A cada eleição no Brasil, o mercado
se aquece. A expectativa de alcançar o poder – ou de permanecer nele –
faz com que os partidos invistam bilhões em portentosas estruturas de
campanha. São profissionais especializados, produtoras de tevê,
gráficas, bancas de advogados, cabos eleitorais e toda sorte de material
e serviço que possam ser usados na batalha pelo voto. Soma-se a isso
uma infinidade de gastos não contabilizados. As cifras são bilionárias e
não param de crescer, indicando que política é um negócio arriscado,
mas altamente lucrativo. A previsão de gastos das principais
candidaturas à Presidência este ano é 100% maior do que na eleição de
2010. PT, PSDB, PMDB, PSB e siglas nanicas devem desembolsar juntas
quase R$ 1 bilhão. Há quatro anos, esse valor era pouco maior que R$ 450
milhões, enquanto que em 2006 não chegou a R$ 180 milhões. Se a
inflação acumulada nesses oito anos chegou a 54%, o custo do voto subiu
dez vezes mais.
CIFRAS MILIONÁRIAS
A campanha de Dilma Rousseff (PT) estimou um teto de gastos de R$ 298 milhões, a de Aécio Neves (PSDB) de R$ 290 milhões e a de Eduardo Campos (PSB) de R$ 150 milhões
Só a campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff estimou um teto
de gastos de R$ 298 milhões, quase o dobro dos R$ 176 milhões previstos
em 2010. É claro que o limite previsto nem sempre é o efetivamente
gasto. Para a presidenta Dilma ser eleita, sua campanha consumiu 76%
daquele valor, ou R$ 135 milhões, há quatro anos. Mesmo que não alcance o
teto novamente, o custo este ano deve dobrar. Com previsão semelhante à
dos petistas, a campanha de Aécio Neves declarou R$ 290 milhões como
limite de gastos. É quase o triplo dos R$ 106 milhões estimados por seu
partido, o PSDB, na campanha capitaneada por José Serra em 2010. O
presidenciável Eduardo Campos foi o mais modesto na previsão de receitas
e estabeleceu teto de R$ 150 milhões. Como Aécio, é a primeira vez que
ele concorre à Presidência. Mesmo assim, o valor é considerado alto para
um candidato de primeira viagem, cujo partido tem uma estrutura menor
que os concorrentes.
Consultados por ISTOÉ, comitês eleitorais das principais siglas
informaram que o maior impacto no crescimento exponencial dos gastos se
deve ao uso da internet, especialmente das redes sociais. Toda campanha
que se preze precisa investir em novas plataformas de interação por um
motivo simples: mais de 39% do eleitorado brasileiro é hoje formado por
jovens que passam o dia colados em seus smartphones.
REDE GANHOU RELEVÂNCIA
O marqueteiro João Santana pilotará a campanha de Dilma Rousseff na tevê, mas é na internet que os gastos cresceram exponencialmente. O PT prevê pagar R$ 12 milhões para guerrilheiros virtuais
Além de perfis oficiais no Facebook e no Twitter, o comando das
campanhas aposta na militância virtual que ajuda a multiplicar a
mensagem do candidato e também a infernizar a vida dos concorrentes,
disseminando boatos e intrigas. Para ter sucesso na internet, uma
campanha para deputado federal em São Paulo precisa investir ao menos R$
3 milhões. A campanha de reeleição da presidenta Dilma Roussef, por
exemplo, prevê gastar quatro vezes mais: R$ 12 milhões. A guerra virtual
entre os presidenciáveis deve movimentar R$ 30 milhões até outubro.
Há quem considere que os militantes virtuais são os cabos eleitorais do
século XXI. Quanto maior o domínio das ferramentas de internet, mais
caro é o profissional. “A guerrilha digital requer um amplo e treinado
exército e isso custa caro”, afirma o tesoureiro do PSDB, deputado
Rodrigo Castro (MG). Jovens com habilidade nas redes sociais estão sendo
recrutados pelas campanhas por cerca de R$ 2 mil por mês. “Os mais
baratos têm como missão apenas replicar mensagens, apoiar e comentar
conteúdos”, diz um cacique petista. Quem tem formação política é
escalado para rebater críticas e opinar em fóruns e blogs
especializados, o que rende mensalmente R$ 4 mil. Considerando a
mobilização de cerca de 60 mil internautas, estima-se que o mercado de
internet movimente R$ 120 milhões por mês. Além da internet, as
campanhas também preveem gastar mais com serviços jurídicos. A
proliferação de agressões, boatos e ações de propaganda irregular
impacta diretamente na quantidade de ações movidas pelas bancas de
advogados, seja para denunciar, seja para se defender. Até agora, a
Justiça Eleitoral já impôs R$ 23,8 milhões em multas. Além dos gastos
jurídicos, também estão mais caros o material gráfico, que precisa ter
melhor qualidade, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias
Gráficas do Distrito Federal, Pedro Henrique Achcar Verano. “Os
candidatos não querem mais santinhos simples, querem material editorial
com papel bom. Eles têm pedido mais cartilhas e folders”, explica.
De acordo com os donos das chaves dos cofres das campanhas, boa parte
do dinheiro previsto para ser gasto nas campanhas será reservada para o
horário eleitoral gratuito de rádio e tevê que irá ao ar a partir de 19
de agosto. “As campanhas tenderão a absorver a artilharia e a infantaria
do arsenal tecnológico e isso custa muito dinheiro”, garante Gaudêncio
Torquato, especialista em marketing político, professor da Universidade
de São Paulo (USP). A previsão de gastos este ano com os programas de
tevê é bem maior do que há quatro anos. Dois fatores contribuirão para
esses aumentos. O principal deles é a criação em 2012 da chamada “Lei da
TV Paga”, que obriga os canais por assinatura a terem metade de sua
programação produzida por empresas brasileiras. Desde que passou a
vigorar, a nova legislação causou uma revolução positiva no setor
audiovisual do País. Impôs a obrigatoriedade de três horas e meia de
programação nacional em horário nobre das grades de programação dos
canais, passou a contemplar toda a cadeia de profissionais. Os custos
finais aumentaram e está faltando mão de obra: de roteiristas a
operadores de câmera.
DO OUTRO LADO DA TRINCHEIRA
Para o tesoureiro do PSDB, deputado Rodrigo Castro (MG),
"a guerrilha digital requer um amplo e treinado exército e isso custa caro"
Durante a discussão da fracassada proposta de reforma política que
pregava o financiamento público de campanha, a consultoria legislativa
da Câmara fez estudo que já detectava a hiperinflação eleitoral. De
acordo com a pesquisadora Ana Luiza Backes, nem mesmo alterações nas
leis que proibiram showmícios, outdoors e distribuição de brindes
funcionaram para baratear as campanhas. “Eleições tão onerosas ameaçam a
representatividade dos eleitos, diminuindo a representação dos setores
mais pobres”, critica.
Sem uma reforma política que limite os gastos e a arrecadação
partidária, o custo eleitoral tende a subir indefinidamente. A projeção é
feita por Geraldo Tadeu Monteiro, professor de ciência política do
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Segundo
ele, os gastos com campanhas eleitorais cresceram 471,3% em uma década,
enquanto a inflação, no mesmo período, foi de 78%.
Fonte: Revista ISTOÉ - Colaborou: Claudio Dantas Sequeira Fotos: Roberto Stuckert Filho; Juliana Leitão / Dapress; Orlando
Brito/Obrito News, Mauricio Lima / The New York Times; George Gianni / PSDB.
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