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segunda-feira, 23 de junho de 2014

DF: Disputa assombra os eleitores

O ex-governador do Distrito Federal deixa a Superintendência da Polícia Federal em abril de 2010. 
 
Eleição no Distrito Federal tem governador impopular, candidatos com longas fichas corridas conhecidas e uma terceira via que não consegue se viabilizar.

A quatro meses das eleições, a grande maioria dos eleitores brasilienses não definiu seu candidato para a sucessão do governo do Distrito Federal. O desencanto captado pelas pesquisas não causa estranheza aos analistas políticos. De um lado da disputa está o governador Agnelo Queiroz, do PT, com um dos piores índices de aprovação do País. De outro, a oposição articula-se em torno do ex-governador José Roberto Arruda, preso em 2010 após ser flagrado em vídeo recebendo propina de Durval Barbosa, delator e um dos operadores do “mensalão do DEM”, esquema de corrupção com distribuição de mesadas a parlamentares.

À candidatura de Arruda, juntaram-se os ex-senadores Luiz Estevão e Joaquim Roriz, velhos conhecidos das páginas policiais. E os concorrentes da “terceira via” ainda penam para vencer a barreira dos dois dígitos nas intenções de voto.

Na mais recente pesquisa registrada na Justiça Eleitoral, o Instituto Veritás consultou 2.227 eleitores do Distrito Federal entre 3 e 6 de junho. Nas respostas espontâneas, 63,4% dos entrevistados afirmaram não saber em quem votar. Outros 11,3% indicaram voto branco ou nulo. Somente no cenário estimulado, com a apresentação dos prováveis candidatos, Arruda lidera a corrida eleitoral com 24,5% das intenções de voto, seguido por Queiroz, com 13%. Entre os nomes da “terceira via”, o melhor posicionado é o senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, com 9,8%.

“Esse cenário não chega a surpreender. Na ausência de lideranças alternativas consolidadas, o eleitor vê-se obrigado a escolher entre os políticos tradicionais, por mais nebuloso que seja o passado deles”, avalia o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas. “Surpreendente é ver Brasília, a capital da República, atolada num panorama político tão desolador.”

A ficha corrida dos principais atores da política brasiliense é singular. Antes de entrar para a história do País como o primeiro governador preso no exercício do mandato, Arruda viu-se forçado a renunciar ao mandato de senador em 2001, após admitir ter violado o painel de votação do Senado no ano anterior. Temia ter o mesmo destino que seu atual aliado, Luiz Estevão, primeiro senador da República a ter o mandato cassado, em 2000, por desvios na obra do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Acabou condenado a 31 anos de prisão, mas recorre da sentença.

Com longa trajetória de processos na Justiça, Joaquim Roriz acabou barrado pela Ficha Limpa em 2010, quando tentava o quinto mandato no governo, por ter renunciado ao mandato no Senado em 2007. À época, foi acusado de negociar uma partilha irregular de 2,2 milhões de reais com o presidente do Banco Regional de Brasília (BRB). De última hora, abdicou da candidatura em favor da mulher Weslian Roriz, que chegou a disputar o segundo turno contra Agnelo Queiroz. Inexperiente, a mulher deu vexame nos debates e facilitou a vitória do petista.

Para as eleições de 2014, Roriz decidiu escalar a filha Liliane Roriz, deputada distrital pelo PRTB. Depois, anunciou apoio a Arruda, com a filha como vice na chapa. Liliane desistiu, porém, das pretensões ao Palácio do Buriti. Disputará a reeleição na Assembleia Legislativa, embora mantenha o apoio a Arruda.

Mesmo diante da fragilidade dos adversários, Queiroz terá enorme dificuldade para reeleger-se. No fim de 2013, seu governo era avaliado positivamente por apenas 9% da população, segundo o Ibope. Além disso, sua administração não é exatamente um exemplo de lisura. Recentemente, a primeira-dama do Distrito Federal, Ilza Queiroz, foi flagrada em grampo telefônico pedindo a um administrador regional, investigado pela Polícia Civil por fraudar alvarás, que “agilizasse” o processo de uma clínica. “Dona Ilza, pode dormir sabendo que amanhã a licença está na mão deles”, respondeu o funcionário, nomeado pelo governador.

Pesam ainda numerosas denúncias de superfaturamento em contratos públicos firmados durante a administração petista, a começar pela reforma do Estádio Nacional de Brasília, o mais caro da Copa, bancado integralmente pelos cofres públicos. Em março, uma auditoria do Tribunal de Contas da União apontou indícios de superfaturamento de 431 milhões de reais na execução da obra. O governador nega todas as acusações, e culpa a oposição pela sanha persecutória. Mas algumas histórias são realmente difíceis de engolir, como o gasto de 5,5 milhões de reais para a compra de 17 mil capas de chuva para a Polícia Militar, tendo em vista a realização da Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Como se sabe, no período dos eventos esportivos, a capital federal passa por um período de seca.

O que intriga os especialistas é a incapacidade de renovação política. “É assustador ver essa turma liderando a disputa eleitoral”, afirma o cientista político João Paulo Peixoto, da UnB. A atual crise de representatividade, afirma o professor, pode ter relação com o excesso de poder da capital federal. Embora seja uma unidade federativa diferenciada dos demais estados, o Brasília tem direitos semelhantes: elege oito deputados e três senadores. Mas dispõe de regalias, como o repasse de recursos da União para bancar a segurança pública. O orçamento é de fazer inveja a muitos estados brasileiros: 35 bilhões de reais previstos para 2014. O valor é 60% superior ao orçamento do vizinho estado de Goiás, que dispõe de uma população 2,3 vezes maior.

“É muito poder para grupos dispostos a parasitar”, afirma Peixoto. “Todos os gastos da capital dos Estados Unidos precisam ser aprovados pelo Congresso americano. E Washington DC não tem direito a eleger senadores. Ottawa, a capital do Canadá, é uma cidade como outra qualquer, sem nenhuma regalia especial.”

Além disso, no Distrito Federal, não há municípios autônomos. O governador nomeia todos os 31 administradores regionais das “cidades-satélites”, lembra Claudio Couto, da FGV. “Essa centralização dificulta o surgimento de novas lideranças”.

Fonte: Por Rodrigo Martins - Revista CartaCapital.

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