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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Os herdeiros Hélder Barbalho e Rodrigo Jucá nas eleições de 2014

Hélder Barbalho
 
O bimotor King Air prefixo PT-OZP pousou no aeroporto de Paragominas, região nordeste do Pará, num domingo. Seu passageiro mais ilustre, o ministro da Agricultura, Antonio Andrade, chegava para participar de uma feira agropecuária. Produtores, criadores, prefeitos, deputados e até o governador do Estado, Simão Jatene (PSDB), esperavam Andrade para a solenidade em que ele anunciaria oficialmente que a região fora considerada zona livre da febre aftosa. Notícia alvissareira. Caía um obstáculo para os criadores da região venderem sua carne. Andrade fez a viagem de Belém a Paragominas no avião das empresas do senador Jader Barbalho, seu colega de PMDB. Mas Jader não estava. Quem acertou a viagem do ministro e o levou até Paragominas foi Hélder Barbalho, filho de Jader e pré-candidato a governador do Pará na eleição deste ano.

Na política, ele é apenas Hélder – o sobrenome Barbalho não é muito citado. Mas a associação é inescapável. As sobrancelhas de taturana que quase formam um vértice no meio, a voz e o jeito de falar são herança de Jader Barbalho. Hélder, de 34 anos, tem o estilo de discursar do pai. “Se você fechar os olhos, acha que está ouvindo o Jader”, diz o senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA).  Aos 10, 12 anos, ou “desde criança pequenina”, como diz, Hélder acompanhava o pai e a mãe, a deputada Elcione Barbalho, a reuniões políticas, encontros partidários e ouvia discursos. Hélder é o escolhido para manter a família Barbalho no exercício do poder pela terceira geração.

Como ele, outros herdeiros disputarão cargos neste ano. Em Roraima, a continuidade dos Jucás está encaminhada. Rodrigo Jucá, de 32 anos, filho do senador Romero Jucá (PMDB), será o vice na chapa do candidato ao governo Chico Rodrigues (PSB). Hélder e Rodrigo dispõem de todos os instrumentos que a política brasileira contemporânea exige para serem eleitos. Seus pais acumularam patrimônio econômico, empresas na área de comunicação e o controle do poder regional de seu partido. Assim, eles têm dinheiro, acesso privilegiado a doadores de campanha, exposição garantida e tapete vermelho na estrutura partidária. Basta aproveitar.

Todos os dias, às 9 horas da manhã, milhares de paraenses ouvem a voz de Hélder pela rádio Clube, a emissora AM de maior audiência do Pará – uma das oito rádios dos Barbalhos, que ainda têm quatro retransmissoras de televisão e um jornal. “Participe, ligue pra gente, converse com todo o Estado do Pará, fale aquilo que você deseja. Que o Pará lhe escute, que o Brasil lhe ouça!”, diz Hélder na abertura do Programa do Hélder, retransmitido por emissoras de todo o Estado. Hélder começou a carreira de radialista em março do ano passado, dois meses depois de deixar o cargo de prefeito de Ananindeua. A estreia foi precedida por uma campanha publicitária feita pela rádio e pela RBA, um dos canais de televisão da família Barbalho. Durante uma hora, Hélder apresenta um programa de utilidade pública, com repórteres que trazem notícias de todo o Pará. “Quando deixei a prefeitura, tomei a decisão de fazer um programa informativo para ter oportunidade de conversar com o Pará”, diz Hélder. No programa de 6 de janeiro, durante 13 minutos, um repórter relatou como uma erosão derrubou casas e deixou 30 famílias desabrigadas em Abaetetuba. Outro assunto foi a remoção de famílias de um bairro de Belém, por causa das obras de duplicação de uma avenida. Sobre essa notícia, Hélder fez o seguinte comentário: “A obra foi paralisada pelo atual governo. Com a paralisação, a população, sem saber o que iria acontecer, acabou invadindo o residencial Liberdade. O que me parece que está se passando com o governo é que está chegando a eleição e aí bate o desespero de quem está no mandato e não tem o que mostrar, e aí começa a fazer as coisas de afogadilho”. Hélder se manterá no rádio até o início da campanha eleitoral. “Se isso vai me dar retorno eleitoral, só no futuro vamos ver. Espero que dê”, afirma Hélder.

Além da uma hora diária no ar, o programa promove o evento “Programa do Hélder no meu bairro”, que oferece serviços de exames médicos simples, dentistas, atendimento jurídico e emissão de documentos, como carteira de trabalho, certidão de nascimento, e até cortes de cabelo. Como vice-presidente do PMDB, Hélder ainda visitou 18 cidades com o evento “O que o Pará quer”. Nessas visitas, Hélder ouve prefeitos, faz um discurso e abre espaço para perguntas. Os prefeitos costumam alugar ônibus para levar cidadãos e formar uma claque. Em novembro, o Ministério Público Federal do Pará apresentou uma ação em que pede que o PMDB paraense perca 47 minutos de tempo de propaganda partidária. De acordo com a representação, o partido fez campanha antecipada a favor de Hélder em seu programa de novembro.

Até o final de 2012, os Barbalhos faziam parte do governo do tucano Simão Jatene. No segundo semestre de 2013, Jader acertou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o acordo pelo qual Hélder será o candidato do PMDB ao governo, com apoio do PT. Em troca, o candidato da chapa ao Senado será Paulo Rocha, um ex-deputado que se livrou no julgamento do mensalão. História semelhante aconteceu em 2010, com os partidos invertidos. Os Barbalhos saíram do mal avaliado governo da petista Ana Júlia Carepa para apoiar Simão Jatene.

Hélder é a terceira geração da família na política. Seu avô, Laércio Barbalho, foi cassado pela ditadura militar em 1964, após uma curta carreira como deputado estadual pelo Partido Social Democrático (PSD). O revés provocou a primeira transição familiar na política. Três anos depois, seu filho Jader Barbalho, então com 23 anos, elegeu-se vereador em Belém pelo MDB. Jader decolou. Foi deputado federal, governador do Pará em dois mandatos, duas vezes ministro no governo do presidente José Sarney e senador. Hélder começou a carreira em 2000, como vereador, quando o pai viveu seu apogeu como presidente do Senado. No ano seguinte, no entanto, Jader despencou: renunciou ao mandato de senador, acusado de desvios no Banpará. No ano seguinte, Jader foi preso pela Polícia Federal, acusado de fraudar empréstimos concedidos pela Sudam, responsável por financiar projetos capazes de desenvolver a Amazônia. Jader voltou em 2006 como deputado federal e hoje é um silencioso senador, que só pronunciou um discurso em dois anos.

Hélder executou uma trajetória de saltos rápidos. Para evitar a disputa mais difícil em Belém, optou por ser candidato em Ananindeua, na região metropolitana – a segunda maior cidade do Pará. Venceu três eleições entre 2000 e 2004 – para vereador, deputado estadual e prefeito (por dois mandatos). Não esqueceu a família quando foi prefeito. Em 2012, inaugurou o Conjunto Jader Barbalho, na periferia de Ananindeua. A placa de inauguração foi descerrada pelo próprio homenageado e, para não deixar dúvidas, tinha uma foto de Jader. Sua administração começou – e abandonou – a construção de um estádio de futebol na cidade. No ano passado, o Ministério Público do Pará o denunciou à Justiça por ter deixado de passar R$ 1,8 milhão ao fundo de pensão dos funcionários da prefeitura. Hélder ampliou o número de funcionários contratados sem concurso, parte deles por indicação política. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 2009 e 2012 o número de comissionados cresceu 38% – subiu de 2.939 para 4.056.

Aos 32 anos, com um mandato incompleto de deputado estadual e uma carreira bem mais curta que a de Hélder, Rodrigo Jucá (PMDB) será candidato a vice-governador de Roraima. A chapa que tem o apoio de 18 partidos. Advogado formado em Brasília, criado entre Boa Vista e Brasília, Rodrigo não é um fenômeno da política. A aliança tão ampla é produto da articulação de seu pai, o senador Romero Jucá (PMDB). Ex-líder dos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma no Senado, Jucá é um desses fenômenos capazes de produzir arranjos políticos aparentemente impossíveis no Congresso Nacional. Em Roraima, seu domínio desde a década de 1980, o trabalho é bem mais simples.
 
