O
caso está nas mãos da desembargadora Sandra de Santis, do Conselho
Especial do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios. Parlamentar
garante não ter responsabilidade sobre o suposto desvio de emenda
liberada por ele em 2010
A relatora do processo do deputado Raad Massouh (PPL) no Conselho
Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
(TJDFT), a desembargadora Sandra de Santis, recebeu a defesa prévia do
parlamentar, entregue na semana passada pelos advogados dele. Cabe à
magistrada decidir se acata a denúncia feita pelo Ministério Público do
DF e Territórios (MPDFT) contra o distrital e outras nove pessoas. Eles
são acusados de suposto envolvimento no desvio de parte de R$ 100 mil
originados de emenda destinada a um evento na área rural de Sobradinho,
no fim de 2010. O grupo foi denunciado por desrespeito à Lei de
Licitações, peculato (crime praticado por servidor ou pessoa com cargo
público) e lavagem de dinheiro. Raad só se torna réu se Sandra de Santis
concordar com o MP.
Não existe um prazo determinado para que a relatora dê uma resposta.
Mas a expectativa da defesa e do próprio Raad é que Sandra de Santis,
que tem acompanhado o assunto desde que o processo chegou ao Conselho
Especial em 2011, não acate a denúncia. Os advogados trabalham com a
tese de que o parlamentar não teria como se responsabilizar pela
execução dos recursos de uma emenda, ainda que ela tenha sido liberada
pelo distrital. “Não tenho como acompanhar a aplicação dos recursos.
Libero emendas para várias regiões administrativas e não é possível
saber de que maneira o administrador as executa. De qualquer maneira,
desde o início da atual legislatura, mando cópias para a Secretaria da
Fazenda e para a pasta da área para a qual o dinheiro foi destinado. É
uma maneira de me precaver”, explica Raad (leia Cinco perguntas para).
A defesa do distrital já está dentro do prazo de 30 dias para
apresentação de seus argumentos à Comissão de Defesa dos Direitos
Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa. O
relator do caso de Raad, deputado Joe Valle (PSB), notificou o colega no
último dia 8. “Não temos o que fazer agora. É só esperar a apresentação
da defesa e analisar se será preciso convocar testemunhas para serem
ouvidas”, ressaltou o relator. Depois que a defesa for entregue, passa a
contar o prazo de um mês, prorrogável por igual período, para que Joe
conclua seu relatório. Depois disso, a comissão tem cinco sessões para
decidir se o caso vai a plenário com indicativo de cassação do
parlamentar por quebra de decoro.
Investigação
Em outubro de 2010, às vésperas da eleição, a Polícia Civil recebeu
denúncia sobre irregularidades em um evento na área rural de Sobradinho,
onde estava prevista a realização de shows musicais. O dinheiro foi
liberado por meio de emenda de Raad para a Administração Regional da
cidade, que tinha à frente Carlos Augusto Barros, nome indicado pelo
deputado. Parte dos R$ 100 mil teria sido desviada para beneficiar
aliados do parlamentar. O inquérito foi instaurado e seguiu adiante,
incluindo autorização judicial para quebra de sigilos fiscal, bancário e
telefônico dos supostos envolvidos.
Em novembro de 2012, como desmembramento da apuração que já vinha sendo
feita, a Operação Mangona apreendeu documentos e materiais em endereços
do deputado (que então exercia a função de secretário da Micro e
Pequena Empresa do DF) e de pessoas ligadas a ele. A ação foi executada
pela Polícia Civil e pelo MP.
Em março deste ano, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o
distrital e outras nove pessoas. O processo contra Raad, que tem foro
privilegiado, corre sob segredo. Quanto aos demais supostos envolvidos,
já foi feito o pedido de encaminhamento das investigações para a Justiça
comum. Enquanto isso, paralelamente, a Câmara também investiga o caso.
Há um processo instaurado por quebra de decoro, que pode levar à
cassação do parlamentar.
Cinco perguntas para Raad Massouh, deputado distrital
Cinco perguntas para Raad Massouh, deputado distrital
Raad Massouh, deputado distrital pelo PPL: Não podem ter dois pesos e duas medidas |
O que o senhor pensa sobre essa situação na Justiça?
Estou tranquilo. A justiça será feita. Eu fui denunciado pelo
Ministério Público por dispensa de licitação e peculato. Sou do Poder
Legislativo e não respondo por licitação. Quem responde é o Executivo e o
seu representante, neste caso, o administrador regional. Então, se não
respondo, cai também a questão do peculato, já que não participei desse
suposto desvio. Acredito que a desembargadora deve arquivar o meu caso.
Mas e se não arquivar? Afinal, a investigação vem desde 2010…
Se a desembargadora acatar e eu me tornar réu, não quer dizer que eu
seja culpado. Mas esse processo vem há dois anos. Já fizeram buscas e
apreensões na minha casa, na minha empresa, no meu gabinete, na
residência de funcionários, já fizeram escutas e não acharam nada. Se
tivesse alguma coisa concreta contra mim, já teria vindo à tona.
E quanto à questão da Comissão de Ética da Câmara Legislativa?
O senhor teme ser cassado?
A palavra cassação não existe para mim. Aliás, penso que o processo até
avançou mais do que deveria, pois temos casos de outros parlamentares
com ações muito mais adiantadas na Justiça e que a Câmara não quis
investigar. Só quero tratamento igual ao dos demais. Não podem ter dois
pesos e duas medidas. Não sei o motivo para ser perseguido assim.
Perseguido onde e por quem?
Não se trata somente de uma investigação interna da Câmara. Tem também a
ação que correu na Polícia Civil e no Ministério Público e que chegou à
Justiça…
Ocorreram alguns problemas na investigação da Polícia Civil, tanto que
certos pontos até foram parar na Corregedoria. Quanto à questão
política, há uma tentativa de me prejudicar. No entanto, não estou me
deixando abater e continuo trabalhando. Posso não ser amigo de todos os
deputados, mas também não tenho inimizades. Pode ser que alguém não
goste de mim, mas é injusto querer cassar um deputado legitimamente
eleito por quase 18 mil pessoas só por isso.
O senhor estaria sendo injustiçado?
Penso que sim. Essa ação na Comissão de Ética não tem como base a
investigação que chegou à Justiça? Então por que não esperar uma
resposta do Judiciário antes de andar com meu processo? Imagina se me
cassam na Câmara Legislativa e lá na frente a Justiça me inocenta? E aí
como que fica? Vão devolver o meu mandato? Não, né? Então eu acho que
eles (os deputados da comissão) estão colocando os burros à frente da
carroça.
Fonte: Correio Braziliense - Por Almiro Marcos
Nenhum comentário:
Postar um comentário