Temporal
evidenciou o despreparo da cidade para enfrentar precipitações mais
fortes. Metrô ficou uma hora parado e usuários tiveram que atravessar
túnel no escuro. Mais água deve cair hoje e amanhã
L2 Norte alagada e com engarrafamento que tomou conta das primeiras horas da terça-feria dos brasilienses |
A chuva incansável testou os nervos dos moradores do Distrito Federal.
Foram provações de toda ordem, e elas começaram nas primeiras horas do
dia. Áreas completamente alagadas, engarrafamentos quilométricos,
apagões e quedas de árvores e marquises complicaram a mobilidade e o dia
a dia de milhares de pessoas. De acordo com o Instituto Nacional de
Meteorologia (Inmet), entre a noite de terça e o meio de quarta-feira,
choveu cerca de 30% do total esperado para o mês de novembro. A
expectativa é de mais temporais hoje e amanhã.
Passageiros do metrô passaram mal após atravessarem túnel no escuro |
Leitor registrou carros em ciclovia para fugir do trânsito, na Asa Norte |
Eixo Monumental também não escapou enormes poças de água |
No Plano Piloto, as tesourinhas ora eram lagoas — como na 402 Norte —, ora cascatas — tal qual aconteceu na 107 Sul, no momento de chuva mais forte pela manhã. O tráfego teve de ser interrompido nesses locais. No início da L2 Norte, a água misturou-se à terra de uma construção próxima e uma enorme poça exigiu a passagem lenta dos carros em pleno horário de pico, por volta das 8h. O reflexo foi sentido até o fim da Asa Norte, com vias de acesso e a própria L2 congestionadas.
O Plano Piloto registrou, ainda, quedas de árvores. Na 111 Sul, uma de
grande porte, plantada próximo ao Eixinho, não resistiu aos ventos
fortes e tombou. Não acertou um dos prédios, por pouco. Homens da
Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) foram ao lugar serrar e
remover os galhos. Próximo dali, a força da chuva sobre um bloco
comercial da 412 provocou a queda do revestimento de parte da marquise.
Os pedaços de concreto derrubaram o toldo de um salão de beleza vizinho,
que teve de ser removido para evitar a interdição da Defesa Civil.
Ninguém se feriu.
Em Ceilândia, nada mudou no viaduto que, há pouco mais de um mês, foi o
palco da trágica morte de Giovana Moraes de Oliveira, 6 anos, dentro de
um ônibus escolar. O coletivo quebrou ao tentar passar pelo local e
acabou tomado pela água. Na noite de ontem, o alagamento atingiu quase
dois metros de altura. No início da tarde, ainda era possível ver marcas
na parede. Vizinha do viaduto da QNN 5/7, a diarista Aldenora de Sousa
Lopes, 39 anos, não dorme em paz quando o tempo fecha. “Ontem
(terça-feira), eu saí para ver como estava. Ninguém passava. Mesmo aqui
em cima, a água vinha e voltava. A força é tanta que nem gente grande
pode sair de casa.”
A tempestade também afetou o metrô. Às 8h22, um problema na linha de
distribuição que sai da subestação de Samambaia Sul interrompeu a
energia que alimenta o transporte subterrâneo. O apagão obrigou
passageiros a evacuarem dois trens no túnel da Asa Sul, próximo à
estação da 112 Sul. As pessoas precisaram percorrer a pé o túnel escuro,
guiadas apenas por luzes de emergência, por cerca de 30 minutos até
chegarem à estação da 108 Sul. Ali, homens do Corpo de Bombeiros e do
Samu atenderam passageiros que passaram mal.
Morador do Sol Nascente, Guilherme Teixeira, 40 anos, estava no trem
desde a estação de Ceilândia. Ele diz que muita gente ficou nervosa até o
Centro de Controle Operacional liberar a saída de passageiros dos
vagões. “Dá pânico ficar completamente no escuro. Pior é que, sem sinal
de telefone lá embaixo, não conseguíamos ligar para ninguém para pedir
ajuda”, explicou. O Metrô-DF reembolsou o valor do bilhete aos usuários.
A situação só foi normalizada às 9h46. Entre as 19h e as 19h10 de
ontem, novamente a falta de energia fez o metrô parar no Plano Piloto.
Apagões
A mesma pane que interrompeu o metrô afetou o fornecimento de energia
em Águas Claras, onde a luz só foi restabelecida às 9h. Laura, a filha
de 3 anos da advogada Bianca Botelho Pinteu Eloy, 30, já conhece a
história. “Ela me diz: ‘Mamãe, está chovendo, vai apagar a luz’”, contou
Bianca. Dito e feito. Elas passaram três horas sem energia. Ontem, por
volta das 19h, mesmo sem chuva, a luz tinha sumido novamente. Desta vez,
pelo menos, nenhum aparelho eletrônico queimou, como aconteceu em
outras quedas de energia.
De acordo com a Companhia Energética de Brasília (CEB), Cruzeiro, Setor
de Indústria (SIA), Setor de Oficinas Norte e Setor Militar Urbano
registraram apagões. Até o início da tarde, pelo menos 2.847 chamados da
prestadora de serviço estavam atrasados. Consumidores chegavam a
esperar 145 horas até o problema ser solucionado.
A engenheira Nicole Botelho, 27 anos, irmã de Bianca, mora no
Arapoanga. Lá, a situação não esteve melhor. “Praticamente, todas as
entrequadras encheram. Fica difícil sair de casa. Ninguém quer enfrentar
um dilúvio. A água também cobre buracos, quebra-molas. Podemos nos
envolver em um acidente a qualquer momento”, afirmou Nicole, com medo da
força da água. Alexandre Corrêa, morador da 109 Norte, ficou, pelo
menos, 11 horas sem energia no apartamento — e até as 19h30 de ontem,
ainda não havia voltado. “Vou levar as coisas da geladeira para a casa
de parentes e subir as escadas de lanterna na mão. Mas o mais
impressionante é que não há nenhuma previsão de retorno ou alguma
explicação por parte da CEB.
Voos atrasados
As chuvas complicaram também a chegada e saída na cidade pelo ar. Dos
90 voos programados para partir do Aeroporto Juscelino Kubitschek até as
13h de ontem, 33 — ou 36,7% — registraram atrasos para decolar por
conta do mau tempo. Todos eles eram domésticos. De acordo com a
Inframerica, empresa que administra o aeroporto, o terminal passou a ser
operado por instrumentos por volta das 6h20. Às 7h14 voltou a funcionar
no visual. Às 8h39 as operações voltaram a ser feitas por instrumentos,
se normalizando apenas às 11h37.
Fonte: Ariadne Sakkis e Ana Pompeu- Correio Braziliense
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