![]() |
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que respeita a decisão do STF, apesar de não concordar com ela. |
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta
sexta-feira que não vai recorrer da decisão do ministro Joaquim Barbosa,
que negou o pedido de prisão dos condenados no julgamento do mensalão.
Pela assessoria, Gurgel informou que respeita o posicionamento tomado
por Barbosa, apesar de não concordar com ele.
Com a decisão de Barbosa, as prisões só devem ocorrer após o trânsito
em julgado do processo, isto é, quando esgotarem todos os recursos que
serão interpostos pelos advogados dos réus. Como os embargos só poderão
ser feitos após a publicação do acórdão do julgamento, o que só deve
ocorrer em abril, a previsão é que as prisões só ocorram mesmo no fim do
ano que vem ou, pela previsão de Gurgel, em 2014.
Diante disso, acrescentou a assessoria do procurador, Gurgel reforçou a
preocupação com a efetividade da decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) e ressaltou o temor de que se passe muito tempo até que se alcance
o efeito previsto do julgamento.
Negativa
A decisão de Joaquim Barbosa foi divulgada no começo da tarde desta
sexta-feira. Em três páginas, o presidente do STF justifica que o
plenário da corte já decidiu ser "incabível o início da execução penal
antes do trânsito em julgado da condenação, ainda que exauridos o
primeiro e o segundo grau de jurisdição".
Barbosa ainda diz que, em tese, os recursos "embora atípicos e
excepcionalíssimos" à Corte são possíveis de ocorrer e, se bem
sucedidos, poderiam levar à mudança do resultado, "o que a rigor afasta a
conclusão de que o acórdão condenatório proferido pelo Supremo Tribunal
Federal em única instância seria definitivo".
"Há que se destacar que, até agora, não há dados concretos que permitam
apontar a necessidade de custódia cautelar dos réus, os quais, aliás,
responderam ao processo em liberdade. A isso se soma o fato de que já
foi determinada a proibição de os condenados se ausentarem do País, sem
prévio conhecimento e autorização do Supremo Tribunal Federal, bem como a
comunicação dessa determinação às autoridades encarregadas de
fiscalizar as saídas do território nacional", afirmou Barbosa, citando a
apreensão dos passaportes dos condenados.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento
no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal
Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo
ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para
votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe
da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e
perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou
como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e
ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio
Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados
por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por
corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da
República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com
isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três
anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP,
morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do
suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus
sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das
funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles
respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção
ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados
por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O
publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a
ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro
da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por
peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo
por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui
ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio
delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações
finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes.
Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o
irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio
Lamas, ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira
decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o
ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a
corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o
Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o
defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento
de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa
Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
No dia 17 de dezembro de 2012, após mais de quatro meses de trabalho,
os ministros do STF encerraram o julgamento do mensalão. Dos 37 réus, 25
foram condenados, entre eles Marcos Valério (40 anos e 2 meses), José
Dirceu (10 anos e 10 meses), José Genoino (6 anos e 11 meses) e Delúbio
Soares (8 anos e 11 meses).
A Suprema Corte ainda precisa publicar o acórdão do processo e julgar
os recursos que devem ser impetrados pelas defesas dos réus. Só depois
de transitado em julgado os condenados devem ser presos.
Fonte: Terra - Pot Gustavo Gantois
Nenhum comentário:
Postar um comentário