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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Brasília entra em colapso com chuva

Temporal evidenciou o despreparo da cidade para enfrentar precipitações mais fortes. Metrô ficou uma hora parado e usuários tiveram que atravessar túnel no escuro. Mais água deve cair hoje e amanhã 

L2 Norte alagada e com engarrafamento que tomou conta das primeiras horas da terça-feria dos brasilienses
 
A chuva incansável testou os nervos dos moradores do Distrito Federal. Foram provações de toda ordem, e elas começaram nas primeiras horas do dia. Áreas completamente alagadas, engarrafamentos quilométricos, apagões e quedas de árvores e marquises complicaram a mobilidade e o dia a dia de milhares de pessoas. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre a noite de terça e o meio de quarta-feira, choveu cerca de 30% do total esperado para o mês de novembro. A expectativa é de mais temporais hoje e amanhã.
 
Passageiros do metrô passaram mal após atravessarem túnel no escuro
 
Leitor registrou carros em ciclovia para fugir do trânsito, na Asa Norte
 
Eixo Monumental também não escapou enormes poças de água
 

No Plano Piloto, as tesourinhas ora eram lagoas — como na 402 Norte —, ora cascatas — tal qual aconteceu na 107 Sul, no momento de chuva mais forte pela manhã. O tráfego teve de ser interrompido nesses locais. No início da L2 Norte, a água misturou-se à terra de uma construção próxima e uma enorme poça exigiu a passagem lenta dos carros em pleno horário de pico, por volta das 8h. O reflexo foi sentido até o fim da Asa Norte, com vias de acesso e a própria L2 congestionadas.

O Plano Piloto registrou, ainda, quedas de árvores. Na 111 Sul, uma de grande porte, plantada próximo ao Eixinho, não resistiu aos ventos fortes e tombou. Não acertou um dos prédios, por pouco. Homens da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) foram ao lugar serrar e remover os galhos. Próximo dali, a força da chuva sobre um bloco comercial da 412 provocou a queda do revestimento de parte da marquise. Os pedaços de concreto derrubaram o toldo de um salão de beleza vizinho, que teve de ser removido para evitar a interdição da Defesa Civil. Ninguém se feriu.

Em Ceilândia, nada mudou no viaduto que, há pouco mais de um mês, foi o palco da trágica morte de Giovana Moraes de Oliveira, 6 anos, dentro de um ônibus escolar. O coletivo quebrou ao tentar passar pelo local e acabou tomado pela água. Na noite de ontem, o alagamento atingiu quase dois metros de altura. No início da tarde, ainda era possível ver marcas na parede. Vizinha do viaduto da QNN 5/7, a diarista Aldenora de Sousa Lopes, 39 anos, não dorme em paz quando o tempo fecha. “Ontem (terça-feira), eu saí para ver como estava. Ninguém passava. Mesmo aqui em cima, a água vinha e voltava. A força é tanta que nem gente grande pode sair de casa.”

A tempestade também afetou o metrô. Às 8h22, um problema na linha de distribuição que sai da subestação de Samambaia Sul interrompeu a energia que alimenta o transporte subterrâneo. O apagão obrigou passageiros a evacuarem dois trens no túnel da Asa Sul, próximo à estação da 112 Sul. As pessoas precisaram percorrer a pé o túnel escuro, guiadas apenas por luzes de emergência, por cerca de 30 minutos até chegarem à estação da 108 Sul. Ali, homens do Corpo de Bombeiros e do Samu atenderam passageiros que passaram mal.

Morador do Sol Nascente, Guilherme Teixeira, 40 anos, estava no trem desde a estação de Ceilândia. Ele diz que muita gente ficou nervosa até o Centro de Controle Operacional liberar a saída de passageiros dos vagões. “Dá pânico ficar completamente no escuro. Pior é que, sem sinal de telefone lá embaixo, não conseguíamos ligar para ninguém para pedir ajuda”, explicou. O Metrô-DF reembolsou o valor do bilhete aos usuários. A situação só foi normalizada às 9h46. Entre as 19h e as 19h10 de ontem, novamente a falta de energia fez o metrô parar no Plano Piloto. 

Apagões 

A mesma pane que interrompeu o metrô afetou o fornecimento de energia em Águas Claras, onde a luz só foi restabelecida às 9h. Laura, a filha de 3 anos da advogada Bianca Botelho Pinteu Eloy, 30, já conhece a história. “Ela me diz: ‘Mamãe, está chovendo, vai apagar a luz’”, contou Bianca. Dito e feito. Elas passaram três horas sem energia. Ontem, por volta das 19h, mesmo sem chuva, a luz tinha sumido novamente. Desta vez, pelo menos, nenhum aparelho eletrônico queimou, como aconteceu em outras quedas de energia.

De acordo com a Companhia Energética de Brasília (CEB), Cruzeiro, Setor de Indústria (SIA), Setor de Oficinas Norte e Setor Militar Urbano registraram apagões. Até o início da tarde, pelo menos 2.847 chamados da prestadora de serviço estavam atrasados. Consumidores chegavam a esperar 145 horas até o problema ser solucionado.

A engenheira Nicole Botelho, 27 anos, irmã de Bianca, mora no Arapoanga. Lá, a situação não esteve melhor. “Praticamente, todas as entrequadras encheram. Fica difícil sair de casa. Ninguém quer enfrentar um dilúvio. A água também cobre buracos, quebra-molas. Podemos nos envolver em um acidente a qualquer momento”, afirmou Nicole, com medo da força da água. Alexandre Corrêa, morador da 109 Norte, ficou, pelo menos, 11 horas sem energia no apartamento — e até as 19h30 de ontem, ainda não havia voltado. “Vou levar as coisas da geladeira para a casa de parentes e subir as escadas de lanterna na mão. Mas o mais impressionante é que não há nenhuma previsão de retorno ou alguma explicação por parte da CEB. 

Voos atrasados 

As chuvas complicaram também a chegada e saída na cidade pelo ar. Dos 90 voos programados para partir do Aeroporto Juscelino Kubitschek até as 13h de ontem, 33 — ou 36,7% — registraram atrasos para decolar por conta do mau tempo. Todos eles eram domésticos. De acordo com a Inframerica, empresa que administra o aeroporto, o terminal passou a ser operado por instrumentos por volta das 6h20. Às 7h14 voltou a funcionar no visual. Às 8h39 as operações voltaram a ser feitas por instrumentos, se normalizando apenas às 11h37.

Fonte: Ariadne Sakkis e Ana Pompeu- Correio Braziliense

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