ACESSOS

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ameaça a araponga: Polícia apura ameaça a araponga envolvido no Caso Cachoeira


Ex-agente secreto da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, afirmou ter sido perseguido por dois homens na última semana, além de ter relatado tiros contra seu carro

A Polícia Civil do Distrito Federal iniciou uma investigação preliminar para averiguar uma suspeita de ameaça que o ex-agente secreto da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, afirmou ter sofrido na semana passada.

O araponga, preso no ano passado durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, sob acusação de envolvimento com o grupo de Carlos Cachoeira, procurou no último sábado o plantão da 2ª Delegacia de Polícia de Brasília. Ele contou ter sido perseguido por dois homens e relatou ainda o disparo de um tiro na direção de seu carro.

Procurada pela Folha, a assessoria de comunicação da Polícia Civil (PC) informou que a Seção de Investigação Criminal da 2ª Delegacia "está no momento tentando coletar o máximo de evidências e provas para verificar o que aconteceu". A depender do resultado da apuração preliminar, pode ser aberto um inquérito policial sobre o caso.

Segundo o boletim de ocorrência, registrado no último sábado,18, Dadá disse que tem sido perseguido desde quarta-feira, 15, por dois homens desconhecidos.

Na ocasião, os supostos perseguidores foram conversar com o porteiro do prédio em que Dadá reside, na Asa Norte de Brasília, tiraram fotografias do carro do ex-agente e indagaram sobre seus horários de chegada e saída. O ex-agente foi informado da visita por funcionários do prédio.

Depois, a mesma dupla esteve numa padaria na região frequentada pelo ex-agente. Os homens apresentaram uma fotografia de Dadá e indagaram se ele frequentava o local. Aguardaram a chegada de Dadá numa mesa, mas minutos depois foram embora antes que ele chegasse.

Dadá afirmou ainda que, três dias após o episódio da padaria, ele estava guiando seu carro na Via L2, em Brasília, quando um homem numa motocicleta e outro em um carro passaram a persegui-lo. Após tentar se afastar, ouviu um estampido que ele afirmou ter sido um tiro. O suposto disparo não atingiu o veículo em que Dadá estava. 

ENTREVISTA 

Em fevereiro último, em entrevista exclusiva à Folha, Dadá rompeu o silêncio no qual se mantinha desde que foi preso, em 2012. Na ocasião, afirmou que partiu do então chefe de gabinete de Agnelo Queiroz (PT-DF), Cláudio Monteiro, atual secretário extraordinário para a Copa do Mundo no governo do Distrito Federal, a ordem para quebra de sigilo e-mails de blogueiros críticos de Agnelo, de um ex-deputado e de um secretário do governo. Monteiro, que é ex-delegado de Polícia Civil, negou as acusações em entrevista à reportagem na época.

Monteiro também apresentou uma carta em que Dadá o elogiava como "exemplo de homem público".

Na mesma entrevista à Folha, Dadá também apontou que o policial civil aposentado Marcello de Oliveira Lopes, o Marcelão, ligado a uma agência de publicidade que mantinha contratos com o governo do DF, providenciou dinheiro para pagar pela quebra dos e-mails. Por meio de seu advogado, Jorge Jaeger Amarante, o policial e a agência na época também repudiaram as afirmações.

Amarante negou qualquer ligação de seus clientes com quebra de e-mails e apresentou outra carta de Dadá. Nela, Dadá pede desculpas por "ter usado seu nome em vão em várias vezes ao telefone".

Sobre as cartas, Dadá afirmou que se referia às suspeitas de pagamento de propina levantadas contra as duas pessoas, e não da interceptação de e-mails. 

Operação Monte Carlo 

A Operação Monte Carlo, que revelou um esquema de exploração de jogos ilegais e corrupção em Goiás e no Distrito Federal, completou um ano. Deflagrada pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF) em 29 de fevereiro de 2012, ela trouxe à tona gravações telefônicas que derrubaram um senador da República, abasteceram duas CPIs, uma no Congresso e outra na Assembleia Legislativa de Goiás, causaram mudanças nos comandos da Segurança Pública goiana e levaram à condenação de oito pessoas. No entanto, todos os envolvidos recorreram da sentença e aguardam em liberdade.

Autores da denúncia que resultou na condenação do que chamam de "cúpula da quadrilha", os procuradores da República Daniel de Resende Salgado e Lea Batista de Oliveira falaram à imprensa. Eles fizeram um balanço positivo do trabalho que, segundo a dupla, desarticulou o esquema comandado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.  No entanto, admitem que o contraventor dificilmente voltará à prisão e lamentam dois pontos: não terem atingido a parte financeira do grupo e a tolerância de setores da Justiça com o crime de colarinho-branco.

Para o procurador Daniel Salgado, a sociedade não percebe esse tipo de crime como grave. "O MPF conseguiu levantar o véu de uma realidade extremamente complexa. Alguns setores da Justiça criminal ainda têm uma percepção leniente do colarinho-branco. Nosso trabalho é tentar convencer esses setores e a sociedade que esses crimes são tão graves quanto os outros", argumenta.

Os procuradores sustentam que o grupo de Cachoeira foi desmantelado, mas não totalmente desarticulado. "Nos ressentimos dos vazamentos de informação, de setores onde não esperávamos. Por causa deles, tivemos que antecipar a operação, e, por isso, não conseguimos levar a investigação até a parte financeira, que é a espinha dorsal", explicou Daniel Salgado.

Eles não descartam a possibilidade da atividade ilegal se encontrar em plena ação, mas com novas formas de atuação: "O mercado espúrio dos jogos é rentável e não temos notícias de redistribuição ou tomadas de pontos de exploração." Além do lucro, outro ponto forte que, segundo Daniel Salgado, demonstra a união do grupo é o silêncio orquestrado. "São próprias de grupos criminosos com parâmetro mafioso atitudes de proteção mútua por meio do silêncio", diz o procurador.

No início da Operação Monte Carlo, 31 pessoas foram presas, em quatro Estados e no Distrito Federal, suspeitas de ligação com o esquema de Carlinhos Cachoeira, entre elas, o próprio contraventor, que chegou a ficar encarcerado por quase noves meses.

Dos 80 denunciados, somente Cachoeira e mais sete foram condenados, por crimes de quadrilha, corrupção ativa, violação de sigilo funcional, advocacia administrativa, peculato e furto. São eles: Lenine Araújo, a 24 anos e 4 meses de prisão; José Olímpio Queiroga Neto, a 23 anos e 4 meses; Idalberto Matias, o Dadá, a 19 anos e três meses; Geovani Pereira da Silva, a 13 anos e 4 meses; Raimundo Queiroga, a 12 anos e 8 meses; Gleyb Ferreira da Cruz, a 7 anos e 8 meses; e Wladimir Garcêz, a 7 anos. Todos ganharam o direito de recorrer da sentença em liberdade.

Para o procurador, dificilmente Carlinhos Cachoeira irá para a prisão novamente, "a menos que apareça algum fato novo". Condenado a 39 anos e 8 meses de prisão, o contraventor ainda pode recorrer em três instâncias da decisão proferida pelo juiz da 11ª Vara Criminal, Alderico Rocha Santos.

Daniel Salgado demonstra esperança em uma condenação final. "Nosso trabalho foi desenvolvido em parceria com a Polícia Federal, da forma mais técnica possível. É uma investigação robusta, com provas e que serviu de alicerce para uma condenação que, nós acreditamos, será mantida em instâncias superiores", defende. Os procuradores da República adotaram como estratégia o desmembramento do inquérito da Operação Monte Carlo. A primeira denúncia resultou na condenação.

Uma segunda parte está em curso no Judiciário. As respostas à acusação, uma espécie de defesa prévia, estão sob análise do juiz Alderico Rocha Santos. Mas Daniel Salgado acredita que, nesse caso, o trâmite será mais demorado porque há envolvimento de agentes públicos.

Nos 12 meses que sucederam a Operação Monte Carlo, os procuradores receberam ameaças. Desde então, Daniel Salgado e Lea Batista adotaram medidas de segurança, que continuam até hoje. Entretanto, eles preferiram não especificar quais são essas medidas. No segundo semestre, conforme os procuradores, as ameaças continuaram. "A mais grave dizia que merecíamos um tiro na cabeça. A última foi em dezembro de 2012", pontuaram.

O empresário Carlinhos Cachoeira e o ex-senador Demóstenes Torres preferem não conceder entrevistas, por determinação de seus advogados.

Fonte: DM - Diário da Manhã

Nenhum comentário:

Postar um comentário