Segundo integrantes do STF, ex-diretor da Polícia Federal e da Abin, Paulo Lacerda estaria recolhendo e distribuindo informações contra o ministro Gilmar Mendes; acusado nega; ele caiu da Abin num episódio que envolveu Gilmar
Claudio Julio Tognolli_247 - O ex-presidente do Supremo,
Ministro Gilmar Mendes, disse nesta terça-feira que são “bandidos” os
que passam informações a seu respeito ao ex-presidente Lula. Não são
bandidos: é gente bem qualificada, suspeitam os ministros.
O PT teria montado há pouco mais de quinze dias uma central de
informações para distribuir, na mídia eletrônica e no twitter,
informações contra ministros do Supremo que capitaneiam votos de
condenação aos ditos mensaleiros. Participam dessa central, além de
redatores midiáticos, um publicitário, dois advogados classicamente
aliados ao PT, e de pouco nome na praça.
Mas quatro ministros do STF foram informados que duas pessoas bem
manjadas na Polícia Federal estariam levantando dados sobre a mais alta
corte do país: o ex-diretor do órgão, delegado Paulo Lacerda, e seu
ex-patrão: o advogado Rodolpho Ramazzini, da Associação Brasileira de
Combate à Falsificação (ABCF). Ramazzini tem bom nome na mídia: é ele a
apontar sempre que 85% dos pirateados que chegam ao Brasil são cópias
fabricadas na China.
Na semana passada, três dias antes de Veja eclodir com as diatribes
de Gilmar Mendes contra o ex-presidente Lula, Paulo Lacerda estava lá,
em Brasília. Era um ouvinte, um teleguiado do PT, para o evento do
lançamento de uma publicação no Superior Tribunal de Justiça. Chegou
mudo e saiu calado. Foi trajando seu habitual paletó poule de cocq e
sapatenis preto. Ficou ao lado de uma cortina, contra a parede. Após dez
minutos hirto, numa posição que alguns classificaram de totêmica, teve
de fazer enfim o seu solitário “shake hands” da noite: seu outro
ex-chefe, o ex-ministro da justiça Marcio Thomaz Bastos, foi-lhe prestar
mesuras. Ficaram lá os dois, como Cosme e Damião, isolados no cenário
das cortinas bufantes. Não tinha quem não olhasse.
Paulo Lacerda aufere hoje cerca de RS$ 20 mil mensais como consultor
de uma federação do ramo de segurança privada. E também investiu-se com
seu ex-patrão, o advogado Ramazzini, na urdidura encomendada pelo PT:
levantarem tudo o que podem contra o ministro Gilmar Mendes e contra o
PSDB. Mais pra frente, pediu o PT, ficam os dois com o encargo de pegar
também o ministro Marco Aurélio, do STF. Esse é o informe coletado pelos
ministros. Mas ninguém lhes deu prova material de que tudo isso pode
ser verdade.
Uma única vertente é fato: Paulo Lacerda tem Gilmar atravessado na
garganta: desde que este conseguiu derrubá-lo da direção da PF. Gilmar
brandiu ao ex-presidente Lula a história de um grampo no STF. Caiu
Lacerda. O grampo jamais surgiu. Opositores de Gilmar chamam ao episódio
de “o grampo sem áudio.
Antes de virar o diretor da PF, sob boa parte da octaetéride de Lula,
Paulo Lacerda fazia levantamentos para Rodolpho Ramazzini, da
Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF). Tal militância
fez com que os dois, Lacerda como diretor, Ramazzini como “informante do
bem”, como era conhecido na PF de São Paulo, fossem responsáveis pelas
maiores operações da PF.
Só para lembrar: as operações da PF aumentaram quinze vezes durante o
governo Lula. Pularam, por exemplo, de 16 em 2003 para 143 até agosto
de 2009. De 2003 para 2010 o número de funcionários da PF pulou de 9.231
para 14.575, um crescimento de 58%. Lula botou nas ruas, na maioria das
vezes sob Marcio Thomas Bastos, 1.244 operações, o que representa 25
vezes mais do que as 48 tocadas pela PF no governo Fernando Henrique
Cardoso.
Não tenha dúvida que Lacerda e Ramazzini foram os czares da maior
parte disso. Ramazzini era quem mostrava quais lojas deveriam ser
estouradas, quais empresas, quais cervejarias, quais manufaturas e
semi-manufaturas. Lacerda agradecia. “Quase tudo já chegava pronto em
pastas, entregues na superintendência da Lapa de Baixo, com fotos
acondicionadas, dicas, tudo”, diz um agente. Ramazzini era um xamã: suas
dicas rendiam operações da PF republicana com altas doses de octanagem
midiática.
Lacerda e Ramazzini foram também os maiores informantes oficiais do ex-deputado Medeiros, na CPI da Pirataria tocada em 2003. (Confira aqui)
Agora os dois estão de volta, cochicharam aos ministros. Mas há um
terceiro elemento que lhes ajudaria, e muito: o ex-superintendente da PF
em São Paulo, Jaber Makul Saad – aliás ano passado comissionado como
analista-informante judicial adivinhem de que escritório? Do de Márcio
Thomaz Bastos.
Gilmar disse ainda que Lacerda tinha como missão lhe destruir (leia aqui).
Em entrevista para o Estadão, Lacerda negou que presta assessoria
para o PT e disse que o ministro Gilmar Mendes está desinformado. (Leia aqui)
Fonte: Brasília 247 - 30 de Maio de 2012 às 08:40
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