% na frota de carros no DF durante os últimos
quatro anos. Hoje, há um déficit de 30 000 vagas no Plano Piloto. Que
medidas o senhor vai tomar para solucionar a desproporção entre
estacionamentos e veículos no centro de Brasília?
Primeiro vamos melhorar o transporte coletivo, ampliando o número de
ônibus e abrindo novos corredores para esses veículos. Também
estudaremos a possibilidade de fazer PPPs para estacionamentos
subterrâneos na área central, nos setores hoteleiro e comercial, desde
que o poder público não precise entrar com recursos.
Uma investigação do Ministério Público apontou a existência de uma
máfia de alvarás, cuja atuação abrange desde a construção de um quiosque
até a de um shopping center. O senhor terá coragem de enfrentar esse
esquema?
Não tenha dúvida. Temos a atitude para mudar. Vamos declarar guerra à
burocracia e à corrupção, com a contratação de servidores técnicos e
concursados para analisar os processos.
Circula na cidade um dossiê no qual seus adversários o acusam de
beneficiar parentes e aliados com emendas parlamentares. Isso é verdade?
É um dossiê fajuto, preparado pelo ex-deputado Rogério Ulysses, expulso
do PSB em decorrência da Caixa de Pandora. Esse material foi
encaminhado ao Ministério Público há quatro anos, e nunca ocorreu nada
porque são denúncias vazias.
O senhor mantém uma vaga congelada no Senado. Por que não abre mão
desse cargo para que a Casa chame um concursado, já que se mostrou um
defensor da seleção pública?
Minha posição é a de milhões de servidores federais, estaduais e
municipais. Cumpro as prerrogativas da lei como qualquer parlamentar
eleito que pode pedir licença do serviço público.
Por que acha que o seu correligionário Reguffe conquistou mais votos para o Senado do que o senhor para o governo?
Reguffe é uma pessoa de grande prestígio na cidade, fez um bom trabalho
e tem méritos que devem ser reconhecidos, mas também enfrentou
adversários mais fracos do que eu. É uma honra ser um aliado dele.
No primeiro turno, o senhor atacou pesadamente a gestão de Agnelo. Vai
aceitar a aproximação de petistas que lhe declaram apoio?
Apontei o governo Agnelo como apagão de gestão. Vamos fazer um governo
completamente diferente do dele. As pessoas que querem nos apoiar pelo
nosso programa poderão vir, mas não trocarei apoio político por
participação no governo.
O PSB do DF foi orientado a fazer palanque para Aécio. O senhor se sente confortável com a decisão do partido?
Defendi essa posição partidária por entender que, neste momento, o
melhor para o fortalecimento da democracia é a alternância de poder.
Jofran Frejat
Qual será a sua primeira medida tão logo se sente na cadeira de governador?
Vou acabar com a Agefis, que hoje impede o crescimento do Distrito
Federal. A fiscalização de irregularidades ficará a cargo das
administrações. Novos concursados vão avaliar as características de cada
cidade, já que uma não é igual a outra.
Como salvar o Estádio Nacional Mané Garrincha, que tem reunido público
pouco expressivo em partidas de futebol e recebido shows apenas na área
de estacionamento?
Estou estudando, junto com professores da UnB, formas de parcerias
público-privadas para dar o melhor encaminhamento ao Mané Garrincha.
Basta chover uma vez para que diversos pontos da cidade fiquem
intransitáveis. As inundações nas tesourinhas são um exemplo. O senhor
se compromete a resolver esse problema?
Sim. Não tenho nenhum receio de fazer obras que não dão ibope. Não
tenho preocupação em ser reeleito. A questão não é tão complicada. Quero
fazer mudanças na parte pluvial e no saneamento. Existem 25 000
famílias sem sistema de esgoto aqui no DF. Isso é uma questão até de
saúde pública.
Houve crescimento de 21% na frota de carros no DF durante os últimos
quatro anos. Hoje, há um déficit de 30 000 vagas no Plano Piloto. Que
medidas o senhor vai tomar para solucionar a desproporção entre
estacionamentos e veículos no centro de Brasília?
Há cinco anos tínhamos 1 milhão de carros circulando. Hoje já são 1,5
milhão. Se não melhorarmos o serviço público de transporte, esta cidade
vai ficar intransitável. Além disso, implantaremos sistema de cobrança,
como a Zona Azul, e novos estacionamentos subterrâneos. Qualquer lugar
tem. Paris tem.
Uma investigação do Ministério Público apontou a existência de uma
máfia de alvarás, cuja atuação abrange desde a construção de um quiosque
até a de um shopping center. O senhor terá coragem de enfrentar esse
esquema?
Coragem é o que não me falta. Não tenho nem mais idade para ser
covarde. Vamos definir sessenta dias para que alvarás sejam analisados.
Os que não forem autorizados precisarão de justificativa, sempre
respeitando o prazo máximo de dois meses para a análise.
O senhor usa a Saúde como sua principal vitrine. Acontece que a área
nunca foi boa. Nem mesmo durante seus quatro mandatos como secretário da
Pasta. O que vai mudar agora?
Na minha gestão, durante muitos anos fomos referência. Tivemos a menor
mortalidade infantil do país, os maiores números de aleitamento materno.
Nossos centros, nossos hospitais regionais e os agentes de saúde foram
usados como exemplos pelo SUS. Muitos nos copiaram. A situação piorou
depois.
No serviço público, a aposentadoria compulsória ocorre aos 70 anos. O
senhor tem 77 e vai pegar um governo bem difícil pela frente. Acha que
terá condições físicas?
Não duvide. Estou com a cabeça boa, tranquilo, em plena atividade.
Tenho uma filha de 14 anos. Meu irmão tem 90 e está em ótima condição.
Qual será o poder de influência de Arruda, Gim Argello e Luiz Estevão em um eventual governo do senhor?
Quem me conhece sabe que só quem manda em mim é minha mulher, e em
casa. Agora, Arruda fez um excelente governo, e vou ouvi-lo sempre que
precisar de ajuda. Mas a decisão final é minha e não me meto em
irregularidades.
É verdade que o senhor renunciaria para a sua vice, Flávia Arruda, assumir o governo?
Isso não tem fundamento, é a língua do povo. A esta altura da vida não
vou fazer todo esse esforço para abrir mão depois. Sai dessa!
O senhor declarou um patrimônio de 7 milhões de reais. Não lhe parece
desproporcional para quem diz ter dedicado a vida ao serviço público?
Não é incompatível, eu sempre tive consultório particular. Sou formado
há 52 anos e, ao contrário de outros candidatos, declaro minha casa pelo
preço que ela vale. Não escondo nada, nunca tive problema com a Receita
Federal.
Saiba o que pensam os candidatos sobre outros temas em abr.ai/segundoturnodf
Fonte: Revista Veja Brasília por Lilian Tahan e Clara Becker.
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