Enquanto o povo estava nas ruas cobrando gestão governamental
competente e sem corrupção, Luiz Inácio Lula da Silva escondeu-se como
se não tivesse nada a ver com o assunto. Bastou as manifestações
populares refluírem - ao que tudo indica, momentaneamente - para ele
voltar. E voltou para mostrar que continua exatamente o mesmo, que não
aprendeu nada com o retumbante "chega!" que a voz das ruas bradou para
os políticos que se julgam muito espertos e capazes de manipular
eternamente os anseios populares.
Em dois eventos públicos em dias sucessivos, em Brasília e em Salvador,
o ex-presidente lançou mão de todos os recursos de seu arsenal do mais
demagógico populismo, na tentativa de reverter a queda livre do
prestígio do governo petista em todos os segmentos da população
brasileira e em todas as regiões do País. Na verdade, mais do que
preservar a imagem do governo e de sua pupila Dilma Rousseff, Lula
demonstra estar preocupado em salvar o ameaçado projeto de poder do
partido que comanda. E para tanto usou, como de hábito, seu melhor
argumento de defesa: o ataque.

O script não foi diferente no dia seguinte, na capital baiana, durante
evento comemorativo dos 10 anos de poder do PT. Depois de um encontro
reservado de três horas que certamente não foi dedicado a comemorações -
tempo relativamente curto, aliás, levando em conta o tamanho do
prejuízo a recuperar -, Lula e Dilma subiram ao palanque montado pelo
governador Jaques Wagner para, como de hábito, lançar sobre os ombros
das "elites" a responsabilidade de todos os males que afligem o País e
gabar feitos sem precedentes na história deste país.

Por sua vez, Lula deixou bem clara a relação paternalista que mantém
com sua sucessora, ao dar-lhe conselhos em público, com uma frase cheia
de significados nada misteriosos: "Você, Dilminha, pode começar a fazer
oposição a você mesma. Porque a gente pode fazer muito mais".
Manifestação típica da tática do morde-assopra que aparentemente o
patrono do PT tem aplicado para "enquadrar" aquela cujas lambanças
ameaçam comprometer seriamente a ambição da companheirada de se
perpetuar no poder.


Ressurge, assim, no proscênio político, para mostrar que o velho e ardiloso Lula continua sendo o que sempre foi.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo
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