O PMDB tem 75 deputados federais. A grossa maioria da bancada é
desconhecida. Nos últimos dias, porém, ficou fácil identificar um
peemedebistas nas rodinhas da Câmara. Quando não está espinafrando Dilma
Rousseff, está falando mal de Michel Temer. A manutenção da
vice-presidência da República num eventual segundo mandato de Dilma
ganhou um apelido jocoso entre os correligionários de Temer: “Projeto
Ema”.
Atrás da piada esconde-se uma avaliação cáustica. Na opinião da maioria
dos deputados do PMDB, Dilma esvaziou tanto o gabinete da
vice-presidência que terminou convertendo Temer num personagem de
anedota, cuja única atribuição seria a de alimentar as emas que desfilam
pelos jardins do Palácio do Jaburu, sua residência oficial.
Na prática, Temer só é acionado por Dilma quando há incêndios no PMDB. O
fogaréu da semana passada demonstrou que o extintor pifou. Após a
reunião em que os deputados do PMDB declararam-se “independentes” e
informaram que apenas o líder Eduardo Cunha fala em nome da bancada, um
amigo do vice-presidente resumiu a cena: “O PMDB da Câmara sinalizou que
Temer já não o representa.”
Dito de outro modo: antes de acudir Dilma, Temer terá de utilizar o seu
talento de articulador para recompor seu prestígio político junto à sua
própria tribo. O estrago não é pequeno. Os correligionários de Temer o
enxergam como um representante do governo Dilma no PMDB, não como um
membro do PMDB na administração petista. Nessa versão, a presença de
Temer na chapa de Dilma tornou-se um projeto mais pessoal do que
partidário.

Sob Lula, o partido não tinha a vice-presidência e controlava seis
pastas, algumas delas com orçamentos polpudos Integração Nacional,
Comunicações e Saúde, por exemplo. Sob Dilma, ganhou a vice. Mas foi
empurrado para cinco ministérios periféricos e perdeu as principais
caixas que geria na Esplanada.
Licenciado
da presidência do PMDB desde janeiro de 2011, quando começou
a dar expediente no edifício anexo do Planalto, Temer comanda o PMDB
desde 2001. Na penúltima recondução, em 2010, conseguiu algo que parecia
impossível: pacificou as relações de dois grupos que viviam às turras o
PMDB da Câmara, que seguia sua liderança sem questionamentos, e o
PMDB do Senado, operado por José Sarney e Renan Calheiros.
Foi graças a essa engenharia que Temer bateu o então presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, numa disputa pela vice na primeira
chapa de Dilma. Lula preferia Meirelles. Orientara-o a filiar-se ao PMDB
(hoje, está no PSD). Vitaminado pelo acerto com o grupo do Senado,
Temer prevaleceu com facilidade sobre Meirelles.
Temer presidiu a Câmara três vezes. Tem trânsito fácil em todas as
legendas as governistas e as oposicionistas. Teria mais serventia como
articulador de soluções políticas do que como bombeiro. Foi como
liderança partidária, não como líder popular, que Temer chegou à
vice-presidência. Ele agrega à chapa do PT densidade política, não
eleitoral.
Deputado federal desde 1987, Temer elegeu-se com as próprias pernas
apenas em 1995. Nas duas eleições anteriores 1986 e 1990 seus votos só
lhe renderam a suplência. Foi à Câmara porque os titulares deixaram os
cargos.
Em 2006, ano de sua última eleição para deputado, Temer amealhou cerca
de 99 mil votos. Voltou à Câmara graças ao socorro do chamado quociente
eleitoral, índice que contabiliza sobras das urnas da coligação
partidária. Contra esse pano de fundo, Dilma submete a aliança a riscos
ao contribuir para a erosão do prestígio de Temer no PMDB, seu principal
capital político.

O que inquieta o partido de Temer é a relação “desigual e injusta” que
se estabeleceu com o petismo. Para as ocasiões festivas da posse de
ministros à entrega de máquinas e tratores nos municípios, Dilma tem o
PT. Para a rotina do Legislativo, ela tem ou tinha o PMDB. Para um, os
bônus do poder. Para o outro, os ônus.
Na bica de um reencontro com as urnas, o PMDB enxerga-se numa
encruzilhada. O partido avalia que o esforço do governo para fortalecer o
PT ameaça um de seus mais vistosos trunfos: as enormes bancadas na
Câmara e no Senado. Isso depois de ter perdido a maioria na Câmara em
2010 e de ter saído alquebrado das eleições municipais de 2012.
Na visão do PMDB, o PT se equipa para tirar do PMDB o protagonismo
legislativo. No dizer de Eduardo Cunha, o PMDB estaria desempenhando na
parceria com o PT o mesmo papel secundário que o DEM exerceu nas suas
coligações com o PSDB. Nesse contexto, o “Projeto Ema” condenaria o
ex-MDB ao mesmo definhamento experimentado pelo ex-PFL. Daí a ironia
embutida na anedota: enquanto o petismo puxa a escada, Temer dá milho
moído às emas do Jaburu.
Fonte: Josias de Souza - Portal UOL.
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