Inserção que evoca o temor dos "fantasmas do passado", em referência ao governo do PSDB, é alvo de críticas petistas nos bastidores.
Família retratada na peça publicitária petista sofre com a pobreza: oposição critica o sensacionalismo eleitoral.
O “discurso do medo” exibido na propaganda do PT dividiu a cúpula do
governo Dilma Rousseff. Enquanto parte dos ministros considerou
necessária a peça publicitária montada pelo marqueteiro João Santana
como forma de demarcar território contra os tucanos, outro grupo também
influente nas decisões da presidente deixou clara a insatisfação com o
tom sombrio do comercial. No anúncio de um minuto que começou a ser
veiculado na terça-feira, atores fazem o papel de homens, mulheres e
crianças felizes — com emprego, remédios, carro e escola —, até
avistarem eles mesmos desempregados, a pé, a pedir esmolas. No fim da
peça, uma voz diz: “Não podemos deixar que os fantasmas do passado
voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço”. O PT
apresentará hoje a propaganda partidária de 10 minutos com um jogral
entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, ressaltando os avanços do país nos últimos 12 anos, e a
expectativa é saber se o tom da inserção de um minuto será mantido.
Não é a primeira vez que há uma nítida divisão no Planalto sobre os
rumos do discurso de campanha petista. Em janeiro deste ano, o partido
fez um ataque direto ao candidato do PSB, Eduardo Campos. Como da
primeira vez, a discussão interna do governo é até que ponto o PT não
está antecipando as investidas contra a oposição e, assim, expondo no
limite o receio de perder a eleição. Para os defensores de João Santana,
o marqueteiro sabe o que está fazendo ao ter em mãos pesquisas internas
que mostram a necessidade de partir para o ataque o mais rápido, por
mais que, por ora, a estrutura do comercial possa servir apenas para
animar a militância petista. Em contrapartida, municia o discurso da
oposição.
Desespero do desempregado: o discurso é "não podemos voltar atrás"
Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o próprio debate
gerado pela propaganda mostra que o partido acertou na estratégia. Sobre
o tom sombrio da peça, ele acha que a tendência é um crescente de
otimismo nas próximas inserções. “Eles estão querendo sepultar o que
fizemos ao longo destes 12 anos. Não estamos incutindo o medo, apenas
mostrando que a campanha deles se baseia em propostas vazias”, completou
Costa.
“Desesperança”
Convidados ontem para uma sabatina durante a Marcha dos Prefeitos, o
pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, e o do PSB, Eduardo Campos,
repetiram as críticas feitas na véspera. “Depois de 12 anos no poder, é
isso que o PT tem a oferecer ao país? O medo, a desesperança? É o sinal
de um governo que está em seus estertores”, declarou o tucano. Ao
Correio, ele usou de ironia. “Os petistas estão, sim, com medo de perder
o emprego dos companheiros”, provocou. Eduardo também atacou o tom
pessimista da propaganda petista, lembrando que, em períodos eleitorais,
aparecem pessoas dizendo que se “alguém for eleito, fará determinada
coisa, e, se outra pessoa for eleita, não fará”.
Na avaliação de parlamentares da oposição, a propaganda é incoerente
com o momento histórico do país. “O PT subestima a inteligência do povo
brasileiro. Vem com um programa partidário eleitoral que mais parece o
de um partido que não está e nunca esteve no poder. Ele vem com um
discurso de que vai resolver os problemas do Brasil e de que são os
outros que estão fazendo mal para o país. O PT esquece que ele está há
12 anos no poder”, disse o líder da minoria na Câmara, deputado Domingos
Sávio (PSDB-MG).
Fonte: Leonardo Cavalcanti, Paulo de Tarso Lyra e Naira Trindade - Correio Braziliense.
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