Barbosa diz que abrigar condenados na Câmara é violação da Constituição

Mais cedo, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT/RS),
não descartou a hipótese de acolher os deputados condenados - como a
Polícia Federal, que executa as prisões, não tem autorização para entrar
no Parlamento, eles estariam “a salvo” da cadeia no fim de ano.
Joaquim Barbosa
fez ainda outras críticas ao Legislativo, onde, para ele, há uma
“tirania inconsequente, ignorante, sem noção, como se diz por aí”. Hoje
Barbosa decidirá sobre o pedido do procurador geral da República,
Roberto Gurgel, para a prisão imediata dos condenados. Ele emitiu sinais
contraditórios sobre qual posição vai adotar.
A possibilidade de a Câmara dos Deputados dar abrigo a parlamentares
condenados no processo do mensalão para evitar prisões foi classificada
ontem como "uma violação das mais graves à Constituição" pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal e relator da ação, Joaquim
Barbosa. A declaração foi dada após o presidente da Câmara, Marco Maia
(PT-RS), dizer que não descarta a hipótese de acolher os deputados
condenados, para protegê-los (leia abaixo).
Barbosa fez outras críticas ao Legislativo, no qual haveria a "tirania
do grande número", uma "tirania inconsequente, ignorante, sem noção,
como se diz por aí". O ministro afirmou que os ataques feitos às
decisões do Supremo decorrem de falta de compreensão do sistema
jurídico e de "falta de leitura".
O presidente do STF afirmou que não cabe a uma "autoridade política"
decidir sobre prisão. "A proposição de uma medida dessa natureza, de
acolher condenados pela Justiça no plenário de uma das Casas do
Congresso, é uma violação das mais graves à Constituição brasileira."
Desde que o Suprgmo decidiu pela perda de mandato dos deputados
condenados no processo, Judiciário e Legislativo trocam rusgas pela
imprensa. As divergências se agravaram após liminar do ministro Luiz
Fux impedir a derrubada do veto presidencial na lei dos royalties do
petróleo antes de outros 3 mil vetos serem apreciados pelo Congresso.
Para rebater outra declaração de Maia - a de que é o Congresso quem
nomeia e cassa ministros do STF -, Barbosa classificou-a como fruto de
"desconhecimento puro das instituições". Disse que jamais poderia se
cogitar crime de responsabilidade - hipótese em que o mandato pode ser
retirado - quando um ministro do STF cumpre sua função.
Barbosa observou que a República brasileira é constituída pela
separação de poderes e defendeu o sistema como melhor do que um modelo
que privilegiasse o Legislativo. "Não há tirania maior do que a do
grande número, e essa tirania do grande número, em geral, se
estabelece no Par- " lamento, uma tirania inconsequente, ignorante, sem
noção, como se diz por aí."
Prerrogativas» O ministro refutou acusações de que o STF tenha tomado
prerrogativas do Legislativo. "As pessoas são eleitas para gozarem de
privilégios que não são extensivos ao cidadão comum? Inclusive
privilégios de natureza penal, privilégios consistentes em atacar o
patrimônio público e violar de maneira grave todo sistema de normas do
país. Será que a Constituição confere esse tipo de privilégio?",
questionou. "Isso é falta de compreensão do nosso sistema jurídico
constitucional, falta de leitura, de conhecimento do próprio País, da
Constituição do País."
Barbosa confirmou que vai ser o responsável pela execução penal do
processo do mensalão, definindo onde os condenados pagarão suas penas.
O presidente do STF afirmou que cada ministro tem de estar preparado
para a repercussão das decisões que toma e disse estar "lisonjeado" com
pesquisas de intenção devoto para a Presidência da República que
apontam até 10% para seu nome. "Mas isso, evidentemente, não muda em
nada aquilo que sempre fui, um ser absolutamente alheio a partidos
políticos7", disse. Questionado sobre as críticas de condenados a sua
atuação, foi irônico: "Não discuto com réus meus", afirmou, encerrando
a entrevista.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo
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