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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Política continua sem forma 'GDF'


Segundo os especialistas, é certo um segundo turno, tanto para a disputa ao governo como para a presidência. A renovação na Câmara dos Deputados e na CLDF deve ser histórica
 

Agnelo Queiroz é a única certeza de quem será candidato para o Palácio do Buriti

Faltando poucos dias para o início das convenções partidárias, o cenário político do DF começa a tomar forma. Entretanto, só após o dia 5 de julho é que o eleitor brasiliense saberá, com certeza, quem realmente será candidato. Por enquanto quem lançou candidatura ao governo foi Agnelo Queiroz (PT), que tenta a reeleição, o ex-governador José Roberto Arruda (PR), com Liliane Roriz (PRTB) de vice, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB), a distrital Eliana Pedrosa (PPS) e o federal Luiz Pitiman (PSDB).

Para Antônio Flávio Testa, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), a disputa ao governo do Distrito Federal será dividida e tende a ter um segundo turno. Ele afirma ainda que todo mundo tem chance. “Todos os candidatos, em tese, têm chances. Mas, quem tem a máquina do governo na mão tende a ter mais vantagens. Porém, a oposição pode crescer, devido a não aceitação popular do atual governo. Cada um tem suas características e, em tese, são bons candidatos. É necessário avaliar a estrutura partidária e as coligações para definir melhor o potencial de cada um”, avalia.

O cientista político acredita em uma disputa com baixa qualidade. “Provavelmente será uma campanha tensa e muito baixa. Não creio que será uma disputa com alto nível de debate e mobilização. A prática política local tem apresentado uma queda crescente, no que se refere à qualidade”, considera.

Especialistas acreditam que a junção de Arruda com Roriz atrai muitos votos

Já na opinião de Luis Otávio Assunção, sociólogo e cientista político da Universidade Católica de Brasília (UCB), o cenário político no Distrito Federal ainda não está bem definido. “A candidatura do atual governador, Agnelo Queiroz (PT) é a mais consistente. Essa possibilidade que há da união da família Roriz com o ex-governador Arruda também pode atrair muitos votos. O ex-governador Joaquim Roriz tem um nome muito forte e isso altera o cenário eleitoral, pois quem tiver o apoio dele, com certeza conseguirá muitos votos. O nome de Arruda ainda não é certo, é uma indecisão”, acredita.

De acordo com Assunção, a terceira via ainda está muito indefinida, mas não deve ser desconsiderada. “Eu vejo a candidatura do senador Rodrigo Rollemberg como uma alternativa para alterar as eleições para presidência da República, para conseguir votos no DF para Eduardo Campos (PSB). A união de Rollemberg e Reguffe é forte, mas eles dois ainda são muito novos na política para terem um cargo majoritário. Infelizmente eles não possuem tanta história na política local. Acho que talvez, em outras eleições os dois estejam preparados. Na primeira leitura que faço do cenário e dos principais candidatos, Rollemberg não tem grande barganha para ganhar o governo”, afirma.

O sociólogo diz que há uma grande tendência de ocorrer segundo turno e com isso, Rollemberg pode conseguir negociar cargos políticos com quem ele apoiar. Na percepção de Assunção, a disputa será polarizada entre PT e o grupo de Arruda com Roriz, entretanto, a terceira via (Rollemberg) pode crescer e ter um número considerável de votos, alterando o segundo turno das eleições.

Sociólogo acredita que Rollemberg não tem barganha para ganhar a eleição

O doutor em ciência política pela UnB, Leonardo Barreto, vê as eleições deste ano de forma pessimista por conta da maneira muito negativa e pouco estimulada com a qual a população está encarando o processo eleitoral e as suas opções. Segundo ele, a disputa será polarizada entre Arruda e os outros. “Isso acontece porque a população quer passar essa história a limpo e ele possivelmente será o alvo preferencial de todos, especialmente do atual governador. No entanto, com o início da campanha, acho que o senador Rollemberg e o deputado Pitiman terão condições de abrir novas frentes de debate e o jogo tende a se tornar mais parelho, mais equilibrado”, destaca.

Barreto acredita em uma disputa com nível baixo. “Agnelo dificilmente deixará de lembrar as denúncias de corrupção por Arruda. O debate tenderá a se concentrar nessa questão, deixando de lado temas de políticas públicas, o que é uma pena”, avalia. “A chance de vitória vai depender de cada candidato. Vai depender fundamentalmente da capacidade de Agnelo conseguir defender o seu governo, de Arruda justificar as acusações contra ele e de Rollemberg e Pitiman conseguirem ‘vender’ novos projetos. Devemos considerar também a influência dos candidatos à presidência na dinâmica interna. Aécio Neves e Marina Silva (vice de Eduardo Campos) possuem muito potencial de puxar votos para os seus candidatos, Pitiman e Rollemberg, respectivamente. Por fim, teremos que ver com tradicionais cabos eleitorais se posicionarão como Reguffe, Cristovam Buarque, Joaquim Roriz. Há muitas variáveis operando, o que torna muito difícil fazer previsões”, diz.

