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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Eleições 2014: Como Dilma Rousseff vai mexer nesse time

As brigas entre petistas e aliados, as chantagens e os blefes que a presidenta precisa driblar para fazer a reforma ministerial 

Com exceção de Aloizio Mercadante, que deve ser promovido da Educação para a Casa Civil, os demais ministros desta foto deixarão o governo para concorrer às eleições em seus Estados


O desafio será acomodar todas as forças políticas que apoiam sua reeleição sem desagradar a ninguém.

Às vésperas de mais uma reforma ministerial, os partidos repetem o enredo desgastado de disputas pelo comando de ministérios e cargos públicos no alto escalão. A principal arma é a chantagem, embora isso seja muitas vezes um simples teatro. Se o governo corre o risco de ficar sem preciosos minutos de campanha pela tevê pela ruptura de um aliado, a verdade é que a maioria dos companheiros de viagem teria imensa dificuldade em encontrar um novo barco de uma hora para outra para mudar de rota.

Em nenhum lugar do mundo as alianças políticas se formam com base no puro compromisso de ideias e motivações ideológicas, mas as cenas da semana passada tiveram a capacidade de ser um pouco mais deprimentes do que as outras, até porque a presidenta Dilma Rousseff possui um governo com 39 ministérios justamente para acomodar interesses no mesmo volume e diversidade. Nessa guerra de barganhas por uma maior fatia do bolo, o PMDB levou a fama de ser o mais guloso dos convidados, mas trata-se de uma meia-verdade. Não que o partido tenha abandonado o fisiologismo que o caracteriza há décadas e o faz manter-se na órbita do poder, qualquer que seja o governo. Nesse caso, porém, vem do PT o jogo de bastidores discreto e mais ambicioso.

O partido do governo  comanda 18 cargos do primeiro escalão que juntos movimentam nada menos do que R$ 427 bilhões. Nesse conjunto, estão incluídos os gigantes da Esplanada – Saúde, Educação, Fazenda e Planejamento –  assim chamados não só pelos recursos que são capazes de mobilizar, mas pelo poder de influência direta sobre a máquina do Estado e, através dele, sobre a vida de cada eleitor e sua família. No caso de Saúde e Educação, são máquinas com um imenso número de funcionários, organizados numa estrutura capilar que coloca seus representantes pelo país inteiro numa atividade que tem valor eleitoral conhecido. Cientes de que governar é atrair aliados, mas sem perder a desconfiança jamais, o PT, com a anuência do Planalto, faz questão de manter as máquinas mais poderosas em suas próprias mãos, impedindo que sejam colocadas na mesa de negociações.

Essa posição cautelosa também se aplica a outros ministérios com caneta, verbas e cargos. A avaliação, elaborada pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, hoje o braço direito e esquerdo na reforma, é clara: deixar aliados assumirem pastas como Integração Nacional e Cidades, em que estão algumas das obras mais relevantes para a sociedade, representa o risco de  alimentar uma força que, mais tarde, pode se tornar um problema e até uma ameaça. Foi esse argumento que levou a presidenta a pensar mais demoradamente sobre a  ideia de entregar a Integração ao PMDB, cuja cúpula no Congresso já havia até anunciado o nome do senador Vital do Rêgo (PMDB/PB) como ministro. A pasta tem previsto para este ano nada menos do que R$ 6,5 bilhões para investir nos Estados e municípios. Na Paraíba, as negociações em torno das alianças, até o ano passado, se davam levando em conta a condição de ministro de Vital. Agora, é possível ocorrer uma mudança de planos. Desde de que os aliados foram informados de que deveriam desistir de sonhar com o Ministério da Saúde, a partir da constatação realista de que nenhum governo entregaria a gestão de um programa eleitoralmente essencial como o Mais Médicos para um aliado, por mais leal que ele possa ser,  a Integração entrou no radar do novato PROS, cujos caciques são os irmãos Cid e Ciro Gomes, indispensáveis para colocar uma barreira ao crescimento de Eduardo Campos no Nordeste.

Nesse caso, em vez da Integração, Vital do Rêgo pode ficar com o Ministério das Cidades, cujo peso eleitoral é ainda maior: orçamento de R$ 7 bilhões para investimentos. A questão é que  Cidades hoje pertence ao PP do deputado Aguinaldo Ribeiro, do senador Francisco Dornelles, uma voz influente no Rio de Janeiro, e da senadora Ana Amélia, que pode ter um papel essencial se ficar neutra no Rio Grande do Sul.

A verdade é que nem todas as negociações feitas em nome dos partidos têm um caráter coletivo. Uma das vozes mais influentes no PMDB, o senador Renan Calheiros está empenhado em manter as Cidades com o PP, desde que o titular venha a ser o senador Benedito de Lira, alagoano como ele. Lira é, hoje,  um obstáculo à consolidação da candidatura de Renan Filho (PMDB/AL) ao governo de Alagoas, que não decola por diversos motivos, entre eles a presença de Lira como pré-candidato. Embora o próprio Lira tenha se manifestado, publicamente, como adversário dessa barganha, dizendo que não abre mão de disputar o governo estadual, em Brasília considera-se que seria humanamente muito difícil resistir a uma pasta de R$ 23 bilhões.

Uma reunião no Palácio do Jaburu entre o vice-presidente Michel Temer e a cúpula peemedebista, na quarta-feira 15, afinou o discurso. O partido resolveu que não vai fazer ameaças periódicas de ruptura sempre que um ministério ameaçar escapar entre seus dedos, blefe que costuma perder a credibilidade quando usado com muita frequência. A ideia é mostrar firmeza nos argumentos. O ponto principal  é numérico. Com 97 parlamentares, o PMDB detém o comando de cinco ministérios, sendo que um deles, o da Previdência, acumula mais problemas do que dividendos eleitorais. Os peemedebistas afirmam ainda que pastas que a legenda recebeu para comandar vieram pela metade. O Turismo, por exemplo, não chegou acompanhado da  Embratur, que foi reservada ao PCdoB.

O PMDB também não quer aceitar na cota da legenda ministros que só assinaram a ficha de filiação por recomendação de Lula ou da própria Dilma – mas não têm maiores compromissos com a bancada parlamentar nem com a máquina partidária. Assim, o PMDB descarta incluir em seu time a indicação do empresário Josué Gomes para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio no lugar do petista Fernando Pimentel. Empresário de prestígio reconhecido, Gomes é filho do falecido ex-vice-presidente José Alencar, e recém-filiado ao PMDB por orientação do ex-presidente Lula. Para dar um caráter menos personalizado ao protesto, Michel Temer foi incumbido de explicar a Dilma que o estatuto do partido possui uma cláusula de fidelidade que não permite que alguém filiado a menos de três anos se torne ministro pela legenda. O PT também atira em Josué. Pressionada, Dilma está com a batata quente nas mãos. O desafio é acomodar todas as forças que a apoiarão na reeleição sem desagradar a ninguém.

Fonte: Izabelle Torres - Revista ISTOÉ.

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