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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mensalão do PT: Da cadeia, Valdemar distribui crises

Sob risco de voltar à Papuda devido a supostas regalias recebidas no semiaberto, ex-presidente do PR segue dando as cartas na legenda e comanda pressão dos deputados do partido para substituir Dilma Rousseff na corrida pelo Planalto.


Valdemar Costa Neto deixa o Centro de Progressão Penitenciária para trabalhar: mesmo cumprindo pena, ex-deputado tentou influenciar a troca do ministro dos Transportes, César Borges.

O manifesto assinado por 20 deputados da bancada federal do PR, que pedia o “Volta, Lula” e rifava a presidente Dilma Rousseff da disputa presidencial, lido na Câmara dos Deputados há pouco mais de uma semana, foi pensado e articulado pelo ex-presidente da sigla Valdemar Costa Neto. Até algumas expressões do texto passaram pelo crivo do ex-deputado federal, que cumpre pena em regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), em Brasília, após ter sido condenado a sete anos e 10 meses de prisão no processo do mensalão. Envolvido em denúncias de que teria regalias no CPP, Valdemar pode estar contando os dias para ter o benefício do trabalho externo cancelado e voltar à Papuda.

Alguns parlamentares do PR, ouvidos reservadamente pelo Correio, confirmaram a informação. Na visão de um dos deputados, Valdemar está insatisfeito com o Planalto porque queria emplacar, no Ministério dos Transportes, o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR/SP) ou o deputado Edson Giroto (PR-MS) em substituição ao titular da pasta, César Borges. “O comando do PR é dele. Qualquer iniciativa do partido passa pelo Valdemar. Ele chamou o Bernardo (deputado Bernardo Santana, líder do PR na Câmara) e deu essa ordem do manifesto. Pensou que, estimulado por alguém, o gesto poderia facilitar a mudança do ministro. Acho que não funcionou”, comentou um dos parlamentares.

No documento, lido pelo deputado Bernardo Santana, a legenda afirmava que apenas Lula tinha a experiência necessária para comandar o Brasil nos próximos quatro anos. “Certos de que o Brasil precisa inaugurar um novo ciclo virtuoso de crescimento pela via da conciliação nacional, entendemos que o momento de crise, dentro e fora do país, reivindica a força de uma liderança política com a experiência e o brilho de Luiz Inácio Lula da Silva no comando da nação brasileira, novamente”. Ao fim do ato, o líder do PR chegou a colocar a foto do ex-presidente Lula na parede do gabinete da liderança na Câmara.

Homem de confiança

No fim do ano passado, o Correio mostrou que, na época, mesmo preso no Complexo da Papuda, o ex-deputado Valdemar Costa Neto continuava dando as ordens no PR. No início de dezembro, a reportagem publicada indicava que Valdemar teve uma reunião na cadeia com o secretário-geral da legenda e seu homem de confiança, o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR/SP). De dentro da prisão, o parlamentar traçava metas para eleger uma bancada de 40 deputados nas próximas eleições, conjecturava alianças nos estados e fazia sondagem de potenciais candidatos com possibilidade de votações expressivas.

Na época, ao ser questionado, o senador Antônio Carlos Rodrigues, que ocupou a vaga deixada por Marta Suplicy (PT/SP) quando a petista assumiu o Ministério da Cultura, confirmou, na primeira conversa por telefone, que ele ainda tem ascendência no partido. “Sem dúvida alguma. Não é por ele se encontrar nessa situação que iremos desprezá-lo”, justificou. Depois, no segundo contato com a reportagem, mudou o tom. O parlamentar, escolhido estrategicamente por Valdemar para conduzir as decisões da sigla, fez questão de salientar que ele já repassou o comando do partido. “O Valdemar se afastou do partido. Ele está estudando, fazendo um curso na prisão. Fiz uma visita particular. Ele é meu amigo”, ressaltou.

No início de abril, o jornal Folha de S. Paulo mostrou que Valdemar, empregado como gerente administrativo de um restaurante industrial, recebeu o líder do PR, Bernardo Santana, e o deputado Vinícius Gurgel (PR/AP) em duas oportunidades, cada um deles, no local de trabalho. Na pauta do encontro, entre outros assuntos, o posicionamento do partido diante do “blocão”, grupo de deputados aliados que se rebelava contra o governo.

Provocado pelo Ministério Público do Distrito Federal, o juiz Vinicius Santos Silva, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, determinou a abertura de um inquérito disciplinar para apurar se o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR/SP) descumpriu as condições que lhe foram impostas para obter o benefício do trabalho externo. A investigação ainda não foi concluída. Se ficar provado que o ex-deputado cometeu irregularidades, ele pode retornar à Papuda para cumprir pena em regime fechado.

Fonte: João Valadares - Correio Braziliense.

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