O presidente do Supremo afirma que o Congresso é ineficiente e incapaz de deliberar por ser dominado pelo Executivo
Joaquim Barbosa fala no Iesb: Nós temos partidos de mentirinha |
Depois de silenciar durante o princípio da crise desencadeada no fim de
abril entre os poderes Legislativo e Judiciário, o presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, fez ontem duras
críticas ao Congresso Nacional. O ministro afirmou que “a ineficiência e
a incapacidade de deliberar” do parlamento brasileiro estão
relacionadas à fragilidade dos partidos — segundo ele, “de mentirinha” —
e ao domínio exercido pelo Executivo sobre o Legislativo.
“Nós temos partidos de mentirinha. Não nos identificamos com os partidos que nos representam no Congresso, a não ser em casos excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e programática em nenhum dos partidos. Querem o poder pelo poder”, disse Barbosa, na manhã de ontem, durante a 5ª Semana Jurídica do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), da qual participou como palestrante. Ele é professor de direito da instituição.
As declarações foram feitas em resposta a uma pergunta do público sobre
a interferência do STF em assuntos legislativos. Horas depois, a
assessoria de imprensa do Supremo divulgou nota na qual informa que
Barbosa estava no evento “na condição de acadêmico e professor” e que
“não houve a intenção de criticar ou emitir juízo de valor a respeito da
atuação do Legislativo e de seus atuais integrantes”.
Durante a palestra, Joaquim Barbosa afirmou que o Congresso é ineficiente por
ser “inteiramente dominado” pelo Executivo. “Poder que não é exercido é
poder que é tomado, exercido por outrem e, em grande parte no Brasil,
esse poder é exercido pelo Executivo”, frisou. “O problema crucial
brasileiro, a debilidade mais grave do Congresso, é que ele é
inteiramente dominado pelo Poder Executivo. Há um domínio institucional
sobre o Congresso Nacional. Temos um órgão de representação que não
exerce em sua plenitude o poder que a Constituição lhe atribui, que é o
poder de legislar”, acrescentou o presidente do STF.
O ministro criticou o sistema político brasileiro e defendeu a
implantação do voto distrital, no qual o país seria dividido em
distritos em que cada um elegeria seu representante para a Câmara. De
acordo com Barbosa, o Congresso de hoje é representado por interesses
setorizados. “Passados dois anos da eleição, ninguém sabe mais em quem
votou. Isso vem do sistema proporcional.”
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB/DF), também presente à abertura da
Semana Jurídica do Iesb, manifestou-se contra o voto distrital. Ele
considera que esse modelo levaria a uma sub-representação das minorias.
Sem mencionar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33 — que
submete decisões do STF à aprovação do Congresso —, o ministro Barbosa
observou que o eventual controle do Judiciário pelo Legislativo
representaria “o fim da Carta de 1988”. Para ele, “se levadas adiante
essas tentativas, nós teríamos destruído a Constituição brasileira, todo
mecanismo de controle constitucional que o Supremo exerce sobre as
leis”.
Durante a palestra, na qual também abordou o tema presidencialismo e a
separação dos poderes, Barbosa alertou que a invasão de um poder sobre a
esfera de outro tem potencial para levar à “destruição e à supressão
desse poder e de suas prerrogativas”.
O ministro defendeu o fim do voto obrigatório no país e criticou a
demora do Congresso em apreciar a reforma política, que, segundo ele,
infelizmente vem sendo “postergada”. No fim da tarde, Barbosa recebeu,
no STF, o advogado Márcio Thomaz Bastos e o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, para tratar do processo do mensalão. Advogado
de um réu do processo, Bastos entregou um memorial ao presidente do
STF.
Delúbio interpõe recurso no STF
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, condenado a oito anos e 11 meses
no processo do mensalão, entrou com recurso no Supremo no qual pede que o
plenário da Corte se manifeste sobre o cabimento dos embargos
infringentes. Isso pode levar a um novo julgamento nos casos em que o
réu tenha recebido pelo menos quatro votos pela absolvição. Em decisão
individual, o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, havia rejeitado os
embargos apresentados pela defesa de Delúbio. O ex-deputado Pedro Henry
também apresentou pedido ao STF. Ele quer que seu recurso seja válido
para todos os réus que tiveram ao menos um voto favorável no julgamento.
Fonte: Correio Braziliense - Por Diego Abreu
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