De quatro em quatro anos, exatamente um ano antes das eleições, um
seleto grupo de brasilienses vira alvo de todas as cobiças. Por dois ou
três meses, são escutados em reuniões de alto escalão e recebidos em
gabinetes espessamente acarpetados. Até a data fatídica do encerramento
das filiações partidárias, os assim chamados “pequenos” candidatos (o
valor em votos do adjetivo “pequeno” podendo mudar dependendo das
agremiações) são cortejados, as executivas partidárias sabendo de
experiências passadas a importância da “guarnição” das famosas
nominatas.
Dos 17 partidos que elegeram pelo menos um Distrital em 2010, 12 só
conseguiram o feito graças a votação dos não-eleitos. Ou seja, a escolha
cuidadosa da nominata permitiu a eleição do mais votado dos candidatos.
Já os 8 partidos que concorreram e não elegeram ao menos um
representante precisarão rever suas estratégias, que seja na formação da
nominata, ou na celebração de coligação.
A tabela a seguir indica o percentagem de votos trazidos pelos
“não-eleitos” em cada partido na eleição para Distrital em 2010. Sem
levar em conta as coligações, aparecem com maior percentual os partidos
onde o candidato melhor colocado teve votação mais modesta em relação
aos eleitos de outros partidos, como Celina Leão no PMN (7.771 votos), o
Professor Israel Batista no PDT (11.349 votos) e Wellington Luiz no PSC
(10.333 votos). O percentual de 86,43 %, por exemplo, no PMN, indica
que 86,43 % dos votos do partido vieram dos não-eleitos.
Já na outra ponta da tabela, aparecem partidos onde o total de votos,
relativamente modesto, foi conseguido em grande parte pelo candidato
eleito, por sinal, graças as coligações, já que tanto o PRB quanto o
PRTB ficaram longe de obter o Quociente Eleitoral. O número 22,78 % para
o PRB, por exemplo, indica que 78,22 % dos votos foram conseguidos por
somente por Evandro Garla. Ponto em comum a estes partidos também o
pequeno número de candidatos na nominata (12 no PRB, 20 no PRTB),
tornando obrigatória a formação de coligação para obter êxito.
| Partido | Eleitos | % não eleitos |
| PMN | 1 | 86,43 |
| PDT | 1 | 85,23 |
| PSC | 1 | 83,77 |
| PTdoB | 1 | 82,61 |
| PR | 1 | 81,08 |
| PSL | 1 | 80,20 |
| PTB | 1 | 77,57 |
| PSB | 1 | 75,40 |
| PSDB | 1 | 74,88 |
| PP | 1 | 68,57 |
| PMDB | 2 | 59,19 |
| PTC | 1 | 50,86 |
| DEM | 2 | 48,09 |
| PPS | 2 | 45,31 |
| PT | 5 | 43,54 |
| PRTB | 1 | 30,35 |
| PRB | 1 | 22,78 |
| 24 | 64,60 |
Para a eleição 2014, três caminhos parecem ter sido seguidos pelos
executivas partidárias. Sempre com papel, caneta e calculadora à mão,
quase todas procuraram formar a maior lista de possíveis candidatos,
algumas agremiações ultrapassando até a centena de nomes. O tempo (e as
inevitáveis coligações) lapidará estas listas. Poucos partidos tentaram a
solução da nominata “forte” em Distritais eleitos e candidatos de alta
votação em 2010. O PT é o exemplo desta estratégia, aglutinando Claudio
Abrantes (ex-PPS) ao grupo de cinco Deputados, sem contar vários
Administradores Regionais, passados e atuais. O partido do Governador
tinha sido, de longe o mais votado em 2010, realizando seu melhor
resultado histórico na história do DF. Pretende repetir o feito, e até
mesmo ampliá-lo, apostando em média alta. O maior risco é a briga
interna, particularmente em algumas regiões onde várias candidatos
correligionários se apresentarão como “dono” do espaço geográfico. Outro
pé da coligação do atual GDF, o PMDB parece ter sido o mesmo
raciocínio.
Os outros partidos se dividiram em duas opções, às vezes pelas
contingências materiais disponíveis para oferecer aos potenciais
candidatos, às vezes por opções estratégicas relacionadas aos Deputados
preocupados em preservar suas cadeiras, e ainda às vezes na ótica da
candidatura majoritária. Afinal, são até agora 8 pré-candidatos
declarados ao Buriti ! Alguns, como o PPS ou o PSDB, concentraram seus
esforços em atrair candidatos de votação comprovada entre 10 e 5 mil
votos. Acrescentados à “prata da casa”, eles são destinados a formar um
tipo de “tropa de choque” de cerca de uma dezena de candidatos em cada
agremiação dos quais se espera uma média de 6 a 7 mil votos, garantido
com segurança uma vaga pelo QE, e uma segunda na distribuição das
sobras, a depender do desempenho dos outros candidatos da nominata.
Uma terceira categoria de partidos se concentrou em formar uma
nominata mais homogênea, com candidatos de média estimada menor, entre 3
e 5 mil votos, mas em maior quantidade. Afinal, a matemática comprova
que 10 x 6 mil ou 20 x 3 mil têm o mesmo resultado. Só que é mais fácil
obter três mil votos do que seis mil, e que também é mais fácil
“conversar” com candidato de 3 mil votos de que candidatos de 6 mil !
