Após
oficializar pré-candidatura a presidente, o ex-governador de Pernambuco
deixou o seu Estado como parte da estratégia para ganhar votos no maior
colégio eleitoral do país
A tradicional família Arraes está representada em São Paulo por uma
ponte no bairro da Penha e por uma escola encravada na favela de
Paraisópolis.
Ambas se chamam Miguel Arraes, em homenagem ao advogado e economista
que se tornou um dos principais líderes políticos do Nordeste no século
XX. A ligação dos Arraes com São Paulo não vai muito além disso. A
partir desta semana, a família estreita significativamente seus laços
com os moradores da metrópole. Eduardo Campos, pré-candidato a
presidente pelo PSB, passa a morar num pequeno apartamento em São Paulo,
perto do aeroporto de Congonhas.
Campos é neto de Arraes e seu herdeiro político. Ele entregou o cargo
de governador de Pernambuco, que ocupou por sete anos e três meses, na
sexta-feira, dia 4. Deixou a chave do Palácio das Princesas com o vice,
João Lyra. Depois de passar uma semana descansando com a mulher,
Renata, e com os cinco filhos do casal, Campos espera oficializou a
pré-candidatura a presidente na segunda-feira (13), em Brasília. Logo
depois, se mudou para São Paulo. Num primeiro momento, sozinho. Depois,
levará a família inteira.
A decisão de mudar a base eleitoral para São Paulo foi estratégica.
Além de ser o maior colégio eleitoral do Brasil, São Paulo é um desafio
para o PSB. O Estado, berço do PT, é governado pelo PSDB desde 1995,
quando a polarização entre petistas e tucanos começou a aumentar nas
disputas eleitorais. Segundo os cálculos do PSB, Campos terá de quebrar
essa polarização em São Paulo se quiser chegar ao segundo turno.
Portanto, é natural que ele concentre suas agendas e algumas ações de
campanha em São Paulo, onde vivem 22% do eleitorado.
Campos procura também um local na capital paulista onde possa montar um
estúdio para gravar os programas do horário eleitoral gratuito. Existe
até a possibilidade de, num segundo momento, ele se mudar para uma casa
maior, onde essa estrutura possa ser montada. Campos e família morariam,
assim, dentro do próprio Q.G. eleitoral. Em São Paulo, o PSB também
cogita montar o centro responsável pela campanha na internet. A Rede, o
partido de Marina Silva coligado a Campos, mantém seus serviços de mídia
digital na capital paulista. Toda essa estrutura deverá ser
administrada por um pool de marqueteiros, já que Campos não pretende
escolher um único nome para a função. No esforço para conquistar São
Paulo, ele não pretende descuidar de sua base – o Nordeste. Quer visitar
a região a cada 15 dias, pelo menos.
O Sudeste e o Sul são os redutos a conquistar. Nas últimas eleições,
Dilma Rousseff perdeu no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do
Sul. Isso significa que esses Estados podem pender para quem apresentar a
melhor proposta oposicionista. Para Campos, morar perto do aeroporto de
Congonhas fará diferença. Ao lado de Marina, ele planeja percorrer os
maiores colégios eleitorais do país. A maior parte dessas cidades fica
nas regiões Sudeste e Sul, onde a presença do PSB também é menor se
comparada à força do partido no Nordeste.
Marina será a encarregada, segundo o PSB, de “apresentar Campos” aos
eleitores do Sul e do Sudeste, onde ela foi bem votada em 2010. Ela será
especialmente importante para conquistar um eleitor mais à esquerda,
que costumava votar no PT, mas se desiludiu após os inúmeros casos de
corrupção envolvendo o partido. A dupla fará críticas à capacidade de
Dilma Rousseff como gestora (um assunto caro a Marina, que saiu do
governo ao divergir dela) e à crise da Petrobras. “Não há como não tocar
nesse assunto”, diz o deputado Beto Albuquerque (PSB/RS). Campos tem
batido no tema em suas aparições públicas, e o assunto também foi
abordado, há duas semanas, no programa de TV em que Campos e Marina
apareceram juntos. Os dois buscam afinar o discurso. A coordenação da
campanha será a quatro mãos, com uma dupla formada por um integrante do
PSB e outro da Rede. A coordenação executiva será dividida entre Carlos
Siqueira, pelo PSB, e Bazileu Margarido, pela Rede.
Esta será a primeira eleição, desde a redemocratização, em que nenhum
dos principais candidatos fez carreira em São Paulo. As outras mostraram
que o eleitor paulista gosta de nomes caseiros. Na eleição de 1989,
Paulo Maluf teve votação expressiva no primeiro turno – perdeu por
décimos para Fernando Collor de Mello. No segundo, apoiou Collor, e esse
apoio foi decisivo para a vitória dele. Nas eleições seguintes,
venceram Fernando Henrique Cardoso e Lula – dois políticos com carreira
construída em São Paulo, que começaram a carreira juntos, distribuindo
panfletos em greves no ABC. Em 2010, Dilma ganhou – mas, em São Paulo, a
vitória foi de José Serra, paulistano nascido no bairro da Mooca e
torcedor do Palmeiras. Campos, pernambucano e torcedor do Náutico, quer
herdar esse eleitor caseiro. Ele sabe que cruzar a esquina da Ipiranga
com a Avenida São João pode ser um atalho decisivo para chegar ao
endereço mais cobiçado pelos políticos – o Palácio do Planalto.
Fonte: Alberto Bombig - Revista Época.
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