A
peça de acusação apresentada pelo procurador-geral da República tem
mais de 40 volumes. Para os aliados do líder do PMDB e virtual candidato
à presidência do Senado, o Ministério Público age com motivações
políticas
A dois dias da eleição do Senado, crescem as pressões sobre a
candidatura de Renan Calheiros (PMDB/AL) à Presidência da Casa. O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, assegurou ontem que a
denúncia enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o senador —
pela apresentação de notas frias em 2007 — é “extremamente consistente” e
despida de motivações políticas. “O que posso dizer é que foi uma
iniciativa extremamente cuidadosa, extremamente ponderada do Ministério
Público, refletida com o máximo cuidado e extremamente consistente”,
disse Gurgel, ao final da primeira sessão do ano do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP).
Quando a denúncia foi confirmada, no último fim de semana, Renan
Calheiros divulgou uma nota na qual diz que a iniciativa da Procuradoria
Geral tem “natureza nitidamente política”. O caso das notas fiscais
veio à tona em 2007 e foi o ponto final da trajetória de Renan na
presidência do Senado, na época. As notas frias, referentes à venda de
cabeças de gado, foram uma tentativa fracassada para justificar a origem
do dinheiro usado para pagamento de pensão a uma filha de Renan fora do
casamento e, também, para abafar a denúncia de que as contas tinham
sido pagas por um lobista.
Aliados de Renan estranharam o fato de o caso ser retomado justamente
na semana em que o líder do PMDB tenta voltar ao cargo que renunciou
seis anos atrás. “Tenho sempre muito cuidado com isso, mas não posso
ficar subordinado. As pessoas estão sempre concorrendo a cargos. Não
pode ficar o Ministério Público de mãos atadas, subordinado a só
oferecer denúncia quando seja politicamente conveniente”, disse Gurgel.
Ele afirmou que o processo é longo, com aproximadamente 43 volumes, o
que justifica a demora na apresentação da denúncia: o caso chegou à
Procuradoria Geral da República em 2011. Gurgel lembrou ainda que, nesse
período, estava debruçado sobre o inquérito do mensalão. “Isso,
infelizmente, retardou a apreciação não apenas deste, mas de uma série
de outros feitos”, explicou ele.
A tropa de choque de Renan continua cantando vitória — ele teria entre
58 e 63 votos na disputa pelo comando do Senado, segundo cálculos do
grupo — e acredita que a denúncia feita ao STF é insuficiente para tirar
o favoritismo de Renan. Mas o senador sentiu a necessidade de
explicar-se ontem diante de seus pares. Ele aproveitou o almoço
promovido pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP), em homenagem
ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT/RS), para minimizar os danos.
“Vocês sabem que nós, que somos homens públicos, sempre estamos sujeitos
a essas coisas”, disse ele, diante de um grupo de senadores de diversas
legendas.
Candidatura sai hoje
Renan deve oficializar hoje a candidatura à presidência do Senado, após
reunir a bancada de senadores do partido. Ele não levará em conta os
apelos feitos pelo senador Aécio Neves (PSDB/MG), que defendeu a
proporcionalidade, mas sugeriu que o PMDB escolhesse um outro nome para
presidir a Casa. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), vai reunir
a bancada tucana na quinta-feira para fechar o apoio a um candidato
dissidente, possivelmente o pedetista Pedro Taques (MT).
Durante o almoço, Dias garantiu que não tinha nada pessoalmente contra
Renan e que o movimento político que faria seria para garantir mais
espaço para a oposição no Senado, dominado, segundo ele, por aliados do
Palácio do Planalto. Ao Correio, contudo, ele admite que a situação do
grupo não está fácil. “Mesmo com todo esse bombardeio, continuamos tendo
entre 22 e 23 votos praticamente assegurados.”
O cálculo do senador tucano baseia-se no número de assinaturas que a
oposição consegue recolher quando tenta criar uma comissão parlamentar
de inquérito (CPI). Em alguns momentos, com apoio de senadores
descontentes com o governo, esse número pode chegar a 28 ou 29. “Também
lutamos contra outro problema: o voto é secreto, o que sempre deixa
brecha para traições”, reconhece Álvaro.
A exemplo do PMDB, o grupo de dissidentes também fará uma reunião hoje
para tentar fechar uma candidatura única. Os dois postulantes ao cargo,
Pedro Taques (PDT/MT) e Randolfe Rodrigues (PSol/AP), encontraram-se na
noite de segunda-feira e, por enquanto, mantêm a disposição de lançar as
candidaturas. Mas o PSDB já sinalizou que a preferência da bancada
recai sobre o pedetista.
Fonte: Correio Braziliense
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