O
líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), identifica “o
dedo do governo e de gente do PT” nos movimentos de resistência que
surgiram dentro do partido contra uma eventual candidatura à Presidência
do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Em entrevista à Folha, por telefone, Albuquerque afirmou que as
pressões não partem da presidente Dilma Rousseff, mas que ela deveria
olhar seu governo “para ver se todos os ministérios estão respeitando a
independência dos partidos”.
O líder do partido disse ainda que a candidatura de Campos está sendo
construída por “90%” da sigla e que o PSB “não é um partido que nasceu e
se criou para virar um PMDB, que nunca vai ter candidato a presidente”.
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha – Como o sr. vê esses movimentos contra e a favor da candidatura própria dentro do PSB?
Beto Albuquerque – Esses movimentos dentro do PSB têm o dedo do
governo e de gente do PT. Infelizmente é uma pressão velada que tem
interferido na reflexão de muitos quadros nossos.
Folha – Que tipo de pressão?
Pressão sobre projetos, financiamentos, uma série de coisas. O que eu
acho um comportamento totalmente indevido, antidemocrático, nada
republicano.
Folha – E como o sr. sabe disso?
Eu sei porque tem muita coisa não acontecendo. Acho que o governo da
presidenta Dilma, que tem um histórico democrático, lutou pela
democracia, tinha que dar uma olhada firme para dentro do seu governo
para ver se todos os seus ministérios estão respeitando a independência
dos partidos.
Folha – O sr acha que a pressão não parte da presidente?
Não dela. Mas ela, como comanda o país, tem que começar a se dar conta
que esse não é o jogo democrático. Isso acaba interferindo no livre
debate que os partidos têm que fazer e que vão fazer.
Folha – E até que ponto isso pode atrapalhar o PSB na escolha de seu candidato?
Não acho que vai atrapalhar, mas é um constrangimento desnecessário
sobre algumas lideranças nossas. A decisão do PSB não é de capa preta, é
de base e será tomada no momento certo. Tentam enfraquecer, mas o
efeito é o contrário. Fortalece as nossas convicções.
Folha – Por que os governadores não denunciam a pressão?
Não seria o papel deles denunciar. Mas é natural que quem administra
hoje, nessa relação, nesse pacto federativo que vivemos hoje, o governo
federal sempre é visto, é tido e se impõe como mandachuva das decisões. A
grande parte dos recursos de investimentos em infraestrutura e
saneamento está centralizada na União. Então acaba que o prefeito e o
governador muitas vezes têm que estar com o pires na mão ou até se
sujeitando a ser enquadrado. Isso é um atraso na política brasileira.
Verbas e cargos não podem ser ideologia que movem a política no Brasil.
Folha – O sr. acha que a candidatura de Eduardo Campos é irreversível?
Eu acho que a candidatura do Eduardo está sendo consolidada, construída
com a grande maioria, com 90% do partido que quer ter um candidato a
presidente. O PSB não é um partido que nasceu e se criou para virar um
PMDB, que nunca vai ter candidato a presidente.
Folha – Qual o prazo que o sr. considera razoável para que o PSB deixe o governo?
Até o fim deste ano poderemos ter uma decisão definitiva. Não é um
ministério ou outro que vai cabrestear um partido com a história que tem
o PSB. Tem que sair na hora que tomar a decisão. Não tem que apressar.
Nem o PT é capaz de dizer hoje se é a Dilma ou o Lula [seu candidato]
nem vai se reunir hoje para discutir isso.
Folha – Por que não o PSB em 2018?
Não existe 2018 sem 2014.
Fonte: Folha de São Paulo
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