EM FAMÍLIA
Rodrigo Jucá (na foto maior) e seu pai, Romero (no detalhe). Rodrigo é secretário de Educação da prefeita Tereza Surita, ex-mulher de Romero Jucá

No início das conversas, o próprio Romero Jucá era o preferido como candidato. Mas ele prefere ficar no Senado. Sugeriu, então, o filho. Rodrigo mora em Roraima há mais de dez anos. Foi superintendente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa) por quatro anos. “Ele acompanhou minha vida”, diz Romero Jucá, o pai. “Pedi a ele que, em vez de entrar mais cedo, fosse se formar para ter lastro, para exercer mandato depois.” Em 2010, Rodrigo foi eleito deputado estadual, o segundo mais bem votado do Estado. “Entrei na política com 28 anos, não precipitei”, diz Rodrigo. “Quando senti que não seria artificial, fui candidato.” Rodrigo foi deputado durante dois anos. Mas a Assembleia Legislativa roraimense tem problemas. Alguns deputados que lá exercem seu mandato foram alvo da Polícia Federal na Operação Gafanhoto, em 2004 – que apurou um desvio de mais de R$ 200 milhões pela contratação de funcionários fantasmas em Roraima. No ano passado, Rodrigo pediu licença do mandato para assumir o cargo de secretário de Educação da prefeitura de Boa Vista, a capital do Estado. A prefeita é Tereza Surita, ex-mulher de Romero Jucá.

Nos registros, apesar da pouca idade, Rodrigo é um empresário de sucesso, sócio de seis empresas e com um patrimônio de R$ 3,6 milhões. Na verdade, nada é dele. Os bens foram repassados para seu nome pelo pai. Em sua declaração de bens, apresentada em 2010, Romero Jucá ficou apenas com R$ 600 mil. Como o colega Jader Barbalho, Jucá acumulou um patrimônio considerável em sua vida política. Tem várias empresas, entre elas rádios e retransmissoras de televisão em seu Estado. Parte dessas empresas, como a Buritis Comunicações, que administra rádios e TVs, está em nome de Rodrigo. Como Hélder, Rodrigo tem tudo isso a seu favor para atuar na política. “Seria hipocrisia minha dizer que não ajuda (o fato de ser filho de Jucá). Muitos só usufruem a condição familiar; outros são comprometidos com a política. Depende como você conduz sua carreira”, diz Rodrigo. “Acho que minha geração tem a obrigação de trabalhar pela modernização da política.”

No ano passado, Romero Jucá lançou o movimento Roraima Forte, uma maneira de arregimentar apoio à aliança. Apesar de apoiar o governo Dilma, em seu Estado o aliado preferencial do PMDB de Jucá é o PSDB do governador José de Anchieta Júnior. Incansável, Jucá participou de eventos do Roraima Forte pelo Estado. Com Rodrigo, foi a festas folclóricas em Iracema, São Luís e Rorainópolis. A campanha em Roraima pode ser mais emocionante do que isso. Na última, em 2010, um colaborador da campanha de Jucá jogou um pacote com R$ 100 mil pela janela do carro quando percebeu que era seguido por um carro da Polícia Federal. Outro, em Mucajaí, foi preso com R$ 80 mil em espécie.

Em início de carreira, Hélder Barbalho e Rodrigo Jucá podem analisar a trajetória de outros herdeiros anteriores para planejar seu futuro. Um exemplo à mão é o da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, também do PMDB, também aliada de Dilma. Como ambos, Roseana herdou do pai, o ex-presidente José Sarney, a veia política. Como Hélder e Rodrigo, a família de Roseana tem emissoras de rádio e televisão. Roseana foi deputada, senadora e hoje é governadora do Maranhão. Foi candidata a presidente da República em 2002, mas desistiu quando a Polícia Federal apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo numa de suas empresas. Roseana está em seu terceiro mandato como governadora. Há um mês, seu governo é lembrado no país todo pelas execuções macabras no presídio em condições pré-históricas de Pedrinhas. Seu governo teve R$ 22 milhões para construir três presídios – mas, por falta de projetos, perdeu direito a usufruir essa verba do governo federal.

É um caso a ser estudado com afinco.

Fonte: Revista Época - Por Leandro Loyola.

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