O partido oficializa hoje Dilma Rousseff para a corrida presidencial. A missão: enfrentar os conflitos estaduais e tentar recuperar os índices de popularidade da petista.
Estacionada nos 40% de intenções de votos, segundo pesquisas mais recentes, a preocupação é com um possível segundo turno.
O PT oficializa hoje, em Brasília, a candidatura de Dilma Rousseff à
reeleição, mas precisará resolver uma lista de problemas ao longo da
campanha, que começa formalmente no início de julho. Líder nas
pesquisas, a presidente da República conseguiu estancar a queda e
estabilizar-se nos 40%, mas enfrenta uma alta rejeição alta, o que pode
dificultar a disputa em segundo turno. A economia não é tão pujante como
era em 2010, quando Dilma elegeu-se pela primeira vez. E os aliados,
sobretudo nos estados, dão sinais de possíveis baixas — o próprio PMDB
aprovou a indicação de Michel Temer como vice com um percentual de 59%
dos convencionais.
Some-se a isso o fato de o PT estar há 12 anos no poder, o que acarreta
uma inevitável fadiga de material. “Mesmo nos estados, são poucos os
casos em que um partido manteve o poder por mais de três mandatos. Será,
sem dúvida, a nossa eleição mais difícil”, resumiu o vice-presidente do
PT, deputado José Guimarães (CE). Os petistas também precisam remodelar
o discurso, pois todas as recentes pesquisas de opinião mostram que
mais de 70% dos brasileiros querem mudanças a partir de 2015. “É um
desafio para nós, precisamos reciclar nossa plataforma”, completou.
Na convenção de hoje, caberá ao presidente nacional do partido, Rui
Falcão, a missão de fazer um desagravo público a Dilma em relação às
vaias direcionadas a ela durante o jogo Brasil e Croácia, na abertura da
Copa do Mundo. “Os xingamentos diante de chefes de Estado, de crianças e
famílias, deveriam envergonhar quem os proferiu. Infelizmente, tiveram
guarida entre adversários que sonharam em tirar proveito eleitoral da
falta de educação de uma certa elite. O tiro saiu pela culatra. A
presidente vai, sim, colher nas urnas de outubro a apoio popular para um
novo mandato.”
Dilma fica dividida entre o que ela quer e o que o PT deseja — existe
um impasse sobre o momento em que ela deve recrudescer ainda mais os
ataques à oposição. A presidente já fez a inflexão em direção ao
“arrocho salarial e o desemprego provocado pelos governos tucanos”, mas
há quem defenda — leia-se o ex-ministro Franklin Martins — que os
ataques sejam cada vez mais incisivos. O marqueteiro João Santana
defende que esse acirramento se dê apenas durante a campanha
propriamente dita. “Ela tinha adotado uma agenda de ‘faxineira e
gestora’ quando a agenda é de desenvolvimento econômico e social. Ficou
refém disso e depois teve que se abraçar com os mesmos políticos que
tinha execrado. Claro que repercute mal na opinião pública”, disse um
dos integrantes da cúpula da campanha petista, explicando a queda na
avaliação pessoal da presidente.
Um outro fantasma que assombrava a presidente e, ao que tudo indica,
ela conseguiu exorcizar, foi o “Volta, Lula”. Enquanto ela caía nas
avaliações positivas, as “viúvas” do ex-presidente torciam para ele
entrar em campo. Pessoas próximas a Dilma disseram, então, que ela deu
duas tacadas para estancar o movimento: deixou vazar um convite para que
Lula integrasse formalmente o comando da campanha e negociou levar ao
ar a propaganda do medo, tão criticada pela oposição. “Ela amarrou o
Lula na campanha e gastou uma bala de prata (na linguagem popular, a
bala especial guardada para matar lobisomens) para evitar a queda nas
pesquisas. Arriscou e se deu bem. Resta saber o que usará de munição na
campanha”, questionou um integrante de partido aliado.
Vermelho
Outra fissura interna está relacionada à programação visual da
campanha. João Santana tem irritado alguns petistas ao privilegiar o
verde e amarelo nos eventos. “Não se espantem se isso aumentar. O
vermelho causa rejeição. Essa campanha, sobretudo no segundo turno, será
um plebiscito anti-petista”, destacou um cacique peemedebista. “Na
minha terra, uso o vermelho e ganho voto. Essa campanha será do vermelho
contra o azul (cor do PSDB). Como sempre foi”, criticou Guimarães.
Existe um consenso interno de que o adversário da presidente em outubro
será o tucano Aécio Neves e não, o socialista Eduardo Campos. Por
várias razões. Aécio teria, na opinião dos petistas, uma estrutura
partidária mais consolidada e condições de polarizar melhor o debate.
Por isso, o plano é intensificar os debates de legado entre PT e PSDB.
“Temos de mostrar que a vida dos brasileiros hoje está melhor do que
estava há quatro anos. Por que eles votariam em um partido que deixou a
vida deles pior lá atrás?”, questionou um estrategista político da
campanha.
“Mesmo nos estados, são poucos os casos em que um partido manteve o
poder por mais de três mandatos. Será, sem dúvida, a nossa eleição mais
difícil” - José Guimarães, vice-presidente do PT
70% - Índice de brasileiros que querem mudanças a partir de 2015, de acordo com levantamentos
Fonte: Por Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário