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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Nuvem da cassação que cobre Câmara respingará no Buriti?

Benedito, Aylton e Raad, mosqueteiros a serviço do cardeal, não do rei.
Benedito, Aylton e Raad, mosqueteiros a serviço do cardeal, não do rei.

Três fortes aliados do Palácio do Buriti estão a caminho do cadafalso. O peso da cassação ronda os deputados Benedito Domingos (PP), Raad Massouh (PPL) e Aylton Gomes (PR). E o governador Agnelo Queiroz, que acaba de emergir de uma profunda crise política, teme que a perda desses mandatos faça desabar as densas nuvens negras que voltam a cobrir seu gabinete.

A temida tempestade que se avizinha não se restringirá à Câmara Legislativa, avaliam atentos observadores da política brasiliense. É consenso geral que Benedito, Raad e Aylton têm segredos guardados. E ao sentirem que a guilhotina deixa de ser ameaça para se transformar em realidade, começam a mandar recados imperativos ao comandante da aliança que governa o Distrito Federal aos trancos e barrancos.

Para lembrar um jargão popular, os três distritais estão com a corda no pescoço. E não escondem o incômodo com o assunto. O trio enfrenta investigações céleres na Justiça. Os assuntos vão da alçada eleitoral à criminal, passando por improbidade administrativa e peculato.

O temor maior é que, por privarem da intimidade palaciana e da residência oficial de Águas Claras, onde costumam ser recebidos com sorrisos e afagos, Benedito, Raad e Aylton, sendo cassados, associarão seus pecados diretamente a Agnelo Queiroz. E o governador, que mal tem tempo de respirar, sentindo os respingos ainda úmidos da cachoeira do contraventor goiano, estará na obrigação de prestar mais esclarecimentos à sociedade.

Não se sugere aqui nenhuma ilação. São fatos observados por quem faz, vive e respira política na capital da República. Não vem ao caso se um dos três candidatos à perda de mandato errou ontem. O problema é que, por ter errado, continua a receber afagos. Os outros dois também estão em situação igual ou pior.

Sem que caiba aqui mencionar a ordem de probabilidade de cassação de cada um desses aliados do Buriti, sabe-se que a situação é de desespero. Também, quem manda confiar demais em um assessor até então próximo, mas que agora conta aos quatro cantos o perrengue que pode se aproximar do chefe?

Quem fala pelos cotovelos e com quem não deve, paga a conta. As provas são tão chocantes, que o processo corre em segredo de justiça. E Aylton, vendo o fogo crescer, não consegue que bombeiro algum saia em seu socorro. A semana é do peixe, mas não é todo mundo que sonha repor três mil garoupas batendo em porta de bode velho.

Outra história associada a mais um aliado de Agnelo – e que é comentada nos diferentes pontos cardeais de Brasília – diz respeito ao personagem que aparenta ser temente a Deus, mas que mesmo assim foge dos dogmas da Bíblia.  Benedito é flagrado em conversas que delas até o Todo Poderoso duvida.

O pastor que se faz de coadjuvante no Legislativo andou pedindo muito, em alto e bom som, para que o Senhor ilumine seu plano de conseguir ampliar seus dízimos. E como as paredes dos templos são frágeis, os templários que ouvem passam adiante o que ouviram, em busca de uma confirmação que virá quando a cassação for decretada.

Enquanto Agnelo emerge da cachoeira, águas turvas afogam Raad em um poço com o fundo enlameado. O deputado que se passa por secretário dos micros, mas que pensa para si sempre grande, vê voltarem os fantasmas que assombraram seu mandato nos tempos do Democratas. A teia formada por seus parentes e funcionários é a prova que a justiça precisava para denunciá-lo, inclusive por prevaricação.

Quando se aventurou a fazer política partidária, Agnelo foi informado que o jogo é sujo, mas preciso. Hoje, o alerta de pessoas próximas a ele e ao vice Tadeu Filippelli, sinaliza com a necessidade de os suplentes sejam agradados. Tudo para não correrem o risco de verem os substitutos ingressarem no Legislativo sem um discurso afinado com o Buriti. Seria um risco muito grande para o Palácio.

Ninguém sabe ao certo que rumos tomarão os distritais de mandatos-tampão após as cassações de Benedito, Raad e Aylton. Se dançarem no ritmo da batuta de Agnelo, menos mal. Porém, se houver uma debandada, se saírem de plaga em plaga em busca de novas sagas, é sinal que as chuvas e trovoadas que se aproximam com o fim da estiagem terão um volume de águas maior que qualquer cachoeira.

Isso incomoda muito ao Palácio do Buriti. Por essas e outras, é melhor adiar o tanto que der a abertura das ações. Ou ao menos tentar, porque o tempo, faça chuva ou faça sol, é o Senhor da razão. Salvo se a guilhotina for mais rápida. Nesse caso, não haverá remédio para estancar a sangria vermelha.

Fonte: Notibras - Publicado em 19 de Setembro de 2012 por José Seabra

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