Criticar até não poder mais o governo da presidente Dilma, para marcar
uma posição oposicionista, mas poupar o ex-presidente Lula, para não
perder os votos de petistas desiludidos com o governo, pode estar dando
uma caráter dúbio à candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo
Campos, do PSB, mas ele está convencido de que esta é a estratégia mais
adequada.
Foi bastante explícito sobre isso numa declaração à revista “Piauí”,
quando afirmou que não criticava Lula porque esperava que muitos
eleitores do PT o escolhessem como alternativa a Dilma.
Ontem, em debate promovido por “Folha de S. Paulo”, UOL e rádio Jovem
Pan, insistiu em que discutir com Lula era uma armadilha em que o PSDB
está caindo: “Você acha que eu vou entrar nessa do PSDB, de ficar
debatendo com o Lula?”, indagou. “Nós vamos ficar fazendo debate com
quem não é candidato?”.
Por trás dessa tentativa de dar um ar estratégico à sua postura, o que
Campos esconde é o objetivo de ser trocado por Dilma como candidato
petista à Presidência, situação semelhante à que acontece hoje em São
Paulo, onde o candidato petista ao governo, Alexandre Padilha, está
sendo “cristianizado” em favor do candidato do PMDB, Paulo Skaf.
A diferença, além de que Dilma está na liderança nas pesquisas, e
Padilha não consegue decolar, é que o presidente licenciado da Fiesp não
quer se confundir com o PT nem com Dilma, embora evidentemente não
renegue eventuais votos de petistas dissidentes.
Já Campos gostaria de ser ligado a Lula para dar efetividade a seu
plano de se transformar na terceira via da eleição presidencial, mas,
ligando-se indiretamente a Lula, tem perdido o caráter de oposição,
papel que deixou para o candidato do PSDB Aécio Neves, para ser quase um
dissidente. Opor-se ao PT e a Dilma, mas aspirar a ser um herdeiro
presuntivo do lulismo, pode ser uma tarefa excessivamente sutil para o
eleitorado.
A tentativa de quebra da polarização entre PT e PSDB na disputa
presidencial é estudada pelo cientista político da PUC-Rio Cesar Romero
Jacob, que é cético quanto ao êxito dessa empreitada, pois, desde a
redemocratização, não há repetição de uma terceira via solidamente
implantada no território, que é onde, segundo sua definição, faz-se a
política, com máquina, militância, uma ação no plano do territorial.
A terceira via tem sido questão muito episódica, lembra Romero Jacob.
Em cada eleição houve uma preponderância: Brizola era bem votado no Rio e
no Rio Grande do Sul. Enéas, no entorno metropolitano. Ciro Gomes era
centrado no Nordeste. Garotinho, no Rio e nos territórios evangélicos.
Desta vez, quem aparece nesse papel é Campos, porque a ex-senadora
Marina Silva, a candidata da terceira via de 2010, apesar da excelente
votação que teve (20% dos votos) não conseguiu organizar seu partido a
tempo de concorrer e entrou no PSB como candidata a vice.
De maneira indireta, ela confirma a tese de Romero Jacob de que os
candidatos da terceira via sofrem de uma espécie de maldição que pode
ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro
lugar nas recentes eleições presidenciais. Ninguém emplacou na eleição
seguinte.
Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno
contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%. Em 1998, foi vice de Lula e
terminou a carreira política sendo derrotado para senador. Enéas teve 7%
de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e, em 2002, candidatou-se a
deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas, em
2006, candidatou-se a deputado federal. Garotinho tenta retomar o
protagonismo e disputa o governo do estado, depois de ter sido deputado
federal.
Isso se deve, segundo o cientista político, ao peso de São Paulo no
jogo eleitoral: o estado tem um terço do PIB nacional e um quarto do
eleitorado, e os partidos solidamente implantados em São Paulo são o
PSDB e o PT, o que, para ele, condiciona o resto.
Por isso, Campos resistiu à oposição de Marina e decidiu participar da
coligação para a reeleição do governador Geraldo Alckmin em São Paulo. E
também por isso o candidato do PSDB Aécio Neves escolheu o senador
Aloysio Nunes Ferreira para seu vice, um paulista para trabalhar o
eleitorado do estado e não deixar que a chapa “Edualdo” (uma associação
de Eduardo com Geraldo) tenha vida fácil.
Fonte: Por Merval Pereira por O Globo.
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