Ação serviu para desmoralizar candidato rival do PTB no segundo turno das eleições municipais de 2012
O prefeito de Santo André, Carlos Grana. Campanha de petista é acusada de promover telemarketing fajuto |
"Estava em casa e aí tocou o telefone. Acho que eram 2h30. Pensei:
pronto, é minha mãe passando mal, né? Mas não. Fiquei com tanta raiva
com a ligação do Dr. Aidan que acabei mudando meu voto. Votei no Grana."
Eram 2h30 do dia 28 de outubro de 2012, dia do segundo turno das
eleições municipais de Santo André, na Grande São Paulo, quando a dona
de casa Lucinete Imaculada dos Santos, de 51 anos, tomou essa decisão.
Para Dr. Aidan Ravin (PTB), candidato à reeleição derrotado pelo
candidato do PT, Carlos Grana, pelo menos outros 30.000 eleitores
tomaram a mesma decisão ao receber a ligação inusitada de madrugada. O
petista venceu as eleições no segundo turno com 53,92% dos votos, contra
46,08% do então prefeito - a diferença correspondente a pouco mais de
29.000 votos.
"Ligar aquela hora para falar de eleição? Foi uma falta de respeito. Eu
acabei mudando realmente meu voto", disse a assistente administrativa
Edna Ramalho, de 46 anos. "Ouvi muita gente revoltada que disse que
deixou de votar no Dr. Aidan de raiva", afirmou o aposentado da
prefeitura Antonio Claudio Cavini. Ele também confirmou ter recebido a
ligação, mas que, apesar dela, não deixou de votar no petebista.
A legislação eleitoral veda qualquer tipo de propaganda no dia do pleito.
Ravin afirma que estranhou o número de reclamações de pessoas nas filas
de votação que diziam ter sido acordadas por uma ligação feita pela sua
campanha durante a madrugada daquele dia. "Nós fomos pegos de surpresa.
Eu não mandei ligar para ninguém", disse o petebista. "Se não foi a
gente que ligou, quem ligou?".
Para descobrir, Ravin mobilizou sua equipe jurídica para fazer um
rastreamento dos números de onde partiram as ligações e disse ter
descoberto que vinham da Seven Vox Tecnologia e Consultoria. A empresa
aparece na prestação de contas do comitê financeiro do PT de Santo André
à Justiça Eleitoral. Segundo a relação de despesas, o PT pagou 116 500
reais para a Seven Vox em publicidade via telemarketing.
Uma semana depois das eleições, a campanha de Ravin abriu uma ação na
Justiça Eleitoral acusando seu adversário de uso indevido dos meios de
comunicação social. Numa outra frente, ele também pediu abertura de
inquérito policial para agilizar o andamento da investigação.
Investigações - Nos autos, o petebista afirma que as gravações foram
disparadas pela equipe de Grana e que foram editadas partir de uma
declaração que Ravin teria dado a uma rádio local. Segundo a acusação,
estima-se que a campanha petista teria feito 60.000 ligações na
madrugada do dia 28 de outubro. A suposta iniciativa do PT é
classificada como "abusiva" no parecer do Ministério Público Eleitoral.
"A finalidade desta ação é justamente investigar para se apurar a
autoria e a responsabilidade pelo ato abusivo", traz o parecer do
Ministério Público assinado pelo promotor de Justiça Fábio Henrique
Franchi. A pedido do Ministério Público Eleitoral de Santo André, foi
aberta investigação sobre o caso no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de
São Paulo.
Procurado, Grana não se pronunciou. O secretário de finanças do PT de
Santo André, então tesoureiro da campanha do petista do ano passado,
Carlos Donizete Soares, o Carlão, negou que o partido tenha usado suas
estruturas para prejudicar o adversário. "Isso é tudo barulho da
política. Nós não fizemos isso, com certeza. A eleição estava ganha. Não
precisávamos daquilo", afirmou. "Nós não seríamos loucos de fazer um
negócio desses".
Carlão disse ainda que o PT não teve acesso aos autos. O processo está
tramitando na primeira instância e aguarda nova audiência para análise
ainda sem data prevista do Tribunal da 156ª Zona Eleitoral de Santo
André.
Fonte: Veja.com / Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário