O ex-governador do Distrito Federal deixa a Superintendência da Polícia Federal em abril de 2010.
Eleição no Distrito Federal tem governador impopular, candidatos com
longas fichas corridas conhecidas e uma terceira via que não consegue se
viabilizar.
A quatro meses das eleições, a grande maioria dos eleitores
brasilienses não definiu seu candidato para a sucessão do governo do
Distrito Federal. O desencanto captado pelas pesquisas não causa
estranheza aos analistas políticos. De um lado da disputa está o
governador Agnelo Queiroz, do PT, com um dos piores índices de aprovação
do País. De outro, a oposição articula-se em torno do ex-governador
José Roberto Arruda, preso em 2010 após ser flagrado em vídeo recebendo
propina de Durval Barbosa, delator e um dos operadores do “mensalão do
DEM”, esquema de corrupção com distribuição de mesadas a
parlamentares.
À candidatura de Arruda, juntaram-se os ex-senadores Luiz Estevão e
Joaquim Roriz, velhos conhecidos das páginas policiais. E os
concorrentes da “terceira via” ainda penam para vencer a barreira dos
dois dígitos nas intenções de voto.
Na mais recente pesquisa registrada na Justiça Eleitoral, o Instituto
Veritás consultou 2.227 eleitores do Distrito Federal entre 3 e 6 de
junho. Nas respostas espontâneas, 63,4% dos entrevistados afirmaram não
saber em quem votar. Outros 11,3% indicaram voto branco ou nulo. Somente
no cenário estimulado, com a apresentação dos prováveis candidatos,
Arruda lidera a corrida eleitoral com 24,5% das intenções de voto,
seguido por Queiroz, com 13%. Entre os nomes da “terceira via”, o melhor
posicionado é o senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, com 9,8%.
“Esse cenário não chega a surpreender. Na ausência de lideranças
alternativas consolidadas, o eleitor vê-se obrigado a escolher entre os
políticos tradicionais, por mais nebuloso que seja o passado deles”,
avalia o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas.
“Surpreendente é ver Brasília, a capital da República, atolada num
panorama político tão desolador.”
A ficha corrida dos principais atores da política brasiliense é
singular. Antes de entrar para a história do País como o primeiro
governador preso no exercício do mandato, Arruda viu-se forçado a
renunciar ao mandato de senador em 2001, após admitir ter violado o
painel de votação do Senado no ano anterior. Temia ter o mesmo destino
que seu atual aliado, Luiz Estevão, primeiro senador da República a ter o
mandato cassado, em 2000, por desvios na obra do Tribunal Regional do
Trabalho de São Paulo. Acabou condenado a 31 anos de prisão, mas recorre
da sentença.
Com longa trajetória de processos na Justiça, Joaquim Roriz acabou
barrado pela Ficha Limpa em 2010, quando tentava o quinto mandato no
governo, por ter renunciado ao mandato no Senado em 2007. À época, foi
acusado de negociar uma partilha irregular de 2,2 milhões de reais com o
presidente do Banco Regional de Brasília (BRB). De última hora, abdicou
da candidatura em favor da mulher Weslian Roriz, que chegou a disputar o
segundo turno contra Agnelo Queiroz. Inexperiente, a mulher deu vexame
nos debates e facilitou a vitória do petista.
Para as eleições de 2014, Roriz decidiu escalar a filha Liliane Roriz,
deputada distrital pelo PRTB. Depois, anunciou apoio a Arruda, com a
filha como vice na chapa. Liliane desistiu, porém, das pretensões ao
Palácio do Buriti. Disputará a reeleição na Assembleia Legislativa,
embora mantenha o apoio a Arruda.
Mesmo diante da fragilidade dos adversários, Queiroz terá enorme
dificuldade para reeleger-se. No fim de 2013, seu governo era avaliado
positivamente por apenas 9% da população, segundo o Ibope. Além disso,
sua administração não é exatamente um exemplo de lisura. Recentemente, a
primeira-dama do Distrito Federal, Ilza Queiroz, foi flagrada em grampo
telefônico pedindo a um administrador regional, investigado pela
Polícia Civil por fraudar alvarás, que “agilizasse” o processo de uma
clínica. “Dona Ilza, pode dormir sabendo que amanhã a licença está na
mão deles”, respondeu o funcionário, nomeado pelo governador.
Pesam ainda numerosas denúncias de superfaturamento em contratos
públicos firmados durante a administração petista, a começar pela
reforma do Estádio Nacional de Brasília, o mais caro da Copa, bancado
integralmente pelos cofres públicos. Em março, uma auditoria do Tribunal
de Contas da União apontou indícios de superfaturamento de 431 milhões
de reais na execução da obra. O governador nega todas as acusações, e
culpa a oposição pela sanha persecutória. Mas algumas histórias são
realmente difíceis de engolir, como o gasto de 5,5 milhões de reais para
a compra de 17 mil capas de chuva para a Polícia Militar, tendo em
vista a realização da Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Como se
sabe, no período dos eventos esportivos, a capital federal passa por um
período de seca.
O que intriga os especialistas é a incapacidade de renovação política.
“É assustador ver essa turma liderando a disputa eleitoral”, afirma o
cientista político João Paulo Peixoto, da UnB. A atual crise de
representatividade, afirma o professor, pode ter relação com o excesso
de poder da capital federal. Embora seja uma unidade federativa
diferenciada dos demais estados, o Brasília tem direitos semelhantes:
elege oito deputados e três senadores. Mas dispõe de regalias, como o
repasse de recursos da União para bancar a segurança pública. O
orçamento é de fazer inveja a muitos estados brasileiros: 35 bilhões de
reais previstos para 2014. O valor é 60% superior ao orçamento do
vizinho estado de Goiás, que dispõe de uma população 2,3 vezes maior.
“É muito poder para grupos dispostos a parasitar”, afirma Peixoto.
“Todos os gastos da capital dos Estados Unidos precisam ser aprovados
pelo Congresso americano. E Washington DC não tem direito a eleger
senadores. Ottawa, a capital do Canadá, é uma cidade como outra
qualquer, sem nenhuma regalia especial.”
Além disso, no Distrito Federal, não há municípios autônomos. O
governador nomeia todos os 31 administradores regionais das
“cidades-satélites”, lembra Claudio Couto, da FGV. “Essa centralização
dificulta o surgimento de novas lideranças”.
Fonte: Por Rodrigo Martins - Revista CartaCapital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário