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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Relator fica isolado na CPI do Cachoeira

Parlamentares da base e da oposição criticam texto final; temendo rejeição, Odair Cunha adia leitura do documento 


A CPI do Cachoeira corre o risco de chegar ao fim sem ter um relatório aprovado. Integrantes da comissão, de todos os partidos, demonstram, em público e nos bastidores, que se sentem incomodados com o texto final preparado pelo relator, o deputado Odair Cunha (PT/MG). Alguns argumentam que não concordam com o indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, da "Veja", nem com investigação sobre atos do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Outros, sem alarde, discordam do indiciamento de Fernando Cavendish, ex-dono da construtora Delta, embora, publicamente, digam o contrário. Líderes do PMDB diziam que o partido votará contra o relatório.

Ontem, Odair Cunha - que acrescentou os pontos polêmicos em seu parecer após sofrer pressão da cúpula do PT - percebeu que uma maioria se formava na CPI contra seu texto. Por isso, pediu o adiamento da leitura para a próxima quarta-feira. Disse que desejava dialogar com seus colegas para que o relatório reflita o pensamento da maioria da comissão. Mas observou: 

- Tenho limites no diálogo. 

Disse que está disposto a retirar nomes ou incluir outros, sem citar nomes. A decisão do adiamento da leitura do relatório final surpreendeu os parlamentares. Ao chegar à CPI, Odair Cunha disse que leria o documento. Depois, ausentou-se por cerca de 20 minutos e, na volta, anunciou sua intenção. 

- Estamos trabalhando para derrotar o parecer do relator. Este relatório não dá para salvar - disse o deputado Miro Teixeira (PDT/RJ). 

O senador Ricardo Ferraço (PMDB/ES) já adiantou que votará contra o parecer de Odair Cunha: 

- Devíamos aprofundar as investigações, a quebra de sigilos.

É um relatório insano. 

Na avaliação de alguns parlamentares, mesmo que Odair Cunha retire as menções ao jornalista e ao procurador-geral, haverá dificuldades para votar o parecer. Um deputado, que não quis se identificar, disse que alguns de seus colegas viram no indiciamento de Policarpo e no pedido de investigação contra Gurgel a desculpa para votar contra o relatório, embora o que desejam impedir é o indiciamento de Cavendish. 

Os parlamentares que conversaram com o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), foram orientados a não apoiar o relatório. A alegação é que o partido foi surpreendido pelo teor do texto e não foi consultado sobre o indiciamento do ex-dono da Delta. 

O deputado Carlos Sampaio (PSDB/SP) discordou do adiamento:  

- A investigação foi pessoal, direcionada e restrita. Só foram poupados os aliados, e atacados com veemência aqueles que a sanha persecutória do ex-presidente Lula determinou. Vamos adiar por quê? Não tem segurança para lê-lo?
Grupo de cachoeira se rearticula e mantém jogo.


A organização criminosa chefiada por Carlinhos Cachoeira conseguiu se rearticular após a prisão do bicheiro e manteve a exploração da jogatina ilegal durante os quase nove meses de detenção do contraventor. Casas de bingo migraram de cidades do entorno do Distrito Federal para Brasília. Em Goiânia, máquinas caça-níqueis também foram apreendidas após a Operação Monte Carlo, deflagrada em 29 de fevereiro, e identificadas como pertencentes a Cachoeira. O site de apostas estruturado pelo grupo continuou a faturar e a arrecadar para o chefe, afirma o Ministério Público Federal, em seu novo pedido de prisão preventiva protocolado na Justiça Federal em Goiás, uma semana antes da soltura do bicheiro. Para o MP, a liberdade de Cachoeira permitirá o "seguimento a todo negócio espúrio", em razão da sua "rede de contatos". 

O contraventor deixou o Presídio da Papuda, em Brasília, na madrugada de quarta-feira e foi para sua casa, num condomínio de luxo em Goiânia. No mesmo dia da soltura, determinada pela Justiça do DF, a Justiça Federal em Goiânia oficiou a defesa de Cachoeira e de cinco integrantes de sua organização que se manifestem sobre o pedido de prisão preventiva feito pelo MP. 

Os advogados terão dez dias para dar uma resposta ao juiz federal Alderico Rocha Santos, que só então decidirá sobre o novo pedido de detenção. Diante do risco de fuga, o magistrado determinou a entrega dos passaportes dos seis acusados à Justiça e a proibição de viajarem para o exterior, além da obrigação de pedirem autorização judicial para deixar as cidades onde moram. 

Em liberdade, Cachoeira continuou a receber visitas de parentes e amigos. Ontem, saiu de carro com a mulher, Andressa. Anteontem, um oficial de Justiça intimou o bicheiro sobre a decisão que o obriga a entregar o passaporte. O prazo é de 48 horas; Cachoeira tem até as 18h de hoje para apresentar o documento. O prazo que conta é o processual, que considera o horário de funcionamento da vara. Ele já foi intimado sobre a proibição de deixar o país.
 
Fonte: O Globo - Por Chico de Gois

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