Barreto tem certeza que haverá um segundo turno na capital federal e faz uma breve avaliação sobre cada candidato. “O principal ativo de Agnelo é a quantidade de partidos que formam a sua coligação e as obras que ele conseguirá entregar até outubro. Arruda tem fama de realizador e tem o apoio de Roriz, mas tem problemas com a Justiça. Já Rodrigo Rollemberg tem Marina Silva ao seu lado, o que vai lhe conferir uma ar de renovação, algo que as pessoas querem viver. Por fim, Pitiman deve tentar criar um neororizismo, com um discurso baseado em obras. Há um campo na direita para ele. Vamos ver como cada candidato vai operar os recursos à seu favor”, analisa.

Renovação na Câmara Legislativa e na CLDF

Na opinião de Testa, não haverá uma grande renovação na Câmara dos Deputados e nem na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Segundo ele, podem mudar alguns nomes, mas a prática será sempre a mesma: clientelista e fisiológica, sem visão estratégica. E, funcionando subordinada ao Executivo e como se fosse uma Câmara de Vereadores de um município do interior. O especialista diz que a vitória de quem ainda não conseguiu entrar na vida política dependerá somente de quanto o candidato terá para investir na campanha e o acesso a uma boa coligação. Já o cientista político da UCB acredita que tanto a renovação na Câmara dos Deputados como na CLDF deve ser em 30% a 40%.

Na concepção de Emerson Cervi, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a renovação da Câmara dos Deputados é histórica a cada eleição, com cerca de 50%, podendo variar entre 40% e 60%. Nada muito diferente disso. Cervi não acredita que muitos estreantes na política consigam ganhar. “Gente nova mesmo, que nunca tenha passado por nenhum cargo eletivo anterior será em proporção bem baixa. O que é bom, pois mostra a maturidade do nosso sistema político”, defende.

Barreto explica que por mais que as pessoas estejam manifestando vontade de mudança, o fato é que se trata de uma corrida para profissionais, para políticos bem estruturados. “Devemos assistir às reeleições ou ao upgrade de deputados distritais. Mas poucos nomes novos. Na CLDF é mais fácil ter renovação, porque a competição é muito mais apertada”.

Eleições para presidente

Para a disputa presidencial, os cientistas políticos acreditam na grande possibilidade de um segundo turno. Na visão de Testa, as pesquisas ainda dão à Dilma Rousseff (PT) um bom nível de competitividade. Mas, a probabilidade de mudança no comando do Estado é grande, em um eventual segundo turno. O especialista da UnB considera os candidatos ao Palácio do Planalto bons, mas acha que eles ainda precisam mostrar ao povo o que pretendem fazer. “Dilma já está desgastada e virá com o mesmo discurso de que precisa de mais tempo para concluir o que não conseguiu terminar. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) ainda não mostraram, de fato, seu potencial de mudança, e a população quer mudanças. Quando começar a campanha na TV é provável que os opositores de Dilma mostrem suas ideias”, conclui.

De acordo com Cervi, todos são candidatos em um sistema com alta concentração partidária. “Poucos partidos, e os mesmos, apresentam candidatos viáveis à presidência nos últimos 20 anos. É uma característica do nosso sistema”, observa.

Segundo Assunção, o crescimento de Aécio Neves e a perda da popularidade de Dilma altera bastante o cenário presidencial. “O PT não contava com o crescimento de Aécio, tanto é que internamente está tendo o movimento ‘Volta Lula’. A Dilma está desgastada, ainda mais com a inflação batendo à porta. Se as eleições fossem há quatro meses atrás, ela teria mais chances que hoje, até mesmo no segundo turno”, considera.

Barreto acredita em uma disputa equilibrada a nível nacional. “Dilma parte em condições de vantagem, mas não conta com um nível de aprovação que permita-lhe ganhar o pleito no primeiro turno. As pessoas estão mais disponíveis para escutar ideias novas do que estavam em 2010. Dilma e Aécio começam como protagonistas, especialmente porque o tucano conta com mais recall, vem de um colégio eleitoral importante (MG) e seu partido tem mais densidade do que o PSB, por exemplo. Campos depende muito da campanha para se apresentar à massa de eleitores e deve ficar estagnado até lá. Assim como no DF, devemos esperar uma briga dura e imprevisível”, ressalta.

Fonte: Jornal da Comunidade por Jurana Lopes da Redação / Postado por Donny Silva.

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