Navios responsáveis pelo transporte de produtos da estatal eram negociados sem pesquisa de preço ou análise de documentos. Dados constam em relatório elaborado por auditores, diz jornal.
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras
Um relatório produzido por um grupo de auditores da Petrobras aponta
que acordos milionários foram fechados durante a gestão de Paulo Roberto
Costa sem obedecer a requisitos mínimos de controle estabelecidos pela
estatal - alguns deles, baseados apenas em autorizações verbais. É o que
informa reportagem desta segunda-feira do jornal Folha de S. Paulo, com
base no relatório da auditoria. O relatório data de 2009 e aponta que o
setor de abastecimento da estatal, comandado por Costa até 2012, fechou
contratos de frete de maneira informal. O ex-diretor da estatal foi
preso na operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Investigado sob
suspeita de corrupção, Costa foi liberado da cadeia na semana passada.
O documento mostra que operações feitas em 2008, e totalizando 278
milhões de dólares, não obedeceram aos critérios de controle. As
irregularidades envolveram contratações de navios. Segundo a análise
feita pelos auditores da Petrobras, os contratos analisados descumpriram
"procedimentos previstos no manual de afretamento" e referem-se a
irregularidades na contratação de navios, responsáveis pelo transporte
de produtos.
Entre as falhas apontadas, há falta de autorização por escrito para
iniciar processos de frete, autorização prévia para tomada de preços com
aval de gerente e contratações informais que levaram até 390 dias para
serem registradas no sistema. Alguns contratos sequer apontam registro
de informações de histórico de negociação no sistema de conferência de
compras da Petrobras e da empresa prestadora de serviço. Com a falta de
registro e informações não detalhadas, auditores relatam que há
impedimento para analisar como os negócios foram firmados e, portanto,
dificuldades de apuração de irregularidades.
O relatório indica ainda a necessidade de rever o manual de
afretamento, a contratação de terceirizados para o serviço.
"Descontroles dessa magnitude podem ser resultado de falta de comando,
falhas de comunicação, pressa. É uma situação inadmissível em uma
empresa desse porte, e abre caminho para má fé", aformou ao jornal
Fernando Filardi, pesquisador da área de administração do Ibmec-RJ.
Destino de 18% de todos os investimentos da Petrobras, a área de
abastecimento é a segunda mais importante da empresa, atrás apenas de
Exploração e Produção, alvo de 70% dos recursos. Além da comercialização
de petróleo e derivados - atividade que demanda contratações de navios
para movimentação de carga em todo o mundo-, estão sob sua
responsabilidade a gestão das 13 refinarias no Brasil e a construção de
outras quatro.
O uso de empresas terceirizadas para o transporte de produtos
produzidos pela Petrobras foi algo de investigação durante a Operação
Lava-Jato. A PF apura um suposto esquema de evasão de divisas e lavagem
de dinheiro com recursos da petroleira e outras fontes. Entre os
investigados da PF estão Costa, que ficou preso por dois meses por
suspeita de destruir provas, e o doleiro Alberto Yousseff.
Procurada pela Folha, a Petrobras informou não ter constatado
"irregularidades ou prejuízos" nas operações auditadas na diretoria de
abastecimento. As falhas e irregularidades constatadas pela auditoria
interna da empresa são "explicadas em parte pela dinâmica de mercado à
época e pelo aumento das contratações de frete", informou. A Petrobras
afirmou também que acatou as sugestões de melhorias em seus processos
internos feitas pelo grupo de auditores.
Fonte: Revista VEJA.
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