O
Movimento do Ministério Público Democrático (MPD) está promovendo a
campanha “Não Aceito Corrupção”, que busca envolver a população e
incentivar a denúncia de casos de corrupção em todas as esferas da
sociedade. “O propósito é muito mais amplo. Queremos mudar a cultura de
combate à corrupção de cada cidadão”, explica o coordenador da campanha,
Roberto Livianu.
"Esta campanha pretende fazer um alerta a todos os brasileiros,
chamando-os a atuar mais democraticamente e exercer seu direito de
cidadão, com ênfase na devastação social que a corrupção produz e
continuará a produzir se nada fizermos", afirma Livianu. ...
O processo para qualquer cidadão é simples: as denúncias referentes à
corrupção devem ser realizadas no site especificamente criado para a
campanha e encaminhadas a cada um dos Ministérios Públicos Estaduais. A
identificação não é obrigatória e a gestão das informações recebidas
caberá ao Ministério Público destinatário. ...
Em ano eleitoral, que já contou com a instauração da CPI contra o
bicheiro Carlinhos Cachoeira e o julgamento do Mensalão, o objetivo do
MPD é levar uma mensagem impactante sobre os males e os impactos da
corrupção no Brasil, que podem ser conferidos nos dois vídeos da
campanha.
Composta por dois filmes para TV e cinema, anúncios de jornal, spots de
rádio, banners de internet e mensagens em aeroportos, a campanha é
veiculada em todo o país.
Em um dos filmes, intitulado "Bebê", um bebê saudável tem todas as suas
vestes e pertences retirados e acaba no chão de uma rua movimentada,
sem nada e ninguém para ajudá-lo. Já o outro filme, denominado "Mãos",
mostra como a corrupção impacta as pessoas comuns, mostrando uma criança
indignada, jogando baldes de água nos corruptos.
Segundo Augusto Diegues, diretor da Flag Comunicação, idealizadora dos
vídeos, o maior desafio de campanhas como esta é ativar a capacidade de
indignação das pessoas.
"Infelizmente, as pessoas parecem anestesiadas pelo aparente tom de
normalidade que o tema conquistou após décadas de escândalos. Nosso
trabalho buscou sensibilizar a sociedade, de modo simples e direto, para
o verdadeiro desastre causado pela corrupção", esclarece Diegues.
Segundo Livianu, a repercussão da campanha tem sido extraordinária.
“Muitas pessoas têm tido acesso aos vídeos, que são bastante
explicativos e impactantes. Assim, eles têm se multiplicado com grande
rapidez e chegado a diversos estados no país”, afirmou.
A internet tem sido cada vez mais utilizada para criar mecanismos de
denúncias de fácil manejo para a população. Antigamente, denunciar
pagamentos de propina passava por instâncias como repartições públicas,
longos processos jurídicos, caros advogados e dezenas de formulários e
carimbos.
Hoje, com um email, alguns cliques ou uma mensagem de texto, é possível
em poucos segundos fazer denúncias de todo o tipo também em outros
sites como I Paid a Bribe (“Eu paguei propina”, www.ipaidabribe.com), a
plataforma que produz mapas Ushahidi (www.ushahidi.com) e o próprio
Contas Abertas, que recebe e investiga suspeitas de irregularidades e
denúncias de corrupção no governo.
No Contas Abertas, muitas das demandas vêm de acadêmicos e jornalistas,
mas há uma crescente participação por parte do cidadão comum, que cada
vez mais quer monitorar contas de sua prefeitura. Livianu também destaca
o recorrente aumento das denúncias, principalmente com a participação
da população mais jovem.
“Ficamos sabendo de um caso extremo de retorno aos nossos vídeos. Uma
criança de sete anos, moradora de Curitiba, chamou a atenção pai ao
questionar se a corrupção “matava crianças”. Ela concluiu que isso era
muito ruim para o mundo”, conta.
“A juventude está mudando as táticas do ativismo anticorrupção. Eles
trazem consigo um incrível entusiasmo por tecnologias móveis e novas
mídias, como vídeos”, disse Heather Leson, uma das diretoras da
Ushahidi, à BBC Brasil. “Esses jovens ativistas agora atuam e
compartilham, ininterruptamente, em redes sociais. Assim, eles não
precisam mais usar arquivos em PDF de 50 páginas para lutar contra a
corrupção. Estão livres disso”, concluiu.
É justamente esse fortalecimento do cidadão comum o principal trunfo da
plataforma Ushahidi, de que ela é diretora. O projeto foi criado como
resposta ao caos que tomou conta do Quênia após as eleições de 2008. Um
mapa com os focos de violência no país foi criado com base nas
informações enviadas pela população, via telefone, SMS ou e-mail.
Fonte: Veja Online
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