Fred
Elias de Souza, ex-gerente de Negócios do Banco do Nordeste e autor das
denúncias que derrubaram a cúpula do banco, afirma que não vale a pena
dizer o que sabe no Brasil
NOVAS ACUSAÇÕES O funcionário do Banco
do Nordeste Fred de Souza. Suas denúncias levaram à renúncia de
dirigentes do Banco do Nordeste |
Em setembro de 2011, Fred Elias de Souza procurou o Ministério Público
Estadual do Ceará com o objetivo de levar ao conhecimento do promotor
Ricardo Rocha fraudes que havia descoberto em empréstimos do Banco do
Nordeste (BNB). No começo de junho deste ano, ÉPOCA revelou que uma
auditoria interna do banco e outra da Controladoria Geral da União
haviam constatado que as denúncias iniciais de Souza eram procedentes e
que existiam vários outros empréstimos fraudulentos no banco. Só a
auditoria interna do BNB mostrou que 24 empresas lesaram a instituição
em mais de R$ 100 milhões apenas em Fortaleza, apresentando notas
fiscais falsas ou usando laranjas para justificar empréstimos no banco.
Duas semanas após a publicação, quase toda a cúpula do Banco do Nordeste
já havia sido trocada. ...
Quase cinco meses depois, o autor das denúncias que derrubaram funcionários da alta cúpula, gerentes e técnicos, afirma que se arrependeu. “Não vale a pena um cidadão combater a corrupção no Brasil”, diz. Segundo ele, sua vida se tornou um “inferno” após as denúncias. “Nunca pensei que não somente a minha vida, quanto a da minha família, ia se tornar a mais completa e miserável situação que uma pessoa pode viver”. Em setembro do ano passado, o promotor pediu ao banco que providenciasse segurança a Fred de Souza. Ele negou. Desde então, escapou de um tiro na rua e foi perseguido de moto duas vezes. Trabalha, desde o fim de 2011, da meia-noite às 7h, avaliando o trabalho dos atendentes do Serviço de Atendimento ao Cliente do Banco.
Souza responde na Justiça da Bahia por uma das denúncias que fez, ainda não comprovada pelos órgãos de fiscalização, e diz não ter condições de bancar os gastos com sua defesa. “Estou tranquilo quanto a essa comprovação, mas, sinceramente, não tenho como arcar com tantas despesas”, diz. Ele reclama de falta de reconhecimento pelas revelações que fez. “Arrependo-me, pois o ônus da moralidade e combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e não há nenhum reconhecimento e ajuda”.
ÉPOCA - Como era sua vida antes de procurar o Ministério Público e fazer as denúncias de irregularidades no banco? Qual era seu cargo no banco?
Quase cinco meses depois, o autor das denúncias que derrubaram funcionários da alta cúpula, gerentes e técnicos, afirma que se arrependeu. “Não vale a pena um cidadão combater a corrupção no Brasil”, diz. Segundo ele, sua vida se tornou um “inferno” após as denúncias. “Nunca pensei que não somente a minha vida, quanto a da minha família, ia se tornar a mais completa e miserável situação que uma pessoa pode viver”. Em setembro do ano passado, o promotor pediu ao banco que providenciasse segurança a Fred de Souza. Ele negou. Desde então, escapou de um tiro na rua e foi perseguido de moto duas vezes. Trabalha, desde o fim de 2011, da meia-noite às 7h, avaliando o trabalho dos atendentes do Serviço de Atendimento ao Cliente do Banco.
Souza responde na Justiça da Bahia por uma das denúncias que fez, ainda não comprovada pelos órgãos de fiscalização, e diz não ter condições de bancar os gastos com sua defesa. “Estou tranquilo quanto a essa comprovação, mas, sinceramente, não tenho como arcar com tantas despesas”, diz. Ele reclama de falta de reconhecimento pelas revelações que fez. “Arrependo-me, pois o ônus da moralidade e combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e não há nenhum reconhecimento e ajuda”.
ÉPOCA - Como era sua vida antes de procurar o Ministério Público e fazer as denúncias de irregularidades no banco? Qual era seu cargo no banco?
Fred de Souza - Era tranquila, tanto no trabalho quanto em casa. Tudo era só rotina. Gerenciava uma carteira de pessoa física em um Posto de Atendimento dentro da Administração do Banco, só atendia funcionários. Era uma maravilha. Quando acabava, ia para casa ficar com minha mulher e meus três filhos.
ÉPOCA - O que mudou depois que suas denúncias chegaram ao Ministério Público?
Souza - Foi como se eu tivesse aberto as portas do inferno e pedido pra entrar. Nunca poderia imaginar a dimensão do problema e a legião de pessoas envolvidas nas fraudes. Muito menos o montante envolvido, tanto internamente quanto fora do Banco, nunca pensei que não somente a minha vida, quanto a da minha família iria se tornar daí por diante a mais completa e miserável situação que uma pessoa pode viver. Sem intenção, arrastei todos comigo, e o preço está sendo muito caro. O promotor, Dr. Ricardo Rocha, chegou a me oferecer o programa de proteção à testemunha, mas não pude aceitar, preferi enfrentar aqui mesmo as consequências.
ÉPOCA - O que aconteceu após as publicações das reportagens que mostravam as constatações da Controladoria Geral da União e da auditoria interna do banco, em Fortaleza e em Limoeiro, com relação às suas denúncias?
Souza - Foi excelente. Todos no Ceará e em grande parte do Brasil tomaram conhecimento do que estava acontecendo no BNB, os horrores que a antiga administração se esforçava em esconder tornaram-se públicos. Isso me deixou em paz, quanto às ameaças e atentados a mim e minha família que já tínhamos passado. Elas cessaram, muitos dos envolvidos souberam que eu não estava só, já que tudo estava sendo apurado por MPE, MPF, Polícia Federal, CGU, Banco Central. Não dependia mais de mim.
ÉPOCA - O que o sr. esperava que acontecesse?
Souza - Esperava principalmente que todos os pilantras do banco que se prestaram a servir à roubalheira e os que se locupletaram fossem identificados e respondessem pelos desvios. Como também que os falsos empresários que lesaram o BNB pagassem por seus crimes e devolvessem o que foi surrupiado. Sei que é impossível reaver todos esses valores, mas acredito nas instituições que apuram o caso. Pena que ainda vai demorar bastante pra se concluir todas as fraudes.
ÉPOCA - O sr. denunciaria tudo novamente?
Souza - Não vale pena um cidadão combater a corrupção no Brasil. Tenho de me cercar de cuidados inimagináveis quanto à segurança minha e de meus familiares, mesmo tendo provado ao denunciar as irregularidades e viver 24 horas em sobressaltos. Estou sendo processado criminalmente por um dos irmãos Meira, que até pouco tempo ocupava a Superintendência do BNB da Bahia. Terei que responder na Justiça da Bahia minhas acusações. Sei que temos que responder por nossas atitudes, estou tranquilo quanto a essa comprovação, tanto que a Direção do BNB retirou o irmão dele do cargo. Mas, sinceramente, não tenho como arcar com tantas despesas. Trabalho no BNB desde os 15 anos, estou há 30 anos lá, só sei fazer isso, ser bancário. E espero me aposentar um dia por lá. Quero ver sempre a Instituição forte e merecedora do papel que lhe foi atribuída, que é de servir e desenvolver a região Nordeste. Eu me arrependo, pois o ônus da moralidade e combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e não há nenhum reconhecimento e ajuda.
ÉPOCA - O que sr. espera da nova diretoria do banco? Acredita que algo vai mudar?
Souza - Espero que a desvinculação política do BNB seja mantida e cada vez mais aprimorada. Espero também que os envolvidos já identificados sejam exemplarmente punidos e afastados e que os demais envolvidos ainda ocupantes de cargos importantes também sejam exonerados, pois há muitos casos dessas pessoas que não foram arroladas ou apontadas por falta de interesse. Mas eu os conheço. E, por fim, quero dizer que nada fiz por visar cargo ou alguma outra premiação, já que só tenho gasto e despesas do pouco que me sobra e um simples reconhecimento da Instituição pelos serviços prestados já nos bastaria.
ÉPOCA – O sr. pretende continuar no banco ou procurar outro emprego?
Souza - Sim. Como falei, só aprendi na vida a ser bancário. Quero ficar no Banco, gosto muito dele. Mas só não gostaria de ficar execrado, e eternamente no limbo, trabalhando sozinho, à noite, como fui forçado a ir. Não fui eu que pedi pra sair do meu posto de trabalho.
Fonte: ÉPOCA.com - Por Leopoldo Mateus
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