Alguns partidos ainda decidiram privilegiar a “solução interna”,
preferindo lançar candidatos “caseiros”, afinados com o programa do
partido, mesmo sem muita experiência eleitoral. É o caso,
tradicionalmente, do PSOL, mas também do PSD, estreante na urnas
brasiliense em 2014.
No entanto, as calculadoras são otimistas. É provável que, somando as
expectativas de cada partido com suas nominatas, Brasília precisaria de
no mínimo 2,5 milhões de eleitores e a Câmara Legislativa de 30
cadeiras ! A tabela a seguir indica a média de votos dos candidatos a
Distrital em 2010: somente quatro passaram de 2 mil votos !
| Partido | Eleitos | Candidatos | Média |
| PT | 5 | 38 | 5.694 |
| DEM | 2 | 30 | 3.428 |
| PPS | 2 | 20 | 2.766 |
| PSDB | 1 | 38 | 2.212 |
| PMDB | 2 | 45 | 1.924 |
| PSB | 1 | 30 | 1.881 |
| PRP | 0 | 25 | 1.779 |
| PTB | 1 | 44 | 1.727 |
| PRB | 1 | 12 | 1.712 |
| PTdoB | 1 | 42 | 1.708 |
| PDT | 1 | 45 | 1.707 |
| PSL | 1 | 40 | 1.674 |
| PMN | 1 | 35 | 1.636 |
| PRTB | 1 | 20 | 1.579 |
| PTN | 0 | 11 | 1.510 |
| PR | 1 | 48 | 1.462 |
| PSC | 1 | 45 | 1.415 |
| PHS | 0 | 43 | 1.251 |
| PV | 0 | 43 | 1.231 |
| PSOL | 0 | 21 | 1.211 |
| PP | 1 | 32 | 942 |
| PTC | 1 | 31 | 924 |
| PCdoB | 0 | 32 | 843 |
| PSTU | 0 | 2 | 483 |
| PSDC | 0 | 21 | 400 |
24
|
793
|
1.798
|
Não surpreende que o PT e o DEM tenham as melhores médias, já que
foram os dois partidos mais votados na eleição 2010. Não surpreende
também que os partidos que obtiveram as maiores bancadas estejam nas
mais fortes médias. Na parte de baixo, PP e PTC foram claramente
“salvos” pela coligação, respectivamente com PMN e PRP. O partido de
Adalberto e Claudio Monteiro, por sinal, aparece com o mais claramente
prejudicado eleitoralmente nas coligações 2010, já que obteve uma bela
média que se revelou infrutífera.
A força dos “pequenos” candidatos aparece mais claramente na última
tabela, a seguir, que indica a média de votos das nominatas excluídas as
votações, dos eleitos, ou seja retirados os 423.061 votos obtidos pelo
conjunto dos 24 atuais Distritais
| Partido | Eleitos | Candidatos | Média dos não eleitos |
| PT | 5 | 33 | 2.855 |
| PRP | 0 | 25 | 1.779 |
| DEM | 2 | 28 | 1.766 |
| PSDB | 1 | 37 | 1.701 |
| PTN | 0 | 11 | 1.510 |
| PDT | 1 | 44 | 1.488 |
| PSB | 1 | 29 | 1.467 |
| PMN | 1 | 34 | 1.456 |
| PTdoB | 1 | 41 | 1.445 |
| PPS | 2 | 18 | 1.393 |
| PSL | 1 | 39 | 1.377 |
| PTB | 1 | 43 | 1.371 |
| PHS | 0 | 43 | 1.251 |
| PV | 0 | 43 | 1.231 |
| PSC | 1 | 44 | 1.212 |
| PSOL | 0 | 21 | 1.211 |
| PR | 1 | 47 | 1.211 |
| PMDB | 2 | 43 | 1.192 |
| PCdoB | 0 | 32 | 843 |
| PP | 1 | 31 | 667 |
| PRTB | 1 | 19 | 504 |
| PTC | 1 | 30 | 485 |
| PSTU | 0 | 2 | 483 |
| PRB | 1 | 11 | 426 |
| PSDC | 0 | 21 | 400 |
| 24 | 769 | 1.304 |
Comprova-se que o PRP podia esperar um melhor resultado, sua média
tendo sido “rebaixada” com a pífia performance dos candidatos coligados
do PTC (exceto, é claro, a votação do eleito Agaciel Maia). O PTN de
Rodrigo Delmasso também obteve uma média maior que seu coligado PSL (que
elegeu o Dr Michel), mas o pequeno número de candidatos apresentado sob
a bandeira 19 faz aumentar a média justamente com a votação do
candidato oriundo da Sara Nossa Terra. Mesmo sem contabilizar as
votações de seus 5 eleitos, o PT, no entanto, continua com uma média
consideravelmente mais elevada que os outros partidos, comprovando a
força de sua nominata, embalada no discurso de oposição. A situação em
2014 será inversa.
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