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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A morte de Eduardo para Aécio Neves

ÉPOCA acompanhava o candidato tucano Aécio Neves pelo Nordeste no momento em que chegou a notícia da morte do amigo e rival Eduardo Campos

Acompanhado por assessores, Aécio Neves caminha visivelmente abatido no Aeroporto Internacional de Natal (RN), após saber da morte de Eduardo Campos. (Foto: Júnior Santos / Tribuna do Norte / Agência O globo)
 Acompanhado por assessores, Aécio caminha visivelmente abatido no Aeroporto Internacional de Natal (RN), após saber da morte de Eduardo Campos
 
Eram 12h26. Havíamos acabado de pousar em Natal. Falávamos do desempenho e das possibilidades de Eduardo Campos na campanha presidencial, em um avião semelhante àquele em que o socialista ainda voava quando saímos de Teresina. O senador José Agripino (DEM/RN) ligou seu celular, viu uma mensagem de seu filho e, com os olhos arregalados, disse: “Acho que o avião do Eduardo Campos caiu”. A mais completa perplexidade e o mais profundo silêncio tomaram conta do jato. Os semblantes eram de quem não acreditava no que fora dito. Aécio levantou-se segundos depois e, incrédulo, pediu que um assessor ligasse para o governador Geraldo Alckmin - que confirmou a notícia. “Que tragédia, que tragédia. Ele tinha uma família linda. Coitada da Renata”, dizia Aécio, completamente atordoado.

Assim como Campos, Aécio Neves cruzava o país nas últimas semanas em busca de votos, em um jatinho. Quando ligou seu celular, já havia dezenas de ligações de Letícia, sua mulher, e de Gabriela, sua filha mais velha. Ele respondeu às duas, que estavam aos prantos no telefone. Parecia um misto de tristeza, pela morte de um político a quem Aécio tinha como amigo, e que elas haviam conhecido, e da sensação de que poderia ter sido Aécio, que tem tido uma rotina tão parecida com a que Eduardo Campos vinha tendo.

Na van, que fez o traslado entre a pista e o aeroporto, Aécio viu pelo celular uma notícia que chegou a lhe dar esperanças de que as informações estivessem desencontradas e que Campos estivesse vivo. Um site de notícias afirmava que, até aquele momento, havia a confirmação de dois mortos e dez feridos no acidente aéreo. Aécio fez mais alguns telefonemas. Alguns diziam que Renata Campos, a mulher de Eduardo, e o filho mais novo, Miguel, também estavam no voo. Outros interlocutores chegaram a afirmar que a candidata a vice na chapa socialista, a ex-senadora Marina Silva, que vinha o acompanhando em vários compromissos pelo país, também estava no avião. Minutos depois chegou a confirmação de que Campos e assessores estavam no jato -  e que haviam mesmo morrido.

“Era um moleque. Mais novo que eu. Acabou de fazer 49 anos”, dizia Aécio. Ele conhecia Campos desde os tempos em que seus avôs, Tancredo Neves e Miguel Arraes, rivalizavam no MDB. Trocaram mensagens, pela última vez, no domingo. Campos enviou um torpedo felicitando Aécio pela saída de seu filho Bernardo do hospital. Ele nasceu prematuro e estava internado há dois meses no Rio de Janeiro. Aécio respondeu cumprimentando-o pelo Dia dos Pais e por seu aniversário que, por coincidência, caíram no mesmo dia em 2014.

Ainda muito assustado, Aécio dizia que Campos tinha filhos maravilhosos. Estivera com eles, pela última vez, em fevereiro, quando foi com Letícia à casa de Campos, em Recife, após o nascimento de Miguel, o filho mais novo. Já a sós com Campos, a última conversa longa foi em abril, num flat em São Paulo. Falaram sobre o cenário eleitoral e sobre parcerias em palanques que poderiam fazer pelo país. “Eu e ele achávamos que o Brasil precisava encerrar o ciclo atual. Sempre estimulei a candidatura dele e nós sabíamos que, de nós dois, quem ganhasse precisaria do outro para governar”, disse Aécio. Ele considerava Campos um grande contador de histórias e um homem apaixonado pela família. “Renata estava sempre presente em tudo dele. Era um cara do bem e sempre com a família”, disse Aécio.

Logo que o avião pousou em São Paulo, para onde Aécio definiu que a comitiva iria após o cancelamento da agenda de campanha, Aécio fez o sinal da cruz e leu emocionado uma mensagem que acabara de receber do padre Fábio de Melo. Ele pedia que Deus sempre lhe guiasse e recomendava que ele se refugiasse por ao menos dois dias junto das pessoas que mais ama.

Fonte: Época - Leopoldo Mateus de Natal.

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