A liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, e todas as
liberdades asseguradas pelas democracias são, reconheço, um estorvo para
os governantes.
O jornalista tem o péssimo hábito de meter o bedelho em tudo, de querer
investigar tudo, de não aceitar como verdade absoluta o que é
proclamado como tal pelos governantes de plantão.
Onde não floresce a democracia, onde não se confia no discernimento da
cidadania, a tentativa de silenciar (ou de cooptar) a imprensa é uma
prática corrente. Aqui e no resto do mundo.
O governo militar lançou mão dos mais variados recursos para impedir a
imprensa de apurar e divulgar a realidade considerada inconveniente à
boa imagem do regime. Não obteve sucesso.
Antes, Getúlio Vargas, com o mesmo objetivo, recorrera ao famigerado
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) como força auxiliar aos
serviços de segurança. O DIP silenciava as vozes dissonantes, a polícia
política desaparecia com os dissidentes.
Notícias e comentários que não agradavam ao ditador eram considerados
ataques à Nação. Em 1940, Getúlio mandou o DIP calar o jornal O Estado
de São Paulo. Ocupou sua redação, destituiu sua direção e assumiu seu
controle.
Nos cinco anos em que ficou sob a tutela oficial, o Estadão só publicou
boas notícias. Nas quais ninguém acreditava, pois sua credibilidade
extinguiu-se.
No mundos fascista, nazista e comunista, a liberdade de imprensa foi
também suprimida. As igrejas, de modo geral, também não é apreciada. É o
universo dos dogmáticos, das verdades reveladas, que não aceitam
questionamento.
Quando chegou ao poder, em 1933, Adolf Hitler criou o Ministério para o
Esclarecimento Popular e Propaganda, entregando-o ao comando de Joseph
Goebbels. Sua missão: fazer a lavagem cerebral nos alemães,
transmitindo a mensagem nazista por todos os meios disponíveis,
inclusive a imprensa.
Na União Soviética a imprensa foi mantida sob o estrito controle do
Partido Comunista, o que assegurou por três quartos de século a
opacidade total sobre o que acontecia na federação e no âmbito do
próprio Partido. Um partido que propunha a defesa do povo, mas cuja
elite cuidou mesmo foi de seu conforto e riqueza.
Esses tópicos esparsos vieram-me à cabeça depois de ler a notícia que o
Diretório Nacional do PT, em sua última reunião, em Fortaleza,
distribuiu documento exigindo a “democratização da mídia”.
O PT está ansioso para que se proceda a uma reforma do marco
regulatório da mídia. Pretende apoiar um projeto de lei de iniciativa
popular para alcançar esse objetivo, como proposta pelo Fórum Nacional
pela Democratização da Comunicação, pela Central Única dos Trabalhadores
e outras entidades.
O jornalista Rui Falcão, hoje deputado estadual e presidente do PT, diz
que o objetivo da proposta é o alargamento da liberdade de expressão, e
que ela nada tem a ver com censura ou controle da mídia, e ainda pode
dar mais empregos aos jornalistas.
O deputado, quem sabe, qualquer dia vai sugerir que se aprove uma
reforma da Constituição acabando com o Ministério Público e, se der, com
o STF.
Falcão acha que a imprensa e setores do Ministério Público tentam
interditar a política, prática que comparou às exercidas pelos nazistas e
fascistas.
Ele acha também que não houve mensalão.
Não teria havido se não tivéssemos no Brasil uma imprensa livre e alerta.
Não teria havido se não tivéssemos no Brasil um Ministério Público
corajoso e independente e um STF que não teme cara feia ou ameaças.
Fonte: Cláudio Humberto - Por Pedro Luiz Rodrigues
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