Aécio Neves caminha para se firmar como o nome da oposição, enquanto Eduardo Campos patina.
A pesquisa CartaCapital / Vox Populi foi realizada entre 30 de maio e 1º de junho de 2014. Foram ouvidos 2,2 mil eleitores. A margem de erro é de 2,1 pontos porcentuais para cima ou para baixo.
A nova pesquisa CartaCapital / Vox Populi é boa para Dilma Rousseff,
razoável para Aécio Neves e ruim para Eduardo Campos. Para os demais
candidatos, é irrelevante (sua única expectativa na eleição é aparecer).
Ao olhar o conjunto de pesquisas realizadas nos últimos dois meses, é
fácil entender o motivo da mais recente ser favorável à presidenta: ela
estava na frente e assim permaneceu. Em relação aos resultados da rodada
anterior, cujos trabalhos de campo ocorreram no início de abril, Dilma
Rousseff manteve-se no patamar de 40%. Aécio Neves cresceu de 16% para
21% e Campos não se mexeu. Tinha 8% e lá ficou, firme como uma rocha.
A pesquisa volta a mostrar uma das características mais curiosas da
eleição presidencial deste ano: a estabilidade da estrutura das
intenções de voto. Ao contrário das outras disputas desde a
redemocratização, nesta não tivemos, ao menos até o momento, qualquer
mudança relevante no modo como o eleitorado pretende votar.
Na rodada de setembro de 2013, como em diversas outras feitas à época,
Dilma tinha 43%, o tucano alcançava 20% e o pernambucano chegava a 10%.
Em matéria de pesquisa eleitoral, é difícil encontrar mais estabilidade
em um período tão longo. Nas eleições anteriores, em nove meses, o mundo
dava várias voltas. Agora, fica no mesmo lugar.
A resiliência da candidatura da presidenta impressiona quando analisada
à luz da situação que ela, seu governo e o PT atravessaram durante os
meses de abril e maio. Não apenas inexistiu qualquer fato positivo
suficientemente relevante, como se multiplicaram alguns com claro
potencial negativo. Sem ir muito longe, basta lembrar que a política
anti-inflacionária continuou sob fogo intenso, o crescimento da economia
voltou a registrar números baixos e não tivemos novidades expressivas
em outras áreas de atuação governamental.
Enquanto isso, as oposições políticas, na sociedade e na mídia fizeram
sua festa. A cada dia, um problema novo era atribuído ao governo e mais
alto ficava o protesto dos insatisfeitos, a ponto de parecer que o
chamamento de “Todos contra Dilma” estava às vésperas de tomar as ruas.
Com a adesão de “celebridades” maiores e menores, a oposição achava ter
engrossado.
Pois bem, nada de significativo aconteceu com a candidatura de Dilma.
Nem sequer houve aumento da rejeição, que foi de 28% a 32%, incremento
dentro da margem de erro e, de qualquer forma, pouco expressivo,
considerado o momento.
Do lado das candidaturas de oposição houve mudanças. Nenhuma dramática,
mas significativas. Se é verdade que o primeiro semestre de 2014
termina com um saldo frustrante para o PSDB, para Campos e seu projeto
com Marina Silva chega a ser calamitoso. Com 20% no início de junho,
Aécio Neves fica aquém do nível alcançado por seus correligionários
desde 1994, em momento parecido. Campos enfrenta, porém, decepção maior.
A aritmética lhe é desfavorável. Na pesquisa de abril, a diferença
entre o mineiro e o pernambucano era de 8 pontos porcentuais. Agora, foi
a 13. Nada sugere que a candidatura de Campos esteja inviabilizada,
mas, se a tendência de polarização PT/PSDB se consolidar, ele não terá
espaço.
Em pesquisas qualitativas, vê-se o motivo. Em que pesem suas
qualidades, Campos não interessa àqueles que não gostam do PT e querem a
derrota de Dilma. E menos ainda a quem prefere a continuidade do
“lulopetismo”, do jeito que é ou com mudanças, maiores ou menores, na
ação do governo. Sua aposta de “terceira via” tem, até o momento, baixa
adesão e perspectiva ruim.
As pesquisas deste começo de junho permitem um balanço da fase que,
eufemisticamente, chamamos “pré-campanha”. Como se não estivéssemos em
plena guerra eleitoral há muito tempo, mesmo se não declarada
oficialmente. Ela dura ainda até o fim do mês, mas termina neste ano de
forma antecipada, em razão da Copa do Mundo. De agora até o fim de
julho, a janela de interesse para os assuntos político-eleitorais, que
não é grande no Brasil, ficará menor.
E logo chegaremos a agosto e ao momento de verdadeira intensificação do
processo de tomada de decisão dos eleitores. Quando começar o horário
gratuito de propaganda eleitoral, o jogo ficará diferente. Pelo que
conhecemos de nossa história, quem mais tende a beneficiar-se dele são
as candidaturas à reeleição. Mais ainda quando dispõem de tempo de
televisão muito superior àquele dos adversários.
Arte: CartaCapital
*Publicada originalmente na edição 804 de CartaCapital sob o título "Rumo à polarização"
Fonte: Marcos Coimbra- Revista CartaCapital